5 de maio – Dia da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona
O Dia da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona, instituído pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), é comemorado em 5 de maio. Essa homenagem ao idioma e à cultura de origem portuguesa é um reconhecimento à relevância da língua e dos traços culturais partilhados por aqueles países que têm com Portugal uma relação histórica, já que sofreram um processo colonizador por essa antiga metrópole e incorporaram muitos de seus traços lusófonos. Esses traços somaram-se à cultura e à língua dos povos originários, constituindo, assim, um rico panorama cultural e linguístico distinto, mas, ao mesmo tempo, com elementos comuns.
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Quando surgiu e o que se comemora no Dia da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona?
O Dia Internacional da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona, comemorado em 5 de maio, surgiu em 2009. Essa data foi instituída pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que é formada pelos seguintes países: Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste.
Comemora-se, nesse dia, a quinta língua mais falada no mundo, a terceira mais falada no Ocidente e a mais falada no Hemisfério Sul: a língua portuguesa. Partilhada por nove países, essa língua é um traço cultural e identitário que os unifica em torno de uma mesma matriz linguística.
Assim, apesar de cada um desses países ter suas peculiaridades históricas, sociais, étnicas e políticas, a comemoração da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona é uma tentativa de ressaltar-se o espírito comunitário entre povos que têm traços idiomáticos e culturais que os irmanam e, portanto, podem despertar um sentimento de cooperação mútua.
Atividades no Dia da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona
Anualmente, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ao longo do mês de maio, realiza uma série de eventos para comemorar-se, nos países-membros, o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona, a exemplo de conferências, exibição de filmes e documentários temáticos etc.
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Obras artísticas que homenageiam a língua portuguesa
Língua portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
(BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1964. p. 262.)
Língua
Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
Minha pátria é minha língua
Fala Mangueira! Fala!
Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?
Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E (xeque-mate) explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet, Moon, de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
E Maria da Fé
Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?
Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(Será que ele está no Pão de Açúcar?
Tá craude brô
Você e tu
Lhe amo
Qué queu te faço, nego?
Bote ligeiro!
Ma'de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
I like to spend some time in Mozambique
Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem
(Caetano Veloso. Albúm Velô, de 1984)
Minha pátria é a língua portuguesa
[…] Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.
(Livro do desassossego, por Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa. Vol. I.)