Origens de Roma: lendas de uma civilização
Como muitas das histórias que pretendem explicar e descrever a origem de civilizações ou povos, as origens de Roma também foram baseadas em mitos. O maior império conhecido da Antiguidade Clássica teria sido fundado por dois gêmeos, Rômulo e Remo, que haviam sido amamentados na infância por uma loba que os encontrara perdidos às margens do rio Tibre.
Duas obras servem como fonte para se conhecer os mitos de origem da cidade de Roma. Uma é o poema épico Eneida, escrito por Virgílio, outra é o livro Ab Urbe condita (“Desde a fundação da cidade”), do historiador Tito Lívio.
Esse último baseia seu livro nas histórias que eram contadas sobre a fundação. Rômulo e Remo seriam filhos de Reia Sílvia, uma virgem sacerdotisa vestal, que afirmou ter sido violentada e engravidada pelo deus Marte. Sílvia havia sido forçada a se tornar sacerdotisa por seu tio, Amúlio, que havia tirado o pai de Reia Silvia, Numitor, do trono de Alba Longa, cidade construída na Península Itálica.
Ao saber da gravidez da sacerdotisa, Numitor ordenou sua prisão e que seus filhos fossem jogados no rio Tibre. A preocupação de Numitor era que os gêmeos reivindicassem o trono que ele havia usurpado.
Os gêmeos teriam sido salvos pela loba que chegou ao rio para saciar sua sede e, em compaixão às duas crianças abandonadas, teria dado suas tetas para que eles pudessem se alimentar. Foram encontrados posteriormente por um pastor e, nesse ambiente, foram criados. Já adultos, Rômulo e Remo descobriram serem originários de uma linhagem real e decidiram lutar contra Numitor para restituir ao avô Amúlio o trono do qual havia sido retirado. E eles conseguiram.
Posteriormente, Rômulo e Remo construíram uma aldeia no local onde haviam sido encontrados. Era o início da cidade de Roma. Entretanto, em decorrência da disputa pelo poder na nova cidade, Rômulo assassinou Remo, tornando-se o primeiro rei de Roma. As histórias romanas indicam que a cidade foi fundada em 753 a.C. Escavações arqueológicas indicam haver indícios de que, no século VIII a.C, uma aldeia de agricultores e pastores existia na região. Roma ficava em uma planície fértil, cortada pelo rio Tibre e protegida por sete colinas.
Eneias vence Turno, quadro de Luca Giordano (1632-1705) que mostra o herói troiano em combate pelo reino do Lácio e por Lavínia
Havia ainda entre os romanos a lenda de que Numitor, Amúlio, Reia Sílvia, Rômulo e Remo seriam descendentes de um troiano, Eneias, filho da deusa Afrodite e de Anquises, que havia fugido da famosa cidade destruída ao fim da Guerra de Troia. Com essa lenda, os romanos ligavam sua origem com os povos do Egeu, pretendendo criar uma tradição comum entre as civilizações que surgiram nas duas localidades.
Eneias havia chegado à Península Itálica depois da fuga de Troia e muitas atribulações e teria travado contato com Latino, que lhe ofereceu sua filha Lavínia para matrimônio. Depois de guerras pelo território do Lácio e pela esposa, Eneias fundou a cidade Alba Longa e introduziu o culto de seus deuses entre os latinos. Várias outras aldeias foram construídas próximas à cidade. Eneias ainda havia deixado descendentes que protegeriam Alba Longa e que, depois de 12 gerações, dariam origem a Rômulo e Remo.
A península Itálica era habitada desde muito tempo por latinos, úmbrios, ilíricos, gregos e etruscos. Entretanto, foram esses últimos que tornaram a aldeia de Roma uma verdadeira urbs, ou seja, uma verdadeira cidade.