Casca de banana pode descontaminar água
Em face das necessidades humanas, diversos compostos têm sido produzidos e comercializados com as mais diversas finalidades. Entretanto, um aspecto negativo é que o uso desses compostos pode gerar resíduos que contêm metais pesados, tóxicos e radioativos, que causam grande impacto ambiental.
Os agrotóxicos, defensivos agrícolas e pesticidas usados no controle de pragas e doenças das plantas, bem como os fertilizantes usados para fornecer os nutrientes necessários ao crescimento e produção dos vegetais, são exemplos de compostos que geram esses transtornos e perigos ambientais, principalmente causando a contaminação das águas com metais pesados e radionuclídeos.
Com a intenção de recuperar os recursos já prejudicados, como as águas poluídas, é necessária a criação de novas tecnologias que visem ao tratamento desses efluentes e que sejam eficientes e economicamente viáveis. Com isso em mente, a pesquisadora Milena Boniolo realizou pesquisas no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba, São Paulo, que estudou o potencial uso das cascas de banana na descontaminação de águas poluídas.
A ideia é interessante principalmente por ser um projeto que visa ao desenvolvimento sustentável, pois a banana é um fruto bastante presente nos mercados mundiais, mas que também é alvo de grande desperdício, principalmente porque as suas cascas geralmente são descartadas e somente a polpa é utilizada.
Para se ter uma ideia, as estimativas apontam que, no Brasil, há um desperdício de cerca de 20 a 40% das bananas produzidas, o que representa mais de dois bilhões de dólares. A quantidade de cascas de bananas jogadas fora nos restaurantes e redes de fast-food de São Paulo chega a mais de quatro toneladas por semana.
Assim, com essa proposta, há um reaproveitamento de uma matéria-prima importantíssima que iria parar no lixo, tornando essa técnica de baixo custo.
Basicamente, o processo de descontaminação das águas é feito da seguinte maneira:
Etapas do preparo do pó de casca de banana que pode ser usado na descontaminação da água
Depois de ficar 24 horas no dessecador, a pesquisadora analisou o material por meio de microscopia eletrônica de varredura (MEV) e espectroscopia de infravermelho (IR). Com isso, foi descoberto que as superfícies das cascas de banana possuem moléculas negativas que podem ser usadas para adsorver os metais pesados que são positivos, como o caso do chumbo (Pb2+) e do cádmio.
Assim, o pó da casca de banana foi colocado em contato com uma solução nítrica de urânio em um agitador mecânico. Depois de deixar o sistema decantar, separou-se o sobrenadante e descobriu-se que esse pó atuou como um grande adsorvente do urânio, mais especificamente dos íons uranilo (UO22+). Entre os principais responsáveis pela adsorção dos íons urânio, estão os grupos carbonila (C = O ) e hidroxila (OH), que são negativos e que estão presentes em todo carboidrato da casca de banana, como na celulose, hemicelulose, lignina e derivados.
Os resultados mostraram-se bastante promissores, pois, no mínimo, descontamina-se cerca de 65% de urânio da água. Se esse processo for repetido várias vezes, pode chegar a 90%.