Mudança social e política

O processo de mudança social e política de uma sociedade reflete os conflitos existentes no centro da realidade dos indivíduos.
Reunião durante a Revolução Russa de 1917. A revolução é a forma mais extrema de mudança social e política

Quando se fala de assuntos que perpassam pela área da política, talvez você já tenha percebido que uma grande parte das opiniões mais comuns é a de que o ato político é uma manifestação puramente institucional. Em outras palavras, acredita-se que o ato político só pode acontecer dentro das mediações das câmaras de vereadores, deputados, senadores, etc., e que apenas os políticos eleitos de fato podem atuar politicamente.

Mas a verdade é que a política está muito mais presente em nossa convivência diária do que você imagina. O ato político não está limitado à instituição, por mais que esteja frequentemente direcionado de alguma forma para o âmbito institucional. Max Weber apresenta a enorme abrangência do termo política ao defini-la brevemente como “qualquer tipo de liderança independente em ação”¹. Em outras palavras, qualquer tipo de ação que busque a mediação de conflito ou busque o poder em um determinado meio de forma não violenta pode ser considerada como ação política.

Nesse ínterim, vale dizer que a busca pelo poder, normalmente, fundamenta o ato político, pois os embates no âmbito da política costumam estar associados à disputa pelo poder de ação em nome da vontade de grupos ou indivíduos distintos. Assim, nem sempre as ações ou políticas adotadas pelas instituições de um Estado, como os partidos políticos ou os demais organismos legislativos, terão o intuito de beneficiar todas as partes da sociedade de forma igual. Na verdade, essa seria uma tarefa impossível diante das grandes diferenças de interesses entre os diferentes grupos que compõem o cenário político de um Estado.

Tendo em vista esses diferentes grupos que constituem o meio social e político, é necessário salientar que os conflitos de interesses podem manifestar-se de maneira distante das formas convencionais instituídas pelo Estado, isto é, em forma de grupos organizados que buscam ver representados seus interesses no meio institucional, contando com prestígio legal ou não. Referimo-nos a eles quando falamos sobre “movimentos sociais” ou organizações populares.

Norberto Bobbio, em seu “Dicionário de Política”, clarifica que “os movimentos sociais constituem tentativas, fundadas num conjunto de valores comuns, destinadas a definir as formas de ação social e a influir nos seus resultados”². Isso significa que os movimentos sociais são vetores de mudanças sociais, políticas e, consequentemente, da ordem estabelecida em uma sociedade. Um claro exemplo disso foram os movimentos sociais feministas que proporcionaram uma onda de mudanças entre o final do século XIX até meados do século XX, como a obtenção do direito de voto e o combate a graves discriminações de gênero. O sufrágio universal, que hoje existe na maioria das nações que se encontram sob um regime democrático, foi em grande parte motivado pela luta feminina pelo direito ao voto. As conquistas do movimento feminista desse período acabaram resultando em grande mudanças sociais que ainda hoje reverberam em nosso âmbito social.


O movimento feminista foi responsável por mudanças sociais profundas

O exemplo do movimento feminista mostra-nos que, às vezes, as mudanças sociais nem sempre ocorrem de forma ortodoxa. A revolução é um fenômeno de mudança social extremo em que todos os paradigmas sociais acabam sofrendo mudanças de uma forma ou de outra. A derrubada de uma ordem política estabelecida é, geralmente, um evento traumático e violento porque a massa popular toma ação de dissolver o poder estabelecido com as próprias mãos, o que geralmente se traduz em conflitos armados e em grande derramamento de sangue. Justamente por isso as revoluções são eventos extremamente raros e ocorrem apenas em momentos muito particulares na história de uma nação.

São os movimentos sociais, no entanto, que se tornaram os maiores atores de mudanças sociais em nossa história moderna. O movimento feminista foi um exemplo. Outro seria os movimentos que lutaram por melhorias na vida dos trabalhadores em todos os países. Os movimentos sociais que lutam pelo fim da discriminação racial e pela diminuição das desigualdades sociais também são responsáveis por grandes avanços sociais. Isso demonstra que o embate político e as mudanças sociais e políticas que se passam no seio de uma sociedade democrática, quando ocorrem em nome da seguridade da igualdade e do bem-estar comum, são sintomas de uma democracia saudável.

Referências*

¹WEBER, Max – A política como vocação - Editora: UNB, Nº 1, 2003.

²BOBBIO, Norberto - Dicionário de política, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino; trad. Carmen C, Varriale et ai.; coord. trad. João Ferreira; rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1 la ed., 1998.

Publicado por Lucas de Oliveira Rodrigues
Português
Acima ou a cima?
“Acima” ou “a cima”? Estão corretas as duas formas, mas é preciso saber se quem escreve tem a intenção de empregar um advérbio de lugar ou um substantivo acompanhado de artigo ou preposição. Veja esta videoaula para tirar suas dúvidas sobre o emprego correto da palavra ou expressão!
Outras matérias
Biologia
Matemática
Geografia
Física
Vídeos