Criação do IHGB
Com o processo de institucionalização do Império Brasileiro, que aconteceu entre os anos de 1824 e 1831, já havia uma necessidade de se criar um “projeto para a nação”, isto é, dar ao país recém-independente uma identidade e uma imagem orgânica. Muitos políticos e intelectuais expressavam tal necessidade e pensavam em estratégias múltiplas para tornar viáveis pesquisas sobre o que havia no país, sobretudo no interior (ainda pouco conhecido à época), de culturalmente substantivo, bem como o que havia, na esfera da natureza e da geografia, que ainda não tinha sido descoberto. A criação do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro), em 1838, constituiu um passo adiante nesse projeto.
No ano em que o IHGB foi criado, o Brasil enfrentava uma de suas piores crises. Dom Pedro I havia abdicado do trono em 1834 em favor de seu filho, que ainda era uma criança nessa época. Em 1838, o Brasil, que estava no chamado Período Regencial, viu pulularem revoltas em vários pontos de sua extensão geográfica. Uma das mais notórias foi a Revolta dos Farrapos, ou Revolução Farroupilha, que ocorreu no Sul do país.
Nesse contexto, tornavam-se urgentes ações políticas enérgicas, que assegurassem a unidade nacional, e ações estratégicas intelectuais, que cimentassem a ideia de nação e de unidade. A sugestão da criação de um instituto histórico e geográfico foi dada pelo cônego Januário da Cunha Barbosa e pelo marechal Raimundo José de Cunha Matos, inspirados nos modelos institucionais europeus. O projeto foi apresentado e aprovado por um conselho ligado à Indústria Nacional, como bem explicita a pesquisadora Cláudia Regina Callari no trecho a seguir:
“Em 18 de agosto de 1838, reunido o Conselho Administrativo da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, foi apresentada a proposta para a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, assinada pelo marechal Raimundo José da Cunha Matos e pelo cônego Januário da Cunha Barbosa. Em 21 de outubro, os 27 fundadores do IHGB reuniam-se pela primeira vez em uma sala do Museu Nacional. Dos 27 membros iniciais, 12 eram conselheiros de Estado – deste grupo, 7 eram também senadores –, 1 era exclusivamente senador, 3 eram professores (2 do recém-fundado Colégio Pedro II e 1 da Academia Militar); havia ainda outros membros ligados à burocracia estatal: desembargadores, funcionários públicos, militares, um pregador imperial (caso de Januário da Cunha Barbosa)”.[1]
Com sua aprovação, o instituto entrou em atividade e passou a difundir suas pesquisas e propostas por meio de seu principal veículo, a Revista do IHGB. Essa revista teve uma função imprescindível na consolidação das investigações humanísticas e naturalistas sobre o Brasil. Um exemplo notório é o de um exemplar de 1846 que apresentou ao público o resultado de um concurso sobre “Como se deve escrever a história do Brasil”. Esse concurso foi vencido pelo naturalista alemão Carl Phillipp von Martius, que já conhecia o país por conta das expedições que havia feito.
As atividades do IHGB prosseguem até os dias de hoje, promovendo publicações, eventos e armazenando acervos que dizem respeito à história do Brasil em seu diversos momentos.
NOTAS
[1] Callari, Cláudia Regina. Os Institutos Históricos: do Patronato de D. Pedro II à construção do Tiradentes. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.21, n. 40, 2001. p. 61.