Um só complemento para distintas regências
Atendo-nos aos enunciados que seguem, eis que algumas considerações se mostram como relevantes. Assim, vejamos:
Conheci e gostei de Luciana.
Entrei e saí do carro.
Ao analisarmos os complementos dos verbos conhecer e gostar, constatamos que ambos pertencem a regências distintas, haja vista que o primeiro se classifica como transitivo direto (quando conhecemos, conhecemos alguém), e o segundo pertence à categoria dos transitivos indiretos, pois quando gostamos, gostamos de alguém.
Quanto ao segundo enunciado, atestamos que tais verbos requerem complementos distintos, uma vez que entramos em algum lugar e saímos de um local qualquer. Nesse sentido, ao recorrer ao padrão formal da linguagem, algumas reformulações devem ser feitas, sendo elas manifestadas por:
Conheci Luciana e gostei dela.
Entrei no carro e saí dele.
Entretanto, mesmo em se tratando do que proferem os preceitos gramaticais (os quais revelam ser necessário o uso de ambos os complementos), o português brasileiro nos revela que quando houver uma menção anterior, não se faz necessário repetir o complemento, haja vista que ele existe, porém implícito. Trata-se de uma comodidade linguística, a qual confere tão somente agilidade ao enunciado. Aspecto esse perfeitamente constatável quando analisamos enunciados como estes firmados a seguir:
A que horas chega à empresa? - Chego (à empresa) às 7h.
Será que ele irá gostar deste presente? – Acho que gostará (deste presente).
Assim, tanto na linguagem literária, quanto na linguagem expressa no dia a dia, é bastante comum constatarmos o uso de verbos que apesar de serem constituídos de regências distintas são expressos com apenas um complemento. Cabe ressaltar ainda que dessa construção abreviada se serviram alguns dos melhores escritores da língua.