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Metafísica de Aristóteles

Metafísica é um conjunto de escritos de Aristóteles que, grosso modo, trata do “ser enquanto ser”.
Afresco Escola de Aristóteles, de Gustav Spangenberg, retrata os discípulos do Liceu, escola de Filosofia fundada pelo escritor da Metafísica.
Afresco Escola de Aristóteles, de Gustav Spangenberg, retrata os discípulos do Liceu, escola de Filosofia fundada pelo escritor da Metafísica.

Metafísica é um conjunto de escritos deixados por Aristóteles e separados e classificados, mais tarde, por Andrônico de Rodes, o último discípulo que estudou no Liceu, escola de Filosofia fundada por Aristóteles. O que há em comum entre todos os 14 livros que compõem a Metafísica é que eles tratam de uma espécie de Filosofia anterior, Filosofia primeira ou Filosofia do ser em geral.

A Metafísica, papel primeiro da Filosofia, seria o estudo do ser em geral. Ela seria uma espécie de ciência que não se limita a estudar uma área, como a Biologia estuda a vida ou a Matemática estuda as relações numéricas, mas a totalidade de relações científicas que explicam o mundo racionalmente. Por isso, Aristóteles chamou de Filosofia Primeira os seus escritos que, mais tarde, foram batizados de Metafísica.

É importante salientar que, diferentemente das “filosofias da práxis” (campos filosóficos que recorrem a elementos que existem materialmente e nas relações, como a Ética e a Política), a Metafísica é teorética, pois ela não tem uma finalidade outra, fora de si mesma, sua finalidade é o próprio conhecimento.

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Lógica e Metafísica

A Lógica, sistematizada pela primeira vez por Aristóteles, tem uma íntima relação com a Metafísica, pois a primeira também recorre a artefatos fora da prática para estabelecer-se enquanto campo de estudo. Alguns elementos comuns podem ser extraídos dessas duas disciplinas filosóficas que ajudam a explicar a Metafísica. Ainda no “Livro quarto” da Metafísica, Aristóteles afirma ser

evidente, portanto, que a uma mesma ciência pertence o estudo do ser enquanto ser e das propriedades que a ele se referem, e que a mesma ciência deve estudar não só as substâncias, mas também suas propriedades, os contrários de que se falou, e também o anterior e posterior, o gênero e a espécie, o todo e a parte e as outras noções desse tipo.i

As noções de gênero, espécie, todo e parte são relações destrinchadas por Aristóteles em um pequeno tratado de Lógica chamado Categorias. A noção de substância mencionada na citação é, por sua vez, um conceito extremamente metafísico, pois é o que explica o elo que liga as formas conceituais metafísicas aos objetos do mundo.

A substância é o que permite aplicarmos o conceito ou ideia de cadeira em todos os objetos concretos que correspondam a cadeiras. Por mais que existam diferentes cadeiras no mundo, podemos concebê-las como tais, pois elas encaixam-se dentro do conceito de cadeira e não são outras coisas senão cadeiras.

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Teoria das quatro causas

Aristóteles entendeu que há, no mundo, movimento constante e transformação. Por haver transformações, existe, no mundo, efeitos, e todos os efeitos têm, por trás de si, causas. Esse é o princípio de causa e efeito, um dos primordiais para a Metafísica aristotélica. As causas mais básicas que explicam as origens de todos os seres são quatro, como estão dispostas a seguir:

  1. Causa material: diz respeito à matéria que compõe um ser ou objeto do mundo. Ou seja, se pensarmos na casa do joão-de-barro, a sua causa material é o barro.

  2. Causa formal: é a forma física e conceitual que um determinado ser ou objeto possui. Tudo tem uma forma que o define. Se pegarmos o exemplo da cadeira, o formato de cadeira é a sua causa formal.

  3. Causa final: diz respeito à finalidade do objeto ou ser. As finalidades são diversas para os diversos seres e objetos presentes no mundo. É mais fácil tomar como exemplo, mais uma vez, um objeto inanimado como a casa do joão-de-barro, pois a sua causa final é servir de abrigo e ninho para o pássaro e seus filhotes.

  4. Causa eficiente: é a causa primeira, que deu origem ao ser ou objeto, ou seja, aquilo que foi responsável pela criação. A causa eficiente da casa do joão-de-barro é o próprio pássaro que a construiu.

Aristóteles argumenta ainda que, por haver movimento em tudo e também sempre haver causa para esse movimento, é perigoso cairmos em uma espécie de percuso ad infinitum, se não estabelecermos que, em algum momento, houve uma causa primeira que não foi causada por nada e deu origem às outras causas. A causa não causada será esclarecida no tópico seguinte.

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Primeiro motor imóvel

Motor imóvel é a causa não causada da qual falamos no tópico anterior. Ele aparece no “Livro XII” da Metafísica, através da regressão intelectual. Aristóteles conjectura a existência de um primeiro motor, um primeiro causador de tudo no mundo que não tenha sido impulsionado por nada e nem ninguém, pois ele foi o primeiro.

Tomás de Aquino, filósofo escolástico cristão que estudou a Filosofia aristotélica, relacionará o motor imóvel à criação divina em seu livro Suma teológica, apresentando as cinco vias que provam a existência de Deus.

Se essa noção, uma das mais importantes da Metafísica de Aristóteles, não fosse concebida, a teoria aristotélica falharia, pois o raciocínio seria conduzido a uma espécie de regressão ao infinito e não chegaria a nenhuma conclusão precisa.

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Substância, forma, matéria, ato e potência

Para conseguir o distanciamento das teses platônicas, da veracidade exclusiva das formas ideais, sem cair em qualquer tipo de contradição ou outra armadilha conceitual qualquer, Aristóteles teve que formular alguns conceitos. Pensando na veracidade dos dois tipos de existência (a formal ou conceitual e a material), percebemos um problema: a matéria muda e a ideia não. Por isso, Platão assume como verdade apenas as formas ideais. Como não cair em contradição, nesse caso, assumindo que um elemento pode mudar e o outro não?

Um dos conceitos formulados por Aristóteles para essa situação é a noção de substância. A substância é o elo entre a forma e a matéria. É ela que estabelece que um determinado nome conceitual aplica-se a um objeto específico. Para resolver o problema da mutação material, o filósofo introduziu a necessidade da distinção entre ato e potência.

Ato é tudo aquilo que existe agora, atualmente. Tornar-se ato (tornar o que se é agora) é atualizar. Potência é o poder ser, o devir, o vir a ser. Como exemplo, podemos visualizar uma criança, que é criança em ato e adulto em potência. Ao crescer, amadurecer e tornar-se adulta, a criança passou pelo processo de atualização.
 

i _______ Metafísica. 2ª ed. tradução, introdução e comentários de Giovanni Reale. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 141.

Publicado por Francisco Porfírio
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