Química do chulé
Constantemente entramos em contato com o mau cheiro, seja ele de qualquer origem. Nessas situações, o cérebro faz uma associação rápida com uma situação ou ambiente desagradável. Quando estamos em uma mata, por exemplo, e sentimos um odor muito forte e desagradável, imaginamos logo que naquele local possa haver algum animal morto. Isso acontece porque o cérebro relaciona o cheiro sentido com alguma outra situação já vivida por nós com esse mesmo odor. Dessa forma, quando nos deparamos com o cheiro, por exemplo, de vômito, fezes, chulé, entre outros, mesmo sem vê-los, logo identificamos do que se trata.
Cada mau cheiro, quimicamente falando, está relacionado com uma determinada substância química que possui as seguintes características:
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Orgânica (apresenta principalmente carbono e hidrogênio em sua estrutura);
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De peso molecular de até 294 g/mol;
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Boa solubilidade em água;
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Está no estado gasoso;
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Alta pressão de vapor (evapora muito facilmente);
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Possui baixa interação molecular (estando essa substância no estado gasoso);
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Capacidade de realizar uma interação intermolecular com os receptores sensoriais do nariz.
O mau cheiro também está relacionado com a concentração da substância ao chegar aos receptores do nariz, pois é comum que uma mesma substância promova um odor agradável ou desagradável, a depender de sua concentração ao chegar às narinas.
Exemplo: A substância Geraniol, ao chegar ao nariz em alta concentração, promove o odor de fezes de animais; mas se estiver em baixa concentração, causará o odor de jasmim. Só por curiosidade, veja a estrutura química e as características do geraniol:
Fórmula estrutural do geraniol
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Ácido orgânico;
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Monocarboxílico (apresenta um grupo carboxila, COOH);
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Saturado (possui ligações simples entre os átomos de carbono);
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Massa molar de 102 g/mol;
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Pertence à série de ácidos graxos.
Como são vários os maus cheiros e as substâncias que os provocam, neste artigo vamos tratar de um em específico e de suas características químicas: o chulé, um odor muito característico e conhecido por todos nós. Não só conhecido, como temido, já que ninguém deseja ser lembrado por trazer esse cheiro consigo.
O chulé recebe o nome científico de bromidrose e é provocado pelo ácido valérico, cuja estrutura química é a apresentada a seguir:
Fórmula estrutural do ácido valérico
O ácido valérico é formado na região dos pés pela ação de bactérias na presença de grande umidade, ausência de luz e calor, já que esses fatores favorecem sua proliferação. Esses micro-organismos alimentam-se de pele morta e componentes do suor (água, sais minerais, ureia, fenóis e dejetos nitrogenados), o que resulta na formação do ácido.
Em algumas pessoas, existe ainda a presença de um odor de queijo associado ao chulé. Isso ocorre pela formação de um composto orgânico denominado etanotiol, um tioálcool que possui a seguinte estrutura química:
Fórmula estrutural do etanotiol
Uma curiosidade sobre o etanotiol envolve o fato de ele ser muito utilizado para detectar vazamentos em tubulações de gás natural, já que este não apresenta odor e, quando vaza, não pode ser detectado sem a presença daquele.
Os hábitos mais comuns que favorecem a formação do chulé em um indivíduo são:
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Utilizar o mesmo calçado por dias consecutivos;
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Utilizar calçados fechados (aumentam o calor e o suor);
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Não lavar bem os pés (principalmente entre os dedos);
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Não secar bem os pés após lavá-los;
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Utilizar com frequência calçado de borracha ou plástico (aumentam o suor e retêm muito a umidade);
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Utilizar meias de náilon;
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Presença de doenças, como micoses, na região dos pés.
Calçados de plásticos favorecem o desenvolvimento do chulé
Para evitar o chulé ou mesmo combatê-lo, algumas medidas são bem interessantes e eficazes:
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Utilizar calçados mais arejados;
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Utilizar calçados de tecido ou couro;
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Lavar bem os pés e a área entre os dedos;
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Secar bem os pés após a lavagem;
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Utilizar meias de algodão;
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Passar as meias com ferro de passar (para esterilizar, ou seja, matar bactérias);
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Tratar com um médico as micoses ou frieiras presentes nos pés;
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Usar talco antisséptico nos pés após higienizá-los (ele absorve umidade);
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Deixar o calçado utilizado repousando em local arejado e ensolarado e só voltar a usá-lo pelo menos após 24 horas.