Romance
Romance é um gênero textual que consiste em uma narrativa longa, escrita em prosa. Seu surgimento e popularidade remete ao século XVIII, quando ele tomou o lugar das epopeias (longas narrativas em verso).
Por tratar-se de uma narrativa, o romance possui uma ação, lugar onde ela ocorre, tempo em que ela acontece, personagens que a realizam, uma trama e um ponto de vista, isto é, a perspectiva do narrador.
Os tipos de romance são:
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monofônico,
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polifônico,
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fechado,
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aberto,
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linear ou progressivo,
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vertical ou analítico,
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psicológico.
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Conceito de romance
Tudo indica que o termo “romance” tem origem na palavra “romanice”, cujo significado está relacionado a qualquer obra escrita em romanço (língua falada nas regiões ocupadas pelos romanos). Porém, foi a partir do século XVIII que o termo “romance” começou a ser utilizado com a acepção que conhecemos hoje, isto é, uma narrativa longa, escrita em prosa. Portanto, o romance e o romantismo surgiram ao mesmo tempo e parece terem sido feitos um para o outro.
Ao contrário dos poemas épicos, o romance surgiu para representar pessoas comuns e ser o reflexo do povo. Dessa forma, é um gênero textual que, segundo o crítico Massaud Moisés, foi porta-voz das ambições, desejos e vaidades da burguesia em ascensão, além de servir como fuga da realidade. Era, então, um espelho idealizado dessa classe. Na atualidade, a burguesia não é mais a única classe a ser representada nas obras de autores e autoras contemporâneos.
Principais características do romance
O romance é uma narrativa longa, escrita em prosa e possui a seguinte estrutura:
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Ação: série de acontecimentos que se combinam para formar o enredo da obra.
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Lugar: espaços físicos em que transcorre a ação.
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Tempo: o “quando” da ação, as datas dos acontecimentos, ou mesmo a duração dos fatos narrados:
- Tempo cronológico: a ação respeita o tempo físico, isto é, a sequência de segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos. Assim, o tempo transcorre com regularidade, com linearidade.
- Tempo psicológico: não está relacionado ao espaço, mas ao interior, à mente das personagens. É, portanto, o tempo mental, do pensamento, em que presente, passado e futuro às vezes anulam-se.
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Personagens: realizam a ação:
- Personagem plana: comum e previsível.
- Personagem redonda ou esférica: complexa e imprevisível.
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Trama: a história narrada, o enredo.
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Ponto de vista: foco narrativo, a perspectiva de quem narra:
- Narrador personagem (em primeira pessoa): participa da história.
- Narrador observador (em terceira pessoa): narra apenas o que ele observa.
- Narrador onisciente ou onipresente (em terceira pessoa): possui total conhecimento dos fatos narrados e das personagens.
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Tipos de romance
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Romance monofônico
O foco narrativo está sobre uma personagem, o protagonista:
“Aos dias difíceis, que tenho passado no correr dos tempos, sempre se sucederam dias repousantes, sem problemas, durante os quais todos os fantasmas se desvanecem e os velhos temas torturantes deixam a tona da consciência, [...].”
O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos.
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Romance polifônico
O foco narrativo está sobre várias personagens. Um exemplo é o romance Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso (1912-1968), que concede o protagonismo a várias personagens, como é possível verificar, por exemplo, nos primeiros cinco capítulos da obra:
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Diário de André (conclusão).
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Primeira carta de Nina a Valdo Menezes.
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Primeira narrativa do farmacêutico.
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Diário de Betty (I).
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Primeira narrativa do médico.
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Romance fechado
O narrador fornece todas as informações, não deixa espaço (abertura) para a imaginação dos leitores:
“E só me resta chegar rapidamente ao desenlace desta narração singular com a qual tratei de conseguir que o leitor compartilhasse os medos escuros e as vagas conjecturas que ensombreceram, durante tantas semanas, nossas vidas e que concluíram de maneira tão trágica. Na manhã seguinte se levantou a névoa e a senhora Stapleton nos levou até o lugar onde ela e seu esposo tinham encontrado um caminho praticável para penetrar no pântano. [...]. Holmes afundou-se até a cintura ao sair do caminho para pegá-lo [um objeto escuro], e se não estivéssemos ali para ajudá-lo, nunca voltaria a colocar o pé em terra firme. O que levantou no ar foi uma bota velha de cor preta. “[...]” estava impresso no interior do couro.|1|”
O cão dos Baskerville, de Arthur Conan Doyle.
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Romance aberto
Nem tudo é expresso, o narrador deixa lacunas a serem preenchidas pelos leitores. Como, a misteriosa acusação que sofre Josef K., personagem do romance O processo, de Franz Kafka (1883-1924):
“Alguém devia ter caluniado Josef K., pois, sem que tivesse feito mal algum, ele foi detido certa manhã. A cozinheira da senhora Grubach, sua senhoria, que lhe trazia o café da manhã todos os dias bem cedo, por volta das oito horas, desta vez não aparecera.|2|”
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Romance linear ou progressivo
Os acontecimentos que formam o enredo são mais importantes do que a reflexão:
“O senhor Sherlock Holmes, que sempre se levantava muito tarde, exceto nas ocasiões nada raras em que não dormia por toda a noite, estava tomando o café. Eu, que me achava de pé perto da chaminé, agachei-me para pegar a bengala esquecida por nosso visitante da noite anterior. [...]. Era exatamente a classe de bengala que costumavam levar os antigos médicos de cabeceira: digna, sólida e que inspirava confiança.
— Vejamos, Watson, a que conclusões chega?”|1|
O cão dos Baskerville, de Arthur Conan Doyle.
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Romance vertical ou analítico
A ação é auxiliar, no contexto geral da obra, pois o principal objetivo é refletir sobre o impacto dessa ação nas personagens:
“Quaresma viveu lá, no manicômio, resignadamente, conversando com os seus companheiros, onde via ricos que se diziam pobres, pobres que se queriam ricos, sábios a maldizer da sabedoria, ignorantes a se proclamarem sábios; [...].
Saiu o major mais triste ainda do que vivera toda a vida. De todas as coisas tristes de ver, no mundo, a mais triste é a loucura; é a mais depressora e pungente.
Aquela continuação da nossa vida tal e qual, com um desarranjo imperceptível, mas profundo e quase sempre insondável, que a inutiliza inteiramente, faz pensar em alguma coisa mais forte que nós, que nos guia, que nos impele e em cujas mãos somos simples joguetes.”
Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.
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Romance psicológico
Está centrado no funcionamento da mente humana, nos pensamentos do narrador ou das personagens, na forma como eles entendem o mundo exterior. É caracterizado, portanto, pela análise psicológica e pelos fluxos de consciência. Assim, ao contrário do romance vertical ou analítico, ele não está condicionado à ação, pois a reflexão, a análise está voltada para o mundo íntimo, os sentimentos e memórias do narrador ou personagens:
“[...], primeiro porque travava conhecimento com a cunhada (e quem sabe por que meios, por que secretas afinidades conseguiria transformá-la numa aliada?), segundo porque, no íntimo, devia tramar alguma coisa contra os irmãos. Ah, essa raça de Meneses era bem minha conhecida. No entanto, de pé, procurava em vão imaginar por que aquela visita lhe causava um tão extraordinário prazer. Que secreta partida jogava ele, [...]?”
Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso.
Notas
|1| Tradução (de edição em espanhol) para o português: Warley Souza.
|2| Tradução de Marcelo Backes.