Reportagem

A reportagem é um gênero textual do universo jornalístico que apresenta características que nos possibilitam diferenciá-la de outro gênero: a notícia.
A reportagem tem por objetivo tratar de um fenômeno social ou acontecimentos produzidos no espaço público que são de interesse geral

Os gêneros textuais estão intrinsecamente relacionados com os atos de fala. Para cada situação comunicacional, seja ela oral ou escrita, existe um gênero que melhor se adapta às necessidades dos falantes da língua portuguesa. Como estão a serviço da comunicação, e por ser a comunicação algo dinâmico e variável, os gêneros não são estruturas fixas, como são os tipos textuais, mas ainda assim guardam em si características que possibilitam sua identificação.

Isso quer dizer que existem características estilísticas e temáticas que permitem a sistematização dos gêneros, caso contrário, estudá-los seria uma tarefa árdua e improfícua. Pensando nisso, falemos um pouco sobre os gêneros textuais do universo jornalístico e sobre a importância de estabelecer as diferenças entre eles. Os textos desse nicho costumam ser bastante acessados no dia a dia, mas nem sempre nós, leitores, percebemos os elementos que os constituem.

Hoje vamos falar sobre um gênero textual muito comum em revistas e jornais: a reportagem. Muitas pessoas não conseguem diferenciar a reportagem da notícia, e o assunto costuma dividir opiniões até mesmo dos estudiosos do assunto. Contudo, existem alguns parâmetros que possibilitam o entendimento das ações discursivas realizadas em cada um dos gêneros citados. Vamos conhecê-los?

Características da reportagem

Podemos dividir os gêneros do universo jornalístico em dois grandes grupos: os gêneros que pertencem ao jornalismo opinativo e os gêneros que pertencem ao jornalismo informativo. Os textos que se enquadram em jornalismo opinativo têm como função emitir opinião, isto é, apresentar para o leitor juízos de valores do autor do texto, isso feito de maneira explícita. Os textos do jornalismo informativo não têm como objetivo opinar, apenas informam, noticiam acontecimentos pontuais, corriqueiros. A reportagem está entre os textos do primeiro grupo;

A reportagem, embora estabeleça uma inquestionável relação dialógica com a notícia, não deve ser vista como uma extensão desta. É, pois, um gênero autônomo, com características que possibilitam sua distinção. A reportagem não se prende à cobertura de um fato, isto é, ela não apresenta caráter noticioso, portanto, eis a principal diferença existente entre os dois gêneros;

A reportagem tem como objetivo informar a respeito de um assunto, contudo, o faz de maneira diversa da notícia. O assunto conduzido pela reportagem nem sempre está relacionado com temas do momento, pois pode tratar de um fenômeno social ou acontecimentos produzidos no espaço público que são de interesse da coletividade. Para Patrick Charaudeau, teórico que estuda os discursos da mídia, a “reportagem jornalística trata de um fenômeno social ou político, tentando explicá-lo.”;

A reportagem apresenta elementos que não são encontrados na notícia, entre eles, levantamento de dados, entrevistas com testemunhas e/ou especialistas, análise detalhada dos fatos, recurso da polifonia (a voz do autor “convive” com outras vozes presentes no texto), o equilíbrio entre os discursos direto e indireto e a assinatura do jornalista. Esses elementos fazem com que a reportagem seja um gênero mais extenso do que a notícia e, por esse motivo, sua publicação restringe-se à revista (eletrônica ou física) e em edições especiais de jornais (como edições de finais de semana e feriados), visto que demandam maior tempo de leitura.

Agora que você já conhece os principais elementos que constituem a reportagem, observe os exemplos e tente estabelecer as diferenças entre reportagem e notícia. Bons estudos!

Reportagem:

Universidade de São Paulo diz não às cotas raciais
por Wanderley Preite Sobrinho 

Enquanto todas as universidades federais e 30 das 38 estaduais aderem à reserva de vagas, a Universidade de São Paulo fala em “meritocracia”

Foi necessário um vídeo gravado às escondidas em uma sala da Universidade de São Paulo (USP) para que a discussão sobre cotas raciais na maior universidade do Brasil ganhasse as redes sociais em março. Na filmagem, um bate-boca colocava de lados opostos um grupo de ativistas negros – que interrompeu uma aula para discutir o tema – e alunos brancos mais interessados em aprender microeconomia em uma sala da FEA (Faculdade de Economia e Administração) com 100 estudantes e apenas um negro.A filmagem viralizou e, 2,5 milhões de acessos depois, sobrou a pergunta: por que a universidade resiste às cotas raciais?

A USP e a Universidade de Campinas (Unicamp) decidiram adotar o sistema de bônus, quando alunos de baixa renda recebem uma pontuação extra nas provas do vestibular – até 15% no caso da USP, desde que nunca tenham estudado em escola particular. Somente em 2014 outra universidade paulista, a Unesp (Universidade Estadual Paulista), passou a adotar cotas sociais e raciais: já no primeiro ano, a proporção de matriculados egressos de escolas públicas foi de 40,7%.

O resultado é que 32% dos estudantes da USP aprovados no vestibular de 2014 saíram do ensino público. Com isso, a quantidade de pretos, pardos e indígenas subiu de 14% para 17% do total de alunos. A opção contrasta com a de pelo menos 30 das outras 36 universidades estaduais brasileiras, que, desde 2003, passaram a reservar vagas como parte de uma política de inclusão social.

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Em nível federal, a discussão começou em 1996, quando o Ministério da Justiça promoveu um seminário batizado de “Multiculturalismo e Racismo: o Papel da Ação Afirmativa nos Estados Democráticos Contemporâneos”. Em 2001, o Brasil aderiu ao Plano de Ação de Durban (África do Sul), ocasião em que o então presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu publicamente que o País ainda é racista e que o Estado precisa adotar políticas públicas para alterar essa realidade.

Uma ação concreta, no entanto, só em 2012, quando – motivado pelas universidades estaduais – o governo Dilma Rousseff assinou a Lei 12.711, determinando que as federais distribuíssem 50% de suas vagas entre quatro subcotas: candidatos egressos de escolas públicas; de escolas públicas com baixa renda; candidatos pretos, pardos e indígenas (PPIs) de escolas públicas e PPIs de escolas públicas e baixa renda.

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Coordenador do Gemaa e professor de Ciência Política da UERJ e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, João Feres Júnior afirma que a quantidade de pretos e pardos nas universidades mais do que triplicou entre 2012 (ano da lei) e 2014, ao saltar de 13 mil para 43 mil estudantes. Mas ele admite a dificuldade em colher essas informações por simples falta de dados. “É preciso trazer transparência a esses números.”

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Por enquanto, suas pesquisas indicam que a evasão escolar de cotista é menor ou maior dependendo da universidade e que o desempenho, em 43 carreiras pesquisadas, é um pouco menor entre os cotistas: nota 8,5% abaixo da média. Mas, nas carreiras com predominância de matérias exatas, essa diferença pode chegar a 73%. Outra pesquisa, agora na UERJ, indicou que as notas de cotistas da turma de 2005/2009 era muito similar às dos não cotistas. Em Medicina e Administração, a nota dos beneficiários foi ligeiramente superior em alguns anos.

Para o pesquisador, a inclusão de cotistas divide a opinião dos gestores das universidades. Enquanto aqueles que pregam “eficiência” tendem a rejeitar as cotas, esse sistema passa a ser “defensável” quando “o gestor entende que o desempenho deva ser sacrificado para a promoção da igualdade”.

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Questionada pela reportagem sobre sua preferência pela concessão de bônus, a USP respondeu que seu sistema “foi aprovado pelo Conselho Universitário em 2006 e tem como premissa principal a meritocracia”. As boas notícias chegam da pós-graduação: em março a congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) aprovou uma política de cotas para pretos, pardos, deficientes e indígenas no programa na pós em antropologia social.

A proposta, que ainda precisa da aprovação de um órgão da Pró-Reitoria de Pós-Graduação, segue os passos da Unicamp, outra universidade paulista sem cotas. No dia 11 do mês passado, a congregação de pós-graduação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas também aprovou cotas étnico-raciais, mas também precisa do aval da reitoria para validar os cursos.

Mesmo que tímido, o anúncio pode ser um alento para alunos como Renan Silva, o único negro em uma sala de cem pessoas na FEA. “Eu sou exceção, fiz escola particular. Sempre me senti pouco representado e acho que a USP precisa se adaptar para fazer jus à quantidade de negros na sociedade”. A população brasileira é composta por 50,7% de pretos e pardos e 47,7% de brancos, informa o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Disponível em Carta Capital. Acesso em 22/04/15.

Notícia:

Defensores de cotas na USP protestam; reitor sai escoltado

Reunião do Conselho Universitário termina em confusão depois que alunos do Movimento Negro teriam sido impedidos de protocolar pedido de adoção de política de cotas; reitor precisou da Guarda para deixar evento

A reitoria da Universidade de São Paulo (USP) divulgou nota à comunidade universitária em que classificou como “violenta” a forma com que servidores e alunos teriam interrompido, na terça-feira, reunião do Conselho Universitário. O reitor Marco Antonio Zago deixou o evento cercado por seguranças da universidade.

O centro da confusão foi a tentativa do conselho votar a reforma do estatuto da universidade sem aceitar protocolo feito por alunos pertencentes ao Movimento Negro. Eles queriam que fosse incluída na revisão a adoção da política de cotas, da qual a USP não é adepta.

A reunião aconteceria na Reitoria, onde fica o Conselho, mas foi transferida para a sede do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem), na própria Cidade Universitária, para onde os alunos e servidores se deslocaram.

A revisão do estatuto teve início ano passado, segundo a USP, com “foco especial na estrutura de poder e nos seus mecanismos de governança”. Entre os tópicos abrangidos pelo processo de revisão, estão temas como “gestão, transparência e responsabilidade fiscal” da instituição, além de “eleição de dirigentes” e “natureza, atribuições e composição dos colegiados”. A revisão de carreiras e regimes de trabalho e a de autonomia de unidades ou órgãos da universidade também estão incluídas no processo.

“A ampla participação de toda a comunidade uspiana será estimulada com reuniões e debates nos campi, nas unidades e departamentos”, diz texto da assessoria da USP.

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Disponível em Notícias.Terra. Acesso em 22/04/15.

Publicado por Luana Castro Alves Perez
Sociologia
O que é capacitismo?
Forma de preconceito contra pessoas com deficiência, o capacitismo é um problema social complexo e recorrente. Para saber mais, assista à nossa nova videoaula de Sociologia.
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