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Mário de Andrade

Mário de Andrade é um importante escritor do Modernismo brasileiro. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1893, e morreu em 1945, nessa mesma cidade. Participou da Semana de Arte Moderna, que inaugurou o Modernismo no Brasil. Buscou divulgar, em seus textos, elementos da cultura brasileira e criar um sentimento de identidade nacional.

Seu livro mais conhecido é Macunaíma, que traz como subtítulo: “o herói sem nenhum caráter”. Nessa obra, o escritor, além de mostrar elementos do folclore nacional, traça um perfil bastante crítico do caráter do povo brasileiro. Mas pretende também divulgar aquilo que ele chamava de “língua brasileira”, com características distintas do português formal. Como escreveu o autor, em seu livro Pauliceia desvairada: “Escrevo brasileiro”.

Mário de Andrade, grande entusiasta do Modernismo no Brasil.
Mário de Andrade, grande entusiasta do Modernismo no Brasil.

Biografia de Mário de Andrade

Mário de Andrade nasceu em 09 de outubro de 1893. Aos dez anos de idade, escreveu seu primeiro poema. Mas o escritor não se dedicou apenas à literatura, estudou piano e canto. Em consequência disso, tornou-se professor de História da Música e da Estética no Conservatório Dramático e Musical da cidade de São Paulo, em 1922. Foi também diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, de 1935 a 1938.

Participou da Semana de Arte Moderna, que ocorreu em 1922. Como celebração dos cem anos de Independência do Brasil, artistas de várias áreas reuniram-se no Theatro Municipal de São Paulo para apresentar suas obras. Pretendiam divulgar uma arte nova, moderna. Buscavam, portanto, romper com a tradição, isto é, a arte que vinha sendo produzida até aquele momento.

Teatro Municipal de São Paulo, onde ocorreu a Semana de Arte Moderna em 1922.
Theatro Municipal de São Paulo, onde ocorreu a Semana de Arte Moderna em 1922.

Foi Mário de Andrade um dos idealizadores da Semana de 22. O escritor mostrava, assim, seu intuito de romper com a arte do passado e criar uma arte nova e mais comprometida com a cultura brasileira, fundada na diversidade de um país que sempre recebeu variadas influências culturais: indígenas, africanas e europeias.

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Escreveu para jornais e revistas, como para o Jornal do Comércio, em que escreveu artigos contra o Parnasianismo, estilo de época atacado pelos modernistas, e para a Revista Klaxon, uma das responsáveis pela divulgação do movimento modernista. Além disso, publicou vários livros, de diversos gêneros: poesia, romance, conto, crítica, ensaio. Sua obra Contos novos foi publicada após a morte do autor, ocorrida em 25 de fevereiro de 1945.

Leia também: Carolina Maria de Jesus – importante nome da literatura negra do Brasil

Características literárias de Mário de Andrade

Mário de Andrade está vinculado à primeira geração modernista (1922-1930), que apresenta as seguintes características:

  • Pretende “destruir” os padrões da arte conservadora, com o objetivo de criar uma arte nova e mais livre; por isso, essa primeira geração é conhecida também como “fase de destruição”.
  • Opõe-se aos valores artísticos do passado, particularmente do século XIX, como os do Romantismo e do Parnasianismo; ataca, portanto, a idealização romântica (O Romantismo buscava um mundo ideal, perfeito, afastado da realidade.) e o rigor formal parnasiano (preocupação com a forma do poema no que se refere à metrificação).
  • Busca identidade própria e liberdade de expressão, ou seja, uma literatura não mais comprometida com uma estética europeia, mas que pretende divulgar “a cara do Brasil”.
  • Realiza uma releitura crítica dos símbolos da nacionalidade (como o índio romântico).
  • Em prol da liberdade de criação, quebra com a estrutura tradicional do romance e com o rigor formal da poesia, que passa a ser escrita com versos livres (sem métrica e sem rima).
  • Empenha-se em aproximar fala e escrita, na defesa de uma “língua brasileira”, distinta do português formal; assim, são valorizados não só os regionalismos, mas também os “erros” gramaticais, que se tornam marcas de nacionalidade.

Obras de Mário de Andrade

  • Há uma gota de sangue em cada poema (1917) - poesias
  • Pauliceia desvairada (1922) - poesias
  • A escrava que não é Isaura (1925) - ensaio
  • O losango cáqui (1926) - poesias
  • Primeiro andar (1926) - contos
  • Amar, verbo intransitivo (1927) - romance
  • Clã do jabuti (1927) - poesia
  • Macunaíma (1928) - romance
  • Modinhas imperiais (1930) - modinhas
  • Remate de males (1930) - poesia.
  • Música, doce música (1934) - crítica
  • Belazarte (1934) - contos.
  • O Aleijadinho e Álvares de Azevedo (1935) - ensaios
  • Poesias (1941) - poesias
  • O movimento modernista (1942) - memórias
  • O empalhador de passarinho (1944) - artigos
  • Contos novos (1947) - contos
  • Macunaíma

Capa do livro Macunaíma, de Mário de Andrade, da editora Nova Fronteira.[1]
Capa do livro Macunaíma, de Mário de Andrade, da editora Nova Fronteira.[1]

Macunaíma é o livro mais famoso do escritor Mário de Andrade. Esse romance modernista traz uma visão crítica da identidade do povo brasileiro. O personagem Macunaíma, “o herói sem nenhum caráter”, é uma releitura crítica de um símbolo nacional: o índio. Nessa perspectiva, o autor dialoga com a primeira geração romântica, que traz um índio idealizado, ou seja, distanciado da realidade.

Assim, o índio Macunaíma afasta-se da idealização do índio romântico. Macunaíma é preguiçoso e malandro, já o índio do Romantismo brasileiro é corajoso e honesto. Porém, ao mesmo tempo em que o escritor faz uma crítica ao caráter do povo brasileiro, ele também apresenta um personagem libertário e imperfeito, o que distancia o herói modernista do herói tradicional.

A obra chama a atenção pelo seu aspecto folclórico, que busca fortalecer a identidade cultural brasileira. A cultura indígena está presente nessa obra de forma intensa, tanto em relação ao vocabulário quanto em relação aos personagens típicos dessa cultura. Assim, o escritor pretende fazer um resgate da cultura nativa, parte essencial da formação do povo brasileiro.

No início do romance, o protagonista é apresentado ao leitor. Diz o narrador: “Já na meninice fez coisas de sarapantar”, isto é, coisas de se espantar. “De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava: —  Ai! que preguiça!...”. Pode-se perceber, nesse trecho, a conjunção “se” escrita da forma como é falada: “si”. A aproximação da fala e da escrita faz parte dos ideais da primeira geração modernista.

Além disso, se entendemos que o personagem Macunaíma é a representação do povo brasileiro, a fala do herói — “Ai! que preguiça!” — pode ser uma marca negativa desse povo. Essa crítica também pode ser verificada no seguinte trecho: “Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém”. Assim, seu caráter interesseiro e materialista é evidenciado.

O erotismo é outro traço da cultura brasileira, que pode ser visualizado nos seguintes trechos: “E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus”;  “No mocambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava”.

Por outro lado, Macunaíma respeitava a religião, outro elemento forte na cultura brasileira. Assim, o protagonista “frequentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo”.

O livro Macunaíma relata as aventuras de um herói brasileiro, que sai da floresta amazônica e chega a São Paulo. Durante o percurso, vive peripécias e desventuras, para, no final, retornar ao seu lugar de origem, a sua pátria. O personagem Macunaíma realiza a sua odisseia. No entanto, não é um herói grego|3|, é um herói brasileiro. Não encontra nenhum ciclope ou ninfa em seu caminho, mas se depara com o curupira, com a Ci (a mãe do mato) e com a Uiara, personagens da cultura brasileira.

Veja também: Memórias póstumas de Brás Cubas – primeiro romance realista do Brasil

Frases

O escritor Mário de Andrade viveu intensamente a arte e a escrita literária. Vamos então ler algumas frases, extraídas do prefácio do livro Pauliceia desvairada, em que ele reflete sobre a arte da escrita:

“Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita.”

“Todo escritor acredita na valia do que escreve. Si mostra é por vaidade. Si não mostra é por vaidade também.”

“A inspiração é fugaz, violenta.”

“Arte é mondar mais tarde o poema de repetições fastientas, de sentimentalidades românticas, de pormenores inúteis ou inexpressivos.”

“Que Arte não seja porém limpar versos de exageros coloridos.”

“Virgílio, Homero, não usaram rima.”

“A língua brasileira é das mais ricas e sonoras. E possui o admirabilíssimo ‘ão’”.

“Escrever arte moderna não significa jamais para mim representar a vida atual no que tem de exterior: automóveis, cinema, asfalto.”

“O passado é lição para se meditar, não para reproduzir.”

“Aliás versos não se escrevem para leitura de olhos mudos.”

“Em arte: escola = imbecilidade de muitos para vaidade dum só.”


Crédito da imagem

[1] Nova Fronteira | Ediouro (Reprodução)

Publicado por Warley Souza
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