Silepse e a concordância

A silepse, também conhecida como concordância ideológica, pode ser classificada em três tipos: silepse de gênero, número e pessoa.
A silepse está comumente associada à ideia de erro gramatical, o que não é, necessariamente, uma verdade

Você que estuda sobre a língua portuguesa provavelmente já deve ter ouvido falar na famosa e polêmica figura de construção chamada silepse. Mas, afinal, por que a silepse costuma gerar tantas dúvidas nas concordâncias nominal e verbal? Façamos uma análise.

A silepse é uma palavra de origem grega, variante do latim syllepse, que significa “ação de compreender”. Na silepse, uma palavra discorda de outra, ou seja, não se subordina sintaticamente a ela, deixando-se combinar e concordar com uma ideia associada a essa palavra. É por isso que dizemos que a silepse contraria a concordância formal e lógica, pois preocupa-se em realizar uma concordância ideológica, sofrendo contaminação da significação de palavras ou expressões. A silepse pode ocorrer de três maneiras: silepse de gênero, número e pessoa.

* Silepse de gênero: nota-se que na silepse de gênero haverá discordância entre os gêneros gramaticais, ou seja, entre feminino e masculino de artigos e dos substantivos, substantivos e adjetivos etc. Acontece porque, em muitos casos, o gênero dos substantivos é uma questão gramatical, e não natural. Contudo, se há uma questão de sexo, nesse caso há um gênero específico. Observe os exemplos:

Rio de Janeiro é animada.

(Observe que o adjetivo animada está concordando com a ideia de cidade, elemento que está subentendido na oração).

A Dutra é perigosa.

(“Dutra” é um substantivo do gênero masculino, contudo, por estar subentendida a palavra avenida, a concordância foi feita no feminino).

* Silepse de número: ocorre quando o sujeito é um coletivo e o verbo passa a fazer a concordância no plural. Observe o exemplo:

O público chegou cedo para assistir ao show e, devido à demora na abertura dos portões, começaram a forçar a entrada, o que gerou confusão.

(Observe que “público” é um substantivo singular com ideia de plural, por isso, no período seguinte, a forma verbal “começaram” está no plural.)

* Silepse de pessoa: ocorre quando há discordância entre o sujeito expresso e a pessoa verbal. Observe os exemplos:

O brasileiro, somos patriotas.

(Observe que a flexão verbal somos está concordando com o pronome nós, que não está expresso na oração).

A gente fomos ao shopping.

(A expressão “a gente” é um substantivo singular com ideia de plural, por isso, no período seguinte, a forma verbal “fomos” está no plural. Essa construção, no entanto, é inadmissível na linguagem escrita).

Para você pensar sobre o tema e reconsiderar aquilo que até então acreditava estar errado — mas que agora se tornou compreensível através do estudo da silepse — uma sábia reflexão do escritor brasileiro, Ferreira Gullar:

"Significa que tudo está certo e que minha antiga professora de português, que me ensinou a fazer análise lógica e gramatical das proposições em língua portuguesa, era uma louca, uma vez que a língua não tem lógica como ela supunha e a gramática é de fato um instrumento de repressão; perdeu seu tempo dona Rosinha ensinando-me que o verbo concorda com o sujeito, e os adjetivos com os substantivos, como também concordam com estes os artigos...

Publicado por Luana Castro Alves Perez
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