Revolução Sandinista
A Revolução Sandinista é como se chama uma revolução popular que foi encabeçada pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) contra a ditadura dos Somoza na Nicarágua, a qual teve fim em 1979. Os sandinistas governaram o país até 1990, quando foram derrotados na eleição presidencial realizada no país.
Antecedentes
O termo sandinismo na Nicarágua, além da guerrilha sandinista que lutou contra os Somoza ao longo das décadas de 1960 e 1970, faz menção a Augusto César Sandino, guerrilheiro que lutou contra a forte influência dos Estados Unidos em seu país durante as décadas de 1920 e 1930.
A Nicarágua era uma nação independente desde 1821, quando conquistou sua independência dos colonizadores espanhóis. A história da Nicarágua, ao longo do século XIX, foi marcada pela fragilidade das instituições políticas do país e pela interferência direta dos Estados Unidos nas questões nicaraguenses.
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Os interesses americanos na Nicarágua visavam à garantia de construção de um canal que fizesse a ligação entre os dois oceanos (Atlântico e Pacífico). A ideia de construir esse canal baseava-se na localização geográfica da Nicarágua: país localizado na América Central que possui uma estreita faixa de terra que separa a América do Norte e do Sul.
A forte influência dos Estados Unidos nos governos nicaraguenses gerou uma resposta popular, e movimentos nacionalistas e de oposição aos americanos começaram a surgir no país. Esses movimentos tiveram um momento de importância em 1912, quando ocorreu uma revolta popular na Nicarágua contra o presidente Adolfo Díaz, claramente vinculado aos interesses dos Estados Unidos. Essa revolta fez os Estados Unidos intervir diretamente na Nicarágua e, a partir daí, os marines, militares americanos, estabeleceram-se no país.
A forte presença dos Estados Unidos na Nicarágua ainda gerava revolta nos meios populares e dessa insatisfação surgiu um nome importante da história nicaraguense: Augusto César Sandino. Filho de lavrador, Sandino engajou-se, a partir de 1926, em uma luta contra a presença americana no país. Ele também lutava pela divisão das terras e riquezas existentes no país entre todos os nicaraguenses.
Por causa da luta de Sandino, tropas americanas instaladas na Nicarágua retiraram-se do país entre 1932 e 1933, após realização de eleição. Dessa eleição, Juan Bautista Sacasa saiu eleito presidente da Nicarágua. Em exercício na função, Sacasa nomeou Anastasio Somoza García como chefe da Guarda Nacional, exército nicaraguense que tinha como função manter a ordem interna.
Anastasio Somoza realizou um golpe na Nicarágua e, em 1936, assumiu o poder do país. Com a subida de Anastasio Somoza ao poder, iniciou-se a ditadura dos Somoza (que se estendeu até 1979). Além disso, foi ampliada a perseguição de Somoza contra os guerrilheiros sandinos (Augusto César Sandino foi morto nessa perseguição em 1934). Essa perseguição aos sandinistas estendeu-se durante todo o período em que Anastasio Somoza esteve no poder e quase exterminou os sandinistas do país.
Retorno dos sandinistas
O governo de Anastasio Somoza (também chamado de Tacho Somoza) foi caracterizado pelo alinhamento estreito com os Estados Unidos, autoritarismo (os sandinistas sentiram na pele) e corrupção. A família Somoza rapidamente se transformou na mais rica do país e possuía negócios valiosíssimos, além de ter ligações com o crime. Nesse processo todo, quem sofria era a população nicaraguense, que vivia em grande pobreza.
Quando Anastasio Somoza morreu, em 1956, o poder foi ocupado por Luis Somoza Debayle. A morte de Anastasio resultou em um processo de rearticulação das guerrilhas sandinistas na Nicarágua, sobretudo após a Revolução Cubana, que foi vitoriosa em 1959. Cabe lembrar que a Revolução Cubana aconteceu em um cenário parecido com o da Revolução Sandinista: Cuba era um país bastante influenciado pelos EUA e governado por uma ditadura que foi derrubada por um movimento guerrilheiro.
Da reorganização das guerrilhas sandinistas surgiu a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), partido político que se lançou à luta armada contra os Somoza. Os fundadores do FSLN foram Carlos Fonseca Amador, Tomás Borge Martínez e Sílvio Mayorga. A FSLN identificava-se como um grupo anti-imperialista que usaria do poder das armas para destituir os Somoza. Os guerrilheiros da FSLN instalaram-se em uma região montanhosa e de lá começaram a receber mais pessoas interessadas no engajamento contra os Somoza.
A luta dos sandinistas contra os Somoza ganhou forças em 1979 e tomou ares de guerra civil. Os sandinistas conseguiram prevalecer, obrigando os Somoza a fugir do país. As tropas da FSLN tomaram a capital do país, Manágua, em 19 de julho de 1979. Com a conquista da capital pelos sandinistas, foi iniciado todo o processo de transformações que caracterizou a Revolução Sandinista.
Sandinistas no poder
Durante o processo de luta armada contra a Guarda Nacional controlada pelos Somoza, um dos grandes nomes dos sandinistas foi Daniel Ortega, que se tornou presidente do país, eleito em 1985 com cerca de 60% dos votos. Antes disso, o país foi governado por uma Junta Provisória controlada pelos próprios sandinistas. Nesse período de instalação dos sandinistas no poder, uma série de mudanças aconteceu no país com o objetivo de romper com o atraso econômico da Nicarágua após anos de ditadura dos Somoza.
Os sandinistas desapropriaram terras que pertenciam aos Somoza e seus aliados, o que representava cerca de 20% das terras cultiváveis do país. Nessas terras foram estabelecidas as Áreas de Propriedade do Povo, locais onde foram construídas cerca de 1500 fazendas, que empregaram cerca de 50 mil nicaraguenses.
Os sandinistas também promoveram a nacionalização de duas áreas muito importantes do país: o setor financeiro e o comércio exterior. Com isso, a economia nicaraguense estava por inteiro nas mãos dos sandinistas. Em certa medida, essas medidas tomadas pelos sandinistas contaram com o apoio de parte da burguesia do país que enxergava benefícios na queda dos Somoza.
Os sandinistas, no entanto, tiveram que lutar contra opositores internos e externos. O período 1979-1990 foi caracterizado pela reação dos “Contras”, grupo militar de direita que possuía muitos ex-membros da Guarda Nacional e que recebia financiamento do presidente americano, Ronald Reagan.
Ao longo da década de 1980, a relação dos sandinistas com a burguesia nicaraguense foi desgastando-se e, aos poucos, a adesão desta aos grupos contrarrevolucionários enfraqueceu os sandinistas no poder. Além disso, há de se destacar que a ação dos “Contras” contra os sandinistas foi responsável por minar a paz social no país. Isso fez com que os sandinistas fossem derrotados na eleição presidencial de 1990. Nessa eleição, Violeta Barrios de Chamorro obteve 55% dos votos e derrotou Daniel Ortega, colocando fim ao poder dos sandinistas na Nicarágua.
*Créditos da imagem: Boris15 e Shutterstock