Máquinas criptográficas da Segunda Guerra Mundial
Sabe-se que desde o início da modernidade muitos dos benefícios advindos do desenvolvimento da ciência moderna e do desenvolvimento tecnológico foram aplicados sistematicamente em guerras. Com o advento da Revolução Industrial, sobretudo a partir da Segunda Revolução Industrial, levada a cabo no século XIX, houve o nascimento de vários campos industriais. Um desses campos foi a indústria bélica (indústria de armas). No século XX, as duas guerras mundiais atestaram o peso da tecnologia no campo de batalha, mas também fora dele.
A criação da tecnologia criptográfica e cifragem de informações foi um dos campos que alimentaram a guerra sem estar presente nos campos de batalhas. As máquinas criptográficas, usadas para decodificar informações da inteligência militar inimiga, foram uma das mais impressionantes estratégias vistas na Segunda Guerra Mundial.
Dois modelos de máquinas criptográficas praticamente “duelaram” durante a Segunda Guerra, a “Enigma”, usada pelos nazistas, e a “Ultra”, usada pelos ingleses. Os nazistas assimilaram o modelo “Enigma” de inventores austríacos, principalmente de Arthur Sherbios, que, em 1918, havia desenvolvido uma série de máquinas com rotores cifrantes capazes de produzir mensagens secretas a parir de combinações únicas. Essas máquinas foram compradas pela marinha alemã e aperfeiçoadas nas décadas de 1920 e 1930.
Na década de 1940, no desenrolar da guerra, os britânicos, liderados por Winston Churchill, ao saberem do uso da máquina “Enigma” pelos alemães, elaboraram o projeto “Ultra” com um grupo de matemáticos poloneses. Esse projeto resultou em uma máquina ainda mais sofisticada que o modelo “Enigma” e que era capaz de interceptar e decodificar as mensagens desta última. A participação de Alan Turing, que depois criou aquele que foi considerado o primeiro computador do mundo, foi decisiva para o projeto “Ultra”.
Nesse clima de duelo criptográfico, em que cada informação era valiosíssima para dar fim à guerra, há historiadores que apontam o fato de Churchill destacar muitos de seus batalhões direto para as armadilhas nazistas a fim de que estes acreditassem que o segredo da “Enigma” não tinha ainda sido decifrado. Dessa forma, havia um sacrifício necessário para proteger o segredo sobre a decodificação dos segredos operada pela “Ultra”, como apontou Jean Marabin:
“Churchill não dirá que concordou com esse sacrifício, entre outros, para proteger a segurança de Ultra. Todo o seu pensamento está voltado para um objetivo supremo, o desembarque, a fim de derrubar a Alemanha nazista e penetrar primeiro em Berlim. Os homens de Canaris talvez pensem com razão que estão colaborando para o renascimento da Alemanha. A história se faz sobre milhões de cadáveres. É um gigantesco jogo de logros, que começa igualmente à custa de milhões de alemães.” [1]
NOTAS:
[1] MARABINI, Jean. Berlim no tempo de Hitler. São Paulo: Companhia das Letras/ Círculo do Livro, 1989. p. 121.
[2] DAVIES, Norman. A Europa em Guerra (1939-1945). Lisboa: Edições 70, 2008. p. 56.