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Fernando Sabino

Fernando Sabino, escritor brasileiro, nasceu em 12 de outubro de 1923. Aos 15 anos de idade, já escrevia para periódicos e, em 1941, trabalhava como redator na Folha de Minas, em Belo Horizonte. Nesse mesmo ano, publicou seu primeiro livro: Os grilos não cantam mais. A sua mudança para o Rio de Janeiro ocorreu em 1944, onde passou a escrever para o Correio da Manhã. Seu maior sucesso, o romance O encontro marcado, foi publicado em 1956.

O escritor, que morreu em 11 de outubro de 2004, faz parte da terceira fase do modernismo brasileiro (ou pós-modernismo). Suas obras apresentam o anticonvencionalismo dessa geração, além de questões existenciais e diálogo interior. Mas Fernando Sabino, ganhador dos prêmios Jabuti e Machado de Assis, é mais conhecido por suas crônicas inovadoras e bem-humoradas, que falam sobre os desconcertos do cotidiano urbano com lirismo e sensibilidade para os dilemas humanos.

Leia também: Guimarães Rosa – outro grande prosador da terceira fase modernista

Biografia de Fernando Sabino

Fernando Sabino. |1|
Fernando Sabino. [1]

Fernando Sabino nasceu em 12 de outubro de 1923, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Com 12 anos, escreveu um conto policial e, com 15, já escrevia textos para periódicos. Em 1939, venceu algumas competições como nadador do Clube Atlético Mineiro e, em 1941, ingressou na Faculdade de Direito de Belo Horizonte, além de trabalhar como redator na Folha de Minas.

Publicou seu primeiro livroOs grilos não cantam mais — em 1941. Em 1942, passou a trabalhar na Secretaria de Finanças de Minas Gerais, além de dar aulas de Português. Em 1943, tornou-se oficial de gabinete do Secretário de Agricultura do Estado de Minas Gerais. Mas em 1944 mudou-se para o Rio de janeiro, onde escrevia para o Correio da Manhã e trabalhava como oficial do Registro de Interdições e Tutelas da Justiça.

No ano de 1946, formou-se na Faculdade Nacional de Direito e viajou a Nova Iorque, onde viveu durante dois anos. Ali trabalhou no Escritório Comercial do Brasil e no consulado brasileiro. Em 1948, retornou ao Rio de Janeiro para trabalhar como escrivão da Vara de Órfãos e Sucessões, enquanto escrevia crônicas para o Diário Carioca. Até que, em 1956, publicou seu livro de maior sucesso: O encontro marcado.

A partir de 1957, Fernando Sabino passou a viver apenas de sua escrita. Em 1960, foi um dos fundadores da Editora do Autor. Em 1962, ganhou o Prêmio Fernando Chinaglia pelo livro A mulher do vizinho. De 1964 a 1966, foi adido cultural na embaixada do Brasil em Londres. Em 1967, deixou a Editora do Autor para ser um dos fundadores da Editora Sabiá.

Em 1980, o autor ganhou o Prêmio Jabuti pelo livro O grande mentecapto. Em 1999, ganhou o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. Assim, o contista, romancista, cronista e editor Fernando Sabino teve grande reconhecimento em vida. Faleceu em 11 de outubro de 2004.

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Características literárias de Fernando Sabino

O escritor Fernando Sabino faz parte da terceira fase do modernismo brasileiro (ou pós-modernismo). Como característica dessa geração, é possível apontar o anticonvencionalismo, por exemplo, no diálogo com os leitores em O grande mentecapto ou na simbiose entre narrador e protagonista em O encontro marcado. No mais, em suas obras, também estão presentes as questões existenciais e, portanto, universais, tão comuns a essa geração, além do diálogo interior típico do romance psicológico.

Outro fator que determina a localização desse escritor nessa fase e o projeta, inclusive, para a contemporaneidade são as suas crônicas — consideradas inovadoras pela crítica —, que apresentam as seguintes características:

  • Ambiente urbano

  • Senso de humor

  • Desconcertos da vida

  • Nonsense cotidiano

  • Flagrantes do cotidiano

  • Valorização do aspecto humano

  • Diálogo com o leitor

  • Lirismo

  • Uso de metáforas

  • Metalinguagem

  • Intertextualidade

  • Ficcionalização do cotidiano

  • Trocadilhos

  • Ironia

  • Coloquialismo

  • Mineiridade

  • Presença de paródias

  • Dramaticidade

  • Frases curtas

  • Fragmentação

  • Flexibilidade estrutural

Leia também: Lima Barreto – principal autor do pré-modernismo

Obras de Fernando Sabino

Capa do livro O grande mentecapto, de Fernando Sabino, publicado pela editora Record.[1]
Capa do livro O grande mentecapto, de Fernando Sabino, publicado pela editora Record.[2]
  • Os grilos não cantam mais — contos (1941)

  • A marca — novela (1944)

  • A cidade vazia — crônicas (1950)

  • A vida real — novelas (1952)

  • Lugares-comuns — dicionário (1952)

  • O encontro marcado — romance (1956)

  • O homem nu — contos (1960)

  • A mulher do vizinho — crônicas (1962)

  • A companheira de viagem — crônicas (1965)

  • A inglesa deslumbrada — crônicas (1967)

  • Deixa o Alfredo falar — crônicas (1976)

  • O encontro das águas — crônicas (1977)

  • Crônica irreverente de uma cidade tropical — crônicas (1977)

  • O grande mentecapto — romance (1979)

  • Medo em Nova York — crônicas (1979)

  • Gente — crônicas (1979)

  • A falta que ela me faz — crônicas (1980)

  • O menino no espelho — romance (1982)

  • O gato sou eu — contos (1983)

  • A vitória da infância — crônicas (1984)

  • Macacos me mordam — infantil (1984)

  • A faca de dois gumes — novelas (1985)

  • O pintor que pintou o sete — infantil (1987)

  • Martini seco — romance (1987)

  • O tabuleiro de damas — autobiografia (1988)

  • De cabeça para baixo — crônicas (1989)

  • A volta por cima — crônicas (1990)

  • Zélia, uma paixão — biografia (1991)

  • O bom ladrão — novela (1992)

  • Aqui estamos todos nus — novelas (1993)

  • O outro gume da faca — novela (1996)

  • Amor de Capitu — romance (1998)

  • No fim dá certo — crônicas (1998)

  • A chave do enigma — crônicas (1999)

  • O galo músico — crônicas (1999)

  • Cara ou coroa? — crônicas (2000)

  • Duas novelas de amor — novelas (2000)

  • Livro aberto — crônicas (2001)

  • Cartas perto do coração — correspondência com Clarice Lispector (2001)

  • Cartas na mesa — correspondência com Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende e Hélio Pellegrino (2002)

  • Os caçadores de mentira — infantil (2003)

  • Cartas a um jovem escritor e suas respostas — correspondência com Mário de Andrade (2003)

  • Os movimentos simulados — romance (2004)

  • Bolofofos e finifinos — infantil (2004)

O grande mentecapto

O grande mentecapto foi o romance que deu a Fernando Sabino o Prêmio Jabuti. Nele o narrador conta as aventuras de José Geraldo Peres da Nóbrega e Silva, ou ainda Geraldo Boaventura, ou também Geraldo Viramundo. É o “relato das aventuras e desventuras de Geraldo Viramundo e de suas inenarráveis peregrinações”. Assim, o protagonista nasce no interior mineiro, em Rio Acima. Sua infância, porém, é marcada por uma tragédia, a morte de seu amigo Pingolinha, atropelado por um trem. Isso gera, no menino Geraldo, introspecção, amadurecimento ou “loucura”.

Geraldo Boaventura já tem mais de 15 anos quando vai para o seminário de Mariana. Com 18 anos, é expulso do seminário e transforma-se em Viramundo, uma espécie de Dom Quixote mineiro, que percorre o estado de Minas Gerais, onde vive suas aventuras e desventuras. Vai para Ouro Preto e apaixona-se por Marília Ladisbão. Sem sucesso no amor, dirige-se à Barbacena, onde é internado em um hospício, mas consegue fugir. Em seguida, chega a Juiz de Fora e experimenta a vida militar. Na sequência, vai para São João del-Rei e, depois, é preso em Tiradentes. Segue para Congonhas do Campo, enfrenta um touro em Uberaba e conversa com um fantasma em Curvelo.

Depois de Curvelo, vive aventuras e desventuras em Santana do Rio Verde, Itaúna, Itajubá, Ponte Nova, Brejo das Almas, Itabira, Sabará, São Lourenço, Januária, Carinhanha, Monte Santo, Três Corações, Araxá, Vila do Príncipe, Caratinga, Carmo de Minas, Nova Lima, Passa Quatro, Mar de Espanha, Pedro Leopoldo, Passos, Pirapora, Poços de Caldas, Pará de Minas, Paracatu, Formiga, Sete Lagoas, Araguari, Uberlândia, Varginha, Muzambinho, Carangola, Abaeté, Alfenas, Baependi, Barão de Cocais, Caeté, Belo Vale, Boa Esperança, Morada Nova, Chapéu d’Uvas, Divinópolis, Pitangui, Grão Mogol, Ituiutaba, Bom Despacho, Lavras, Ouro Fino, Viçosa e:

“Em toda parte. Ai, Viramundo de minha vida, que vira Minas pelo avesso sem revelar aos meus olhos o seu mais impenetrável mistério. Ai, Minas de minha alma, alma de meu orgulho, orgulho de minha loucura, acendei uma luz no meu espírito, iluminai os desvãos do meu entendimento e mostrai-me onde se esconde esse vagabundo maravilhoso, esse meu irmão desvairado que no fundo vem a ser o melhor da minha razão de existir. Foi ele, esse iluminado de olhos cintilantes e cabelos desgrenhados que um dia saltou dentro de mim e gritou basta! num momento em que meu ser civilizado, bem penteado, bem vestido e ponderado dizia sim a uma injustiça.”

Por fim, Viramundo chega à capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, onde, “entre retirantes, mulheres, doidos e mendigos, cumpre o seu destino”, nessa narrativa que mescla o cômico ao trágico e muito faz lembrar, além do Dom Quixote (1605), de Miguel de Cervantes (1547-1616), o Cândido ou O otimismo (1759), de Voltaire (1694-1778). Dessa forma, nosso Quixote ou nosso Cândido é Viramundo, o grande mentecapto de Minas Gerais.

Veja também: Clarice Lispector – grande representante da prosa intimista

Frases de Fernando Sabino

A seguir, vamos ler algumas frases retiradas de entrevista concedida à escritora Clarice Lispector (1920-1977), em 25 de janeiro de 1969:

“É penoso ter de inventar.”

“O sucesso sempre atrapalha: neutraliza a nossa necessidade de se afirmar.”

“Há muito tempo que não me dou esse luxo: o de inspirar-me.”

“A verdadeira inspiração é aquela que nos impele a escrever sobre o que não sabemos, justamente para ficar sabendo.”

“Sou sempre alegre — daquela alegria interior dos fronteiriços da debilidade mental e que, portanto, têm ainda uma oportunidade de salvação.”

“Amor é dádiva, renúncia de si mesmo na aceitação do outro.”

“Nunca me senti, como escritor, como parte de uma geração.”

“Sempre me senti sozinho e este talvez tenha sido o meu erro.”

“Quis aprender sozinho e perdi a inocência.”

“O artista é um inocente.”

“O que atrapalha a criação de um novo romance é a presunção de que somos capazes de criar.”

“Acho os santos uns chatos, pela inveja que me despertam, me fazendo ainda mais pecador.”

“A morte é o eterno repouso.”

Crédito da imagem

[1] Arquivo Nacional | Domínio público

[2] Grupo Editorial Record (reprodução)

Publicado por Warley Souza

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