Aluísio Azevedo
Aluísio Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão, no dia 14 de abril de 1857. Era filho de um vice-cônsul português, David Gonçalves de Azevedo. Na infância, gostava de desenhar e de pintar, dons que lhe auxiliariam, anos mais tarde, em sua produção literária.
Após concluir seus estudos preparatórios na capital maranhense, Aluísio mudou-se com o irmão para a capital do Rio de Janeiro, em 1876, onde ingressou na Academia Imperial de Belas Artes. Durante esse período, atuou como colaborador caricaturista em jornais como O Fígaro, Mequetrefe, Zig-Zag e A Semana Ilustrada.
Em 1878, com o falecimento do pai, Aluísio retornou a São Luís do Maranhão para contribuir com o sustento da família. Nesse período, abandonou momentaneamente os desenhos para se dedicar à produção literária. Em 1879, publicou sua primeira obra: Uma lágrima de mulher.
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Aluísio Azevedo: o autor das massas
De volta ao Rio de Janeiro e com sérias dificuldades financeiras, Aluísio Azevedo passou a escrever, incessantemente, romances, contos, crônicas e peças de teatro para sobreviver, uma tarefa bastante complicada em um país de muitos analfabetos e poucos leitores.
Durante esse período, o autor publicou diversas obras, entre as quais estão Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890), considerada por muitos estudiosos e admiradores como sendo sua obra-prima. Com a publicação dessas obras, Aluísio Azevedo passou a ser conhecido como “o autor das massas”, pois seus livros tematizaram alguns dos problemas enfrentados pelas classes mais baixas da sociedade brasileira, bem como a animalização do homem em certas circunstâncias e situações da vida.
Leia um trecho de O cortiço e observe a maneira impiedosa e natural como o autor descreve o amanhecer no cortiço:
III
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.
Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saiam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.
Obras de Aluísio Azevedo
- Uma Lágrima de Mulher, romance
- O Mulato, romance
- Mistério da Tijuca ou Girândola de Amores, romance
- Memórias de um Condenado ou A Condessa Vésper, romance
- Casa de Pensão, romance
- Filomena Borges, romance
- O Homem, romance
- O Cortiço, romance
- O Coruja, romance
- A Mortalha de Alzira, romance
- Demônios, contos
- O Livro de uma Sogra, romance
- O Japão
- O Touro Negro, crônicas e epistolário
- Os Doidos, peça
- Casa de Orates, peça
- Flor de Lis, peça
- Em Flagrante, peça
- Caboclo, peça
- Um Caso de Adultério, peça
- Venenos que Curam, peça
- República, peça
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O mulato: a primeira obra naturalista da literatura brasileira
Em 1881, período de grande efervescência abolicionista, lançou o romance naturalista O mulato, o qual foi mal recebido pela provinciana sociedade maranhense em virtude do modo direto e realista como tratava o preconceito e as atrocidades vividas pelos escravos negros no Brasil. Apesar da rejeição de seus conterrâneos, a obra foi bastante admirada pelos leitores da corte, os quais consideraram a obra de Aluísio um exemplar da corrente literária/artística Naturalismo.
Pouco tempo antes de publicar O mulato na corte, Aluísio promoveu uma inteligente e eficiente campanha publicitária no jornal A pacotilha. O autor publicou uma notícia no jornal anunciando a chegada de um advogado à cidade, o que, na verdade, era o personagem central do romance O mulato.
Leia um trecho da falsa notícia:
“Dr. Raimundo José da Silva, distinto advogado que partilha de nossas ideias e propõe-se a bater os abusos da Igreja. Consta-nos que há certo mistério na vida desse cavalheiro”.
(FARACO, Carlos. O povo como personagem. In: AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ática, 1992. p. 8.)
A campanha foi um sucesso, despertou a curiosidade do público e foram vendidos dois mil exemplares da obra, fato inusitado para a época.