A origem do verbo “judiar”

A origem do verbo “judiar” é controversa. Contudo, a versão mais provável associa a palavra ao extermínio dos judeus durante o Holocausto na Alemanha nazista.
O verbo “judiar”, corriqueiro na modalidade oral, costuma ser alvo de polêmicas entre os gramáticos

Você já parou para pensar na origem de algumas palavras que usamos em nosso dia a dia? É claro que utilizamos a língua de maneira espontânea e nem sempre refletimos sobre o significado real de certas expressões que, em razão do uso corriqueiro, acabam cristalizando-se na fala e também na escrita. Mas existe um vocábulo em nossa língua portuguesa que costuma despertar a curiosidade de muitas pessoas: estamos falando do verbo judiar.

Todos nós sabemos do que se trata a palavra judiar, já que a empregamos quase que inadvertidamente em nosso cotidiano. Ainda assim, vale uma rápida consulta no Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, que nos traz a seguinte definição:

Judiar: Verbo transitivo indireto. Usar de judiação; maltratar.

Vamos conferir também o significado da palavra judiação?

Judiação: Substantivo feminino. Maus-tratos.

Agora que você sabe o significado exato do verbo judiar, que tal conhecer a sua origem?

O verbo judiar é formado pela palavra “judeu” mais o sufixo “iar”. Portanto, judiar significa “tratar como os judeus foram tratados”, ou seja, “maltratar”. Quem conhece um pouquinho de História entende exatamente a carga semântica da palavra, já que durante a Segunda Guerra Mundial o Holocausto na Alemanha exterminou milhões de pessoas de ascendência judaica. Especula-se, portanto, que a conotação que hoje damos ao verbo em questão tenha essa origem.

Há também outra possibilidade que remete o verbo judiar a Judas, um dos doze apóstolos que, conforme a narrativa bíblica, teria entregado Jesus a seus algozes. É sabido que no sábado de aleluia muitos fiéis, seguindo a tradição popular, malham ou queimam um boneco que representa Judas, ato que simboliza a morte daquele que, de acordo com algumas religiões, é a representação máxima da traição.

A primeira possibilidade, que relaciona o verbo judiar ao extermínio de judeus na Alemanha nazista, é a mais provável e também a mais difundida. Seria, portanto, razoável a permanência em nosso vocabulário de uma palavra que carrega em si uma carga supostamente depreciativa? Bom, o fato é que muitos estudiosos da linguagem consideram politicamente incorreto o verbo judiar e, por esse motivo, aconselham os falantes a evitá-lo. Mas será que o povo judeu sente-se ofendido com a carga semântica do verbo?

No livro “Os porquês do Judaísmo”, o rabino norte-americano Henry Sobel, um dos maiores líderes da comunidade judaica do Brasil e aqui radicado há mais de quarenta anos, fala sobre o verbo judiar e seu pretenso sentido pejorativo:


Para a comunidade judaica, o verbo “judiar” não apresenta sentido pejorativo.

Há quem diga que a discussão em torno do verbo judiar é estritamente gramatical e, pensando sob esse aspecto, não há nada que impeça seu uso. Alguns gramáticos defendem sua extinção por considerá-lo desrespeitoso e ofensivo, mas é mister ouvir e pensar nas palavras do rabino: ele, como parte interessada na discussão, tem autoridade para falar sobre a pertinência do uso do verbo e, como vimos, Henry Sobel e a comunidade judaica não atribuem sentido pejorativo à palavra.

Viu só? Não é mesmo interessante a origem da palavra “judiar”? Essa análise nos mostra que as palavras também têm história!

Publicado por Luana Castro Alves Perez
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