Valor semântico dos sufixos
A morfologia é a parte da gramática que estuda a palavra em sua estrutura interna, ou seja, como ela se divide internamente e à qual classe gramatical pertence. A fim de facilitar o estudo, as palavras são divididas em morfemas (unidades mínimas com significado). Um dos morfemas que compõem as palavras é o afixo (morfema colocado antes ou depois do radical). Se forem colocados antes, classificam-se como prefixos, se colocados depois, de sufixos.
O acréscimo dos afixos faz com que novas palavras sejam criadas. Por exemplo, ao verbo fazer, se acrescentarmos um prefixo, formaremos a palavra desfazer. Se ao adjetivo belo for acrescido um sufixo, formaremos o substantivo beleza. É importante atentar para o seguinte aspecto: ao acrescentarmos um prefixo, cria-se uma nova palavra, com outros significados, mas sem modificação de classe gramatical. No exemplo citado, perceba que fazer e desfazer classificam-se como verbo, ou seja, possuem a mesma classe gramatical. Já quando há acréscimos de sufixos, além da formação de uma nova palavra, esta poderá ter uma nova classe gramatical.
Os sufixos podem ser nominais (formadores de substantivos e adjetivos), verbais (quando formam verbos) e adverbiais (quando formam advérbios). De acordo com a função de cada sufixo, classificam-se em: derivacionais (formadores de novas palavras a partir do processo de sufixação) e flexionais (que transmitem a informação sobre as flexões da palavra – gênero, número, tempo, pessoa e grau).
Os sufixos flexionais, especialmente os que marcam a flexão de grau (aumentativo e diminutivo) são amplamente utilizados pelo falante. No entanto, nem sempre sua utilização relaciona-se à questão de variação de tamanho, pois além da sua função clássica, pode indicar valores e intenções, ou seja, a escolha dos sufixos indicadores de grau pode relacionar-se tanto à afetividade quanto ao desprestígio.
Veja alguns exemplos:
- Que mulherzinha complicada!
- Querida, trouxe uma florzinha para você.
- Que bebê fofucho!
- Amorzão, estou morrendo de saudade.
- Nossa, para escrever um textinho desses precisava demorar tanto.
- Queridinha, já te falei duas vezes que não quero esse plano.
- Ai você está tão lindinha! Parece um filhote de baleia.
- Você é um cabeção mesmo, entendeu tudo errado!
Em todas as palavras destacadas os sufixos flexionais apareceram, mas é possível afirmar que em todas as vezes foram utilizados para indicar o tamanho dos seres? Claro que não. Em alguns momentos, percebe-se que seu uso teve a intenção de desprestigio, como nos exemplos I, V e VIII; em outros, de afeto, como nos exemplos II, III, IV; bem como a intenção de ironizar, como nos exemplos VI e VII.
É importante analisar a escolha dos sufixos também como uma questão semântica (de significado), pois é comum que eles sejam usados “carregados” de intenções, que podem estar explícitas ou implícitas nos enunciados. Portanto, ao ler um texto ou participar de uma conversa, fique atento ao uso dos sufixos, pois podem representar muito mais que uma variação de grau.