Fosfoetanolamina sintética e a polêmica cura do câncer

A fosfoetanolamina sintética é uma substância utilizada na fabricação da famosa “pílula do câncer” e promete a cura para essa doença que mata milhares todos os anos.
A “pílula do câncer”, apesar de não ter sido testada, era distribuída como uma forma de cura para a doença

Em 2015, um “medicamento” ganhou os noticiários e gerou grande debate em todo o país a respeito do uso de produtos sem os devidos testes. A distribuição de fosfoetanolamina sintética, também conhecida como “pílula do câncer”, foi interrompida, o que causou grande revolta em pacientes com câncer, desencadeando uma série de processos judiciais para liberar novamente o produto.

O que é a “pílula do câncer”?

A “pílula do câncer”, como ficou conhecida a cápsula com fosfoetanolamina sintética, é um produto desenvolvido por Gilberto Chierice, um pesquisador, hoje aposentado, da Universidade de São Paulo (USP) do campus de São Carlos. Esse produto, segundo o pesquisador, facilita a ação do sistema imunológico e ajuda na cura do câncer.

O produto foi distribuído por mais de 20 anos, gratuitamente, na própria Universidade, entretanto, nenhum teste com humanos foi realizado nesse período. Por não ter passado pelos devidos testes, a substância não possui eficácia comprovada e, muito menos, são conhecidos os efeitos colaterais advindos da administração do produto. Diante disso, em 2014, a USP emitiu uma portaria determinando que a substância não poderia mais ser entregue.

Necessidade de testes com humanos e avanços no estudo sobre fosfoetanolamina

A “pílula do câncer” foi distribuída por muito tempo para pessoas com cânceres difíceis de serem tratados, e muitos afirmam que obtiveram melhora. Entretanto, sem a realização de testes, não é possível afirmar que essas melhorias ocorreram realmente em virtude da administração da substância. Assim sendo, os testes são fundamentais para avaliar a eficácia do tratamento.

Além disso, quando uma pessoa faz uso da fosfoetanolamina, ela não pode prever se terá ou não um efeito colateral. Apesar de ser usada, muitas vezes, como a última alternativa na luta contra o câncer, não se pode piorar a qualidade de vida do paciente, fazendo com que ele sofra com os efeitos do câncer e, também, com os efeitos do medicamento.

Assim sendo, avaliar os efeitos da fosfoetanolamina é extremamente importante antes que ela seja usada pela população. Apesar de se conhecer a dor decorrente de um tratamento de câncer, não se pode expor um paciente a um produto sem segurança comprovada.

Testes com fosfoetanolamina

Após decisões judiciais e uma pressão maciça da população, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) decidiu investir 10 milhões de reais em pesquisas sobre a fosfoetanolamina sintética. Os estudos foram iniciados, e os testes iniciais, divulgados em março de 2016, revelaram pouca eficácia da substância.

Ao analisar a “pílula do câncer”, o primeiro problema encontrado foi a concentração abaixo do indicado de fosfoetanolamina. Enquanto se esperava encontrar 500 mg de fosfoetanolamina sintética, observou-se que a pílula possuía apenas entre 233 mg e 368 mg da substância. Além da fosfoetanolamina, foram encontrados água, monoetanolamina protonada, fosfobisetanolamina e fosfatos de cálcio, magnésio, ferro, manganês, alumínio, zinco e bário, substâncias que não eram indicadas no rótulo.

Observou-se ainda que a fosfoetanolamina sintética não apresenta capacidade de destruir células tumorais (ação citotóxica) e nem de impedir seu crescimento (ação antiproliferativa). A monoetanolamina, no entanto, apresentou pequena atividade contra as células tumorais, mas em níveis muito baixos.

Vale destacar, no entanto, que, como as pesquisas foram realizadas com materiais in vitro, testes in vivo devem ser feitos. De acordo com o relatório publicado por responsáveis pelo estudo com fosfoetanolamina, uma molécula não citotóxica ou citotóxica em altas concentrações pode apresentar, conforme evidenciam os trabalhos publicados com fosfoetanolamina, potencial antitumoral in vivo, possivelmente por depender de rotas metabólicas para desencadear sua ação.

Projeto de Lei da Câmera nº 3, de 2016.

Em 22 de março de 2016, o projeto de lei que determina que “ficam permitidos a produção, manufatura, importação, distribuição, prescrição, dispensação, posse ou uso da fosfoetanolamina sintética, direcionados aos usos de que trata esta Lei, independentemente de registro sanitário, em caráter excepcional, enquanto estiverem em curso estudos clínicos acerca dessa substância” foi aprovado no Senado. O Projeto agora será encaminhado para a sanção da presidente Dilma Rousseff.

IMPORTANTE: Você pode acompanhar todos os relatórios publicados sobre os estudos com fosfoetanolamina acessando o site criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Clique aqui e acesse!

Publicado por Vanessa Sardinha dos Santos
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