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Zumbi dos Palmares

Zumbi dos Palmares é conhecido como um dos líderes do Quilombo dos Palmares, ocupando essa função de 1678 a 1695. Acredita-se que sua ascensão como líder tenha relação com um desentendimento com Ganga Zumba. Zumbi liderou a resistência final dos palmaristas e acabou sendo morto, em 1695, por uma expedição de bandeirantes.

Leia mais: Diferenças entre escravidão indígena e escravidão africana

Quilombo dos Palmares

O Quilombo dos Palmares está diretamente ligado à trajetória de vida de Zumbi, afinal, ele foi um dos líderes desse que foi o maior quilombo da história do Brasil. Palmares surgiu no final do século XVI, e o registro mais antigo que o menciona remonta ao ano de 1597.

Seu nome deve-se à grande quantidade de palmeira-pindoba que havia na região da Serra da Barriga, onde ficava. Atualmente, a localização de Palmares corresponde ao estado de Alagoas, mas, na época, era parte da capitania de Pernambuco. A escolha do local foi estratégica porque era uma região de mata fechada e montanhosa, dando uma proteção natural ao quilombo.

Sabemos que o Quilombo dos Palmares era formado por 18 mocambos, isto é, pequenas aldeias que reuniam os escravizados fugidos. Entre os mocambos que formavam Palmares, podemos citar Acotirene, Osenga e Aqualtune. O maior mocambo era o Cerca Real do Macaco, também conhecido como Mocambo Macaco.

Ao todo, o Quilombo dos Palmares chegou a reunir 20 mil habitantes, sendo que seis mil deles viviam no Mocambo Macaco. Acredita-se que os primeiros escravizados que se instalaram na região da Serra da Barriga tenham fugido de engenhos de Pernambuco. Isso porque essa capitania concentrava grande parte dos engenhos do Brasil, e, segundo o historiador Flávio Gomes, em Pernambuco, havia, no final do século XVI, 66 engenhos que reuniam cerca de dois mil escravizados africanos|1|.

Palmares atraía uma grande quantidade de cativos que executavam fugas em massa dos engenhos pernambucanos. Seu crescimento logo mobilizou as autoridades coloniais, e, já no começo do século XVII, elas haviam recrutado forças para destruirem-no. Ao longo da existência de Palmares, tanto portugueses quanto holandeses enviaram expedições para sua extinção.

Os conflitos entre holandeses e portugueses em Pernambuco, a partir da década de 1630, contribuíram para enfraquecer os poderes locais. Os problemas administrativos surgidos desses conflitos contribuíram para que as fugas de escravizados aumentassem, o que fortaleceu Palmares.

O poderio de Palmares só começou a ser efetivamente reduzido quando os portugueses expulsaram os holandeses do Nordeste. Durante as décadas de 1670 e 1680, inúmeras expedições foram organizadas contra o quilombo, e, pouco a pouco, o poder palmarino foi enfraquecendo-se.

A última expedição contra Palmares foi organizada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, na década de 1690. Em 1694, ele liderou a destruição do Mocambo Macaco, fazendo com que os palmaristas precisassem fugir. Tropas de bandeirantes permaneceram na Serra da Barriga até o ano de 1725, para evitar que os sobreviventes de Palmares organizassem um novo quilombo. Caso queira saber mais sobre esse lugar tão importante para a história negra brasileira, leia: Quilombo dos Palmares.

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O que sabemos sobre Zumbi dos Palmares?

Zumbi foi um dos líderes do Quilombo dos Palmares e ocupou essa função por quase 20 anos.[1]
Zumbi foi um dos líderes do Quilombo dos Palmares e ocupou essa função por quase 20 anos.[1]

As informações sobre Zumbi dos Palmares são escassas, e muitos historiadores apontam que é impossível reconstituir a vida desse líder. A dificuldade dá-se, principalmente, pela carência de fontes, sendo que as disponíveis são registros de autoridades coloniais. O que sabemos de fato é que Zumbi foi líder de Palmares de 1678 a 1695

Uma das biografias mais conhecidas sobre Zumbi foi escrita por Décio Freitas, um historiador que afirmou que o líder palmerino nasceu em Palmares, no ano de 1655. Em um dos muitos ataques feitos pelas autoridades coloniais contra Palmares, Zumbi teria sido capturado e depois entregue para um padre que lhe deu uma educação cristã.

Ainda de acordo com essa versão, Zumbi teria trabalhado para esse padre e aprendido português e latim. Entretanto, durante a sua adolescência, teria fugido e retornado para Palmares. No quilombo, ele teria se tornado um importante chefe militar, líder da resistência contra os portugueses e, eventualmente, chefe do quilombo, após desentendimentos com Ganga Zumba.

Entretanto, parte dessa versão tem sido questionada por muitos historiadores, uma vez que Freitas utilizou-se de fontes a que nenhum outro historiador teve acesso. A falta de fontes históricas torna a reconstituição da vida de Zumbi muito complicada, e existem dúvidas, por exemplo, se ele possuía esposa e filhos.

Fala-se também sobre a possibilidade de o termo Zumbi não se referir ao nome do indivíduo em questão, mas sim ao título que ele possuía no quilombo. Sendo assim, alguns historiadores sustentam que esse indivíduo que liderou Palmares existiu, mas que o termo Zumbi provavelmente fazia menção ao título que ele possuía. O historiador Felipe Aguiar Damasceno aponta que os holandeses, já na década de 1640, referiam-se a uma autoridade palmarina como Dambij, nome que se assemelha a Zumbi.

Uma consenso entre os historiadores é o fato de que Zumbi tornou-se líder de Palmares a partir de 1678. Isso aconteceu, provavelmente, depois que ele se desentendeu com Ganga Zumba, o então líder. Muitos falam que Zumbi era sobrinho de Ganga Zumba e que o desentendimento em questão aconteceu por causa de um acordo de paz que os portugueses teriam oferecido.

O acordo oferecido a Ganga Zumba teria incluído a proposta de que os palmaristas poderiam viver em paz desde que aceitassem algumas condições. Essas condições seriam|3|:

  • Reconhecimento da liberdade seria dado somente aos nascidos em Palmares;

  • Garantia de que os portugueses poderiam continuar comercializando com produtores locais;

  • Palmaristas abandonariam a Serra da Barriga e iriam para uma região indicada pela Coroa;

  • Palmares não poderia mais aceitar escravos fugidos;

  • Palmaristas passariam à condição de vassalos do rei português.

Esse acordo de paz rachou Palmeiras, uma vez que muitos consideravam os termos inadmissíveis. Muitos dos palmaristas eram escravizados fugidos, e esses seriam obrigados a retornar para a escravidão. Além disso, a possibilidade de não poder mais receber escravizados fugidos como parte da comunidade não agradava.

Ganga Zumba e outros palmaristas mudaram-se para a região de Cucaú, escolhida pelos portugueses. Zumbi e outros permaneceram na Serra da Barriga. A divergência pelos termos teria sido então o fator crucial para que Ganga Zumba e Zumbi rompessem entre si.

Flávio Gomes também sugere que fazendeiros e engenheiros em Pernambuco teriam desrespeitado os termos do acordo, o que contribuiu para que muitos palmaristas não o aceitassem. O desentendimento levou ao trágico fim de Ganga Zumba, assassinado por envenenamento. Não se sabe se Zumbi esteve envolvido no assassinato do antigo líder.

De 1678 a 1695, Zumbi liderou o quilombo, rechaçando possibilidades de acordo de paz com os portugueses e derrotando inúmeras expedições que foram enviadas para lá.

Acesse também: Revolta dos Malês – a história da maior revolta de escravos do Brasil

Morte de Zumbi

Os ataques contra Palmares tornaram-se recorrentes a partir da década de 1680, e, apesar da resistência duradoura, os palmaristas foram perdendo sua força. A cada ataque, mais deles eram capturados e enviados para serem escravizados novamente, e sua capacidade de organização ia diminuindo-se com a grande presença de portugueses na região.

A partir de 1692, Palmares começou a ser assediado pela expedição do bandeirante Domingos Jorge Velho. O bandeirante paulista esteve à frente de milhares de homens e armado com canhões. O Mocambo Macaco foi atacado em 1694, e seus habitantes foram obrigados a abandoná-lo. Muitos quilombolas morreram durante a fuga, e cerca de 500 foram presos. Zumbi fugiu.

Os ataques continuaram, uma vez que outros mocambos foram destruídos no mesmo ano, e a caçada a Zumbi acirrou-se. Zumbi escondeu-se na serra dos Dois Irmãos e conseguiu resistir até novembro de 1695, quando a expedição de André Furtado de Mendonça emboscou-o e assassinou-o, em 20 de novembro.

Notas

|1| GOMES, Flávio. Palmares: escravidão e liberdade no Atlântico Sul. São Paulo: Contexto, 2019. p. 43.

|2| DAMASCENO, Felipe Aguiar. A ocupação das terras dos Palmares de Pernambuco (séculos XVII e XVIII). Tese (Doutorado em História Social). Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2015. p. 57.

|3| GOMES, Flávio. Palmares: escravidão e liberdade no Atlântico Sul. São Paulo: Contexto, 2019. p. 131.

Crédito da imagem

[1] Cassiohabib e Shutterstock

Publicado por Daniel Neves Silva

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