Arcadismo

Influenciado pelo avanço industrial europeu e pelo Iluminismo, o Arcadismo, que aconteceu no século XVIII, valorizou o pensamento racional, além da simplicidade estética.
Páginas do romance “O Uruguai”, de Basílio da Gama.

O Arcadismo, Setecentismo ou, ainda, Neoclassicismo foi o estilo literário predominante no século XVIII. Presente em diversos lugares do mundo, teve importância fundamental em Portugal e no Brasil.

Inspirados por valores greco-latinos, os escritores árcades exaltavam a harmonia e o culto à beleza clássica. Além disso, o contexto histórico do Arcadismo é contemporâneo ao Iluminismo, à ascensão da burguesia e ao declínio da monarquia absolutista.     

Contexto histórico

O século XVIII teve acontecimentos históricos fundamentais para compreender o Arcadismo. Alguns deles são:

  • queda das monarquias absolutistas pelo mundo;
  • ascensão da burguesia;
  • desenvolvimento técnico e tecnológico;
  • forte êxodo rural;
  • investimentos em educação em massa;
  • ampliação da população urbana.

Acesse também: Conheça o movimento literário que sucedeu o Arcadismo.

Características

As principais características do Arcadismo são a valorização da razão e a retomada dos valores greco-latinos, tais como os seguintes preceitos:

  • Inutilia truncat (cortar o inútil): Em oposição ao movimento Barroco, que continha uma linguagem complexa, rebuscada e, em muitos casos, paradoxal, o Arcadismo exaltava uma poesia simples, clara e direta.
  • Locus amoenus (lugar ameno): Diferentemente da cidade, o campo era considerado o lugar ideal para se viver e, por isso, os poetas exaltavam o ambiente rural em seus versos.
  • Fugere urbem (fugir da cidade): Para os árcades, era necessário fugir do ambiente urbano para atingir a plenitude e a felicidade.
  • Carpe diem (aproveitar o dia): O mais famoso preceito latino que influenciou o Arcadismo exalta a necessidade de se viver o presente, pois, conforme escreve o poeta Tomás Antônio Gonzaga, “para nós o tempo, que se passa, também [...] morre”.
  • Aurea mediocritas (equilíbrio do ouro): Segundo esse preceito, o homem deve buscar viver com simplicidade, sem supérfluos.

Arcadismo X Barroco

O movimento árcade opõe-se ao Barroco na medida em que esse último representa um indivíduo em crise, dividido entre a Igreja e a Ciência renascentista e marcado por fatos históricos como a Contrarreforma.

Por outro lado, o homem árcade é marcado pelo Iluminismo e, por isso, reverencia a razão como sendo o valor humano mais elevado, afastando-se dos dogmatismos da religião.

Leia também: Saiba mais sobre o Barroco, o movimento literário oposto ao Arcadismo

Principais autores do Arcadismo no Brasil e em Portugal

O Arcadismo foi um movimento amplo que teve manifestações em diversos países europeus e no Brasil. Em Portugal, o principal autor foi Bocage. Veja, a seguir, um poema do autor:

Retrato próprio

Magro, de olhos azuis, carão moreno,

Bem servido de pés, meão na altura,

Triste da facha, o mesmo de figura,

Nariz alto no meio, e não pequeno.

Incapaz de assistir num só terreno,

Mais propenso ao furor do que à ternura;

Bebendo em níveas mãos por taça escura

De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades

(Digo, de moças mil) num só momento,

E somente no altar amando os frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;

Saíram dele mesmo estas verdades

Num dia em que se achou mais pachorrento.

(Bocage)

Já no Brasil, autores como Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Santa Rita Durão e Basílio da Gama são leituras essenciais. Leia, abaixo, um poema de Cláudio Manuel da Costa:

Soneto XXVI

Não vês, Nise, este vento desabrido,

Que arranca os duros troncos? Não vês esta,

Que vem cobrindo o céu, sombra funesta,

Entre o horror de um relâmpago incendido?

Não vês a cada instante o ar partido

Dessas linhas de fogo? Tudo cresta,

Tudo consome, tudo arrasa, e infesta,

O raio a cada instante despedido.

Ah! não temas o estrago, que ameaça

A tormenta fatal; que o Céu destina

Vejas mais feia, mais cruel desgraça:

Rasga o meu peito, já que és tão ferina;

Verás a tempestade, que em mim passa;

Conhecerás então, o que é ruína.

(Cláudio Manuel da Costa)

Publicado por Fernando Marinho
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