Gustave Flaubert
Gustave Flaubert nasceu em 12 de dezembro de 1821, em Rouen, cidade francesa. Com 14 anos de idade, apaixonou-se por uma mulher casada. Esse amor platônico serviu como inspiração para a sua obra Memórias de um louco. No entanto, sua obra-prima é Madame Bovary, romance que inaugurou o Realismo na França.
Nesse livro, é possível perceber características do estilo tais como a objetividade, o antirromantismo e a crítica sociopolítica. Mas, apesar de ser considerado hoje a principal obra do Realismo europeu, em sua época, o livro sofreu censura, foi considerado imoral, e seu autor foi processado, fato que só contribuiu para o sucesso da obra.
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Biografia de Gustave Flaubert
Gustave Flaubert é um escritor francês nascido em 12 de dezembro de 1821, na cidade de Rouen. Com 14 anos, apaixonou-se por Élisa Schlésinger (1810-1888), uma mulher casada a quem dedicou um amor platônico durante muitos anos e que serviu de inspiração para algumas de suas obras, como Memórias de um louco, de 1838.
O pai de Flaubert era médico, mas tinha a ambição de ter um filho advogado. Assim, por desejo dele, o autor iniciou a faculdade de Direito, na Universidade de Paris, em 1842. Porém, o jovem escritor tinha mais interesse na vida boêmia parisiense do que nos estudos, o que fez com que fosse mal nos exames.
Por volta de 1844, enfrentou alguns problemas de saúde, como alucinações, desmaios e ataques epiléticos. Então, mudou-se para Croisset — um povoado às margens do Rio Sena —, onde iniciou seu tratamento. Para complicar a situação, o pai do escritor morreu em 1846 e, nesse mesmo ano, faleceu também a irmã de Flaubert, ao dar à luz uma menina.
Entre 1849 e 1852, o romancista viajou ao Egito, Jerusalém, Constantinopla e Itália. Ao fim dessa viagem, ele se dedicou à escrita do romance Madame Bovary. Publicada em folhetim, no ano de 1856, essa obra provocou um grande escândalo, e seu autor teve que enfrentar um processo por imoralidade, do qual foi absolvido.
O fato acabou beneficiando o autor e seu livro, pois Madame Bovary foi um grande sucesso e se tornou a principal obra do Realismo mundial. Assim, dez anos depois, o escritor foi condecorado Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra do governo francês. Mas, a partir de 1872, começou a enfrentar problemas financeiros e, no final da vida, manteve-se apenas com uma mesada de bibliotecário honorário da biblioteca Mazarine.
Morreu em 8 de maio de 1880, devido a uma hemorragia cerebral, e foi enterrado no Cemitério Monumental de Rouen. Deixou, no entanto, uma obra inacabada — Bouvard e Pécuchet. Nesse livro, o autor ironiza a ciência ao evidenciar a grande ignorância e limitação humanas.
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Estilo literário de Gustave Flaubert
Gustave Flaubert é o principal nome do Realismo francês. Assim, suas obras possuem características como:
- antirromantismo;
- ausência de idealizações;
- objetividade;
- análise dos comportamentos coletivos;
- olhar crítico sobre a realidade sociopolítica;
- fluxo de consciência;
- análise psicológica;
- crítica à elite burguesa;
- temática do adultério.
Obras de Gustave Flaubert
- Paixão e virtude (1837)
- Memórias de um louco (1838)
- Novembro (1842)
- Madame Bovary (1857)
- Salambô (1862)
- A educação sentimental (1869)
- As tentações de Santo Antão (1874)
- Três contos (1877)
- Bouvard e Pécuchet (1881)
→ Madame Bovary
O romance Madame Bovary é o principal representante do Realismo francês e mundial. A sua visão antirromântica chocou o(a) leitor(a) da época, acostumado(a) a histórias melodramáticas e de caráter idealizador. Assim, Emma Bovary entrou para a história da literatura como símbolo de insatisfação.
A publicação da obra escandalizou a sociedade da época devido à sua temática: o adultério. Uma mulher casada que se envolve amorosa e sexualmente com outros homens era uma personagem escandalosa demais para os padrões conservadores de meados do século XIX.
Emma é uma mulher romântica que, ao se casar com o médico Charles Bovary, não consegue encarar a realidade monótona do casamento burguês. Seu marido, um médico sem ambição, é incapaz de oferecer à esposa as aventuras de um livro romântico. Ela vive, então, uma vida tediosa e sem nenhum encantamento.
Charles não é comparável aos heróis românticos, é um ser humano medíocre, como a maioria daqueles de sua classe. Porém, Emma foi “educada” pela literatura romântica e não se mostra madura o bastante para aceitar a sua realidade. Isso acaba gerando em nós leitores(as) sentimentos contraditórios: desprezo pela fraqueza moral da personagem e compaixão pela sua infelicidade.
Após o casamento, Emma Bovary encontra a depressão. Portanto, os seus dois amantes são uma forma de ela buscar a felicidade prometida nos folhetins da época. Dessa maneira, a atitude da personagem não é, de fato, imoral, mas uma questão de sobrevivência — ao contrário do que pensava o Estado conservador da época, que processou Gustave Flaubert por imoralidade.
Emma Bovary, na verdade, tenta consertar um “erro” do destino, pois não pode aceitar da vida menos do que a felicidade impossível. Mas, para ela, essa felicidade não está em um casamento com um homem convencional nem na maternidade. Quando Berthe — a filha dos Bovary — nasce, a infelicidade de sua mãe só faz aumentar.
O primeiro amante de Emma Bovary é Léon Dupuis. Quando eles se conhecem, ela se apaixona. No entanto, o caso entre os dois só vai assumir características de adultério mais tarde, depois que seu romance com o segundo amante — Rodolphe Boulanger — acaba. Isso porque Léon, não suportando mais a cidadezinha em que vivem, prefere tentar a sorte em Paris.
Já o relacionamento com Rodolphe provoca escândalo na cidade, pois os amantes não se preocupam em disfarçar o relacionamento. Apesar disso, Charles Bovary não fica sabendo do caso. Ao final, Rodolphe abandona Emma. Essa desilusão amorosa faz com que ela entre novamente em depressão.
A protagonista, então, faz mais uma tentativa de ser feliz quando reencontra Léon e inicia um caso com ele. Dessa vez, no entanto, é Emma quem se cansa do amante. Convencida de que não pode lutar contra a realidade, a esposa de Charles Bovary se mata. Só então, ele descobre que foi traído por ela.
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Frases de Gustave Flaubert
A seguir vamos ler algumas frases irônicas de Gustave Flaubert, extraídas de seu Dicionário das ideias feitas, tradução de Cristina Murachco.
- “‘Eu não sou ambicioso!’ quer dizer egoísta ou incapaz.”
- “Antiguidades são sempre de fabricação moderna.”
- “Uma aparência agradável é o mais seguro dos passaportes.”
- “O que os artistas fazem não pode ser chamado de trabalho.”
- “Deve-se ‘conhecer alguns autores’; é inútil saber os seus nomes.”
- “Cirurgiões têm o coração duro: deve-se chamá-los de açougueiros.”
- “Toda mulher deve cornear seu marido.”
- “Se soubéssemos como é feito nosso corpo, não ousaríamos fazer um único movimento.”
- “Tudo o que é antigo é desgastado pelo tempo, e tudo o que está desgastado é antigo.”
- “Os outros têm deveres para conosco, mas não temos nenhum para com eles.”
Crédito da imagem
[1] L&PM (reprodução)