Personificação (Prosopopeia)
Veja a poesia a seguir de Vinícius de Moraes:
A ESTRELA POLAR
Eu vi a estrela polar
Chorando em cima do mar
Eu vi a estrela polar
Nas costas de Portugal!
Desde então não seja Vênus
A mais pura das estrelas
A estrela polar não brilha
Se humilha no firmamento
Parece uma criancinha
Enjeitada pelo frio
Estrelinha franciscana
Teresinha, mariana
Perdida no Polo Norte
De toda a tristeza humana.
Podemos notar que o autor constrói a figura da estrela atribuindo-lhe características como a capacidade de chorar, de humilhar-se, de entristecer-se, o que lhe confere uma personificação, ou seja, a estrela parece ter vida própria ao comportar-se como está descrito no texto, não é mesmo? Esse recurso poético é uma figura de linguagem chamada prosopopeia, ou personificação, e possui exatamente esta finalidade: personificar seres inanimados e irracionais. Então, tome nota:
Prosopopeia: é uma figura de linguagem que realiza a personificação de um ser inanimado ou irracional utilizando-se de características próprias de seres humanos.
Observe mais um exemplo em outra poesia do mesmo autor:
AS BORBOLETAS
Brancas
Azuis
Amarela
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas.
Borboletas brancas
São alegres e francas.
Borboletas azuis
Gostam muito de luz.
As amarelinhas
São tão bonitinhas!
E as pretas, então...
Oh, que escuridão!
A cantiga popular sobre a briga de um cravo e uma rosa é também um exemplo claro do uso dessa figura de linguagem. Veja:
O Cravo Brigou Com a Rosa
O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada
O cravo ficou doente
E a rosa foi visitar
O cravo teve um desmaio
E a rosa pôs-se a chorar
A rosa fez serenata
O cravo foi espiar
E as flores fizeram festa
Porque eles vão se casar
Agora, observe como o Enem já abordou esse tema em uma de suas questões:
(Enem 2016)
O adolescente
A vida é tão bela que chega a dar medo.
Não o medo que paralisa e gela,
estátua súbita,
mas
esse medo fascinante e fremente de curiosidade
[que faz
o jovem felino seguir para frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.
Medo que ofusca: luz!
Cumplicentemente,
as folhas contam-te um segredo
velho como o mundo:
Adolescente, olha! A vida é nova...
A vida é nova e anda nua
— vestida apenas com o teu desejo!
—
QUINTANA, M. Nariz de vidro. São Paulo: Moderna, 1998.
Ao abordar uma etapa do desenvolvimento humano, o poema mobiliza diferentes estratégias de composição. O principal recurso expressivo empregado para a construção de uma imagem da adolescência é a:
a) hipérbole do medo.
b) metáfora da estátua.
c) personificação da vida.
d) antítese entre juventude e velhice.
e) comparação entre desejo e nudez.
Resposta: Letra C.