Catolicismo
O catolicismo é a maior denominação cristã do mundo e do Brasil. Também é uma das denominações mais antigas, com quase dois mil anos de história. A Igreja Católica Apostólica Romana passou a ser edificada ainda no século I, quando os apóstolos e discípulos de Cristo, após sua morte, difundiram o cristianismo pelo Império Romano.
Nos primeiros séculos, os cristãos foram perseguidos pela população e pelas autoridades romanas. Apesar disso, o cristianismo cresceu e se tornou a principal religião do império e a religião oficial do Estado romano no século IV.
Na Idade Média, o catolicismo se consolidou como a principal religião da Europa, e os papas passaram a ter grande poder. Na época das grandes navegações, o catolicismo foi levado por missionários para diversos lugares do mundo, chegando ao Brasil nesse período.
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Resumo sobre catolicismo
- O catolicismo é a maior tradição cristã do mundo, com mais de 1,3 bilhão de católicos em todo o mundo.
- Sua igreja é a Igreja Católica Apostólica Romana, com sede no Vaticano, sob a liderança do papa.
- Pela tradição católica, o apóstolo Pedro foi o primeiro papa.
- Por meio da Expansão Marítima Europeia, o catolicismo se difundiu por todo o mundo.
- O Brasil é atualmente o maior país católico do mundo.
- Em 1054, ocorreu a Cisma do Oriente, chamado também de Grande Cisma, em que a Igreja cristã se dividiu em duas.
- Em 1517, iniciou-se a Reforma Protestante, processo que levou a uma nova divisão no catolicismo e à origem das Igrejas protestantes.
- No catolicismo popular, são comuns manifestações como procissões, promessas, festas e simpatias.
- Atualmente, os católicos são mantenedores de milhares de orfanatos, escolas, creches, hospitais, ambulatórios e muitas outras instituições educacionais e assistencialistas em todo o mundo.
O que é o catolicismo?
Catolicismo é uma tradição cristã que se originou do Oriente Médio há quase dois mil anos, e seus fiéis são chamados no Brasil de “católicos”. O nome “catolicismo” provém do nome da sua Igreja, a Igreja Católica Apostólica Romana. A palavra “católica” tem origem grega e significa algo como “universal” ou “que abrange tudo”.
Segundo dados do Vaticano, existem no mundo aproximadamente 1,3 bilhão de católicos batizados, e o catolicismo é a maior denominação cristã do mundo. O IBGE ainda não divulgou os dados sobre religião coletados no Censo de 2022, mas, no Censo anterior, de 2010, 64% dos brasileiros se declararam católicos, já o número dos que se declararam evangélicos foi de 22,2%.|1|
Principais características do catolicismo
A primeira característica do catolicismo é a crença na chamada Santíssima Trindade, composta por Deus, seu filho, Jesus Cristo, e o Espírito Santo. Embora seja uma trindade, no catolicismo ela é considerada una, pois tanto o Espírito Santo quanto Jesus Cristo são vistos como manifestações de Deus pai.
No catolicismo, o bispo de Roma, chamado de papa, é a autoridade máxima da Igreja, e São Pedro, apóstolo de Cristo, é considerado o primeiro papa. Segundo a crença católica, São Pedro, martirizado há quase dois mil anos, está sepultado no Vaticano, na Basílica de São Pedro, abaixo do baldaquino.
Os sacerdotes do catolicismo são organizados em rígida hierarquia, com o papa ocupando o topo dela. Um dos dogmas católicos é o da infalibilidade do papa, crença de que ele nunca erra em suas manifestações religiosas, de fé e costumes, uma vez que ele é assistido pelo Espírito Santo.
Abaixo do papa estão os cardeais, atualmente a Igreja Católica tem 235 cardeais em todo o mundo, sendo 122 deles considerados eleitores em um futuro conclave, espécie de eleição na qual os cardeais escolhem o novo papa. O conclave, que significa “com chave”, ocorre na Capela Sistina, e qualquer um dos 122 cardeais eleitores pode ser escolhido como novo papa.
O Brasil tem atualmente sete cardeais, sendo seis deles eleitores no conclave e potenciais papas. Abaixo dos cardeais, estão os arcebispos, seguidos por bispos, monsenhores, padres e diáconos.
Todos os sacerdotes católicos devem seguir o celibato, ou seja, não podem manter relações sexuais ou se casar, tradição mantida pela Igreja Católica desde o século IV. Para os católicos, o celibato permite ao sacerdote a sua dedicação exclusiva a Deus, à Igreja e aos fiéis.
A crença nos santos é outra característica do catolicismo. Para os católicos, os santos são pessoas que já estão no céu, ao lado de Deus, e que esperam a nova aparição de Cristo na Terra. Para se tornar um santo, a pessoa deve ter praticado, no mínimo, dois milagres, em vida ou post mortem.
Os santos também são considerados indivíduos que fizeram obras admiráveis e cujas vidas servem de inspiração para os demais católicos. Alguns santos católicos são: São Pedro, São Paulo, Santa Maria, São José, São Tiago, São Benedito, entre tantos outros.
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Igreja Católica Ortodoxa x Igreja Católica Romana
Após a morte de Cristo, seus apóstolos e outros cristãos levaram o cristianismo para diversas partes do Império Romano, e, com o passar do tempo, diversas comunidades cristãs se formaram no Velho Mundo. Permanecendo relativamente isoladas, essas comunidades cristãs desenvolveram ritos, crenças, datas celebrativas, dogmas e diversas liturgias.
Com o objetivo de unir essas diferentes comunidades e criar consensos entre elas, Constantino I convocou o Concílio de Niceia, que ocorreu no ano de 325 d.C. Participaram desse concílio bispos de diversas igrejas cristãs, e nele foram discutidas a natureza divina de Jesus Cristo e a Santíssima Trindade. Também foram estabelecidos critérios para a escolha de datas sagradas, entre elas a Páscoa, definindo o modo utilizado ainda hoje.
Politicamente, uma importante mudança ocorreu em 395, quando o Império Romano foi dividido em duas partes, a Oriental, com a capital em Constantinopla, e a Ocidental, cuja capital era Roma.
No século VI, durante o governo de Justiniano I, foi criada a Pentarquia, sistema no qual a Igreja cristã se organizou em cinco patriarcados: Roma, Constantinopla, Antióquia, Alexandria e Jerusalém. Os cinco patriarcas liderariam, em conjunto, a Igreja, mas, na prática, Roma continuou afastada dos outros patriarcados e foi acusada por estes de tentar impor o papismo à cristandade.
No início do século XI, os atritos entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente se acirraram novamente e culminaram, em 1054, no Grande Cisma, quando uma se tornou independente da outra de forma definitiva. Roma utilizava o latim em sua liturgia, e, os outros quatro patriarcados, o grego. Por esse motivo, a Igreja Ortodoxa também é chamada de Igreja Ortodoxa Grega.
O papa católico não é considerado um patriarca ortodoxo. A Igreja Ortodoxa existe por meio da comunhão de diversas Igrejas autocéfalas, ou seja, que têm independência política, como a Igreja Ortodoxa da Rússia, da Armênia, Ucrânia e muitas outras.
Cada Igreja tem o seu patriarca, que ocupa a posição de forma vitalícia, e, após sua morte, seu sucessor é escolhido por meio de um sínodo. O patriarca ecumênico de Constantinopla, com sede em Istambul, é considerado primus inter pares, o primeiro entre iguais.
Catolicismo popular e catolicismo social
O catolicismo popular é aquele praticado pelo povo, muitas vezes sem a participação de um sacerdote da Igreja Católica. Romarias, festas, procissões, promessas e diversas outras manifestações fazem parte do catolicismo popular.
No catolicismo popular, muitas vezes ocorre o sincretismo entre tradições católicas e tradições locais, como no México, onde o Dia de Finados mescla tradições do catolicismo com tradições pré-colombianas.
Teorizado pelo padre francês Robert de Lamenais (1782-1854), o catolicismo social ou socialismo cristão consiste na ação política de setores da Igreja Católica na busca da reforma do capitalismo para melhorar a qualidade de vida das pessoas, reduzir a desigualdade social e a exploração dos seres humanos.
O papa Leão XIII promulgou, em 15 de maio de 1891, a encíclica Rerum Novarum, sobre as condições dos operários, que deu oficialmente início à doutrina social pela Igreja Católica, prática antes restrita a setores da Igreja.
Na década de 1960, ganhou força entre os católicos a teologia da libertação. Esta defende que a Igreja deve ajudar a população pobre a reivindicar seus direitos e a ter uma visão crítica da realidade. A teologia da libertação também pode ser considerada uma doutrina do catolicismo social.
Catolicismo no Brasil
O catolicismo chegou ao Brasil com a expedição de Pedro Álvares Cabral, que aportou por aqui em 22 de abril de 1500. Quatro dias depois, o frei Henrique Soares de Coimbra rezou a primeira missa no território do que viria a ser o Brasil. Ela foi assistida por alguns indígenas, conforme relato de Pero Vaz de Caminha.
Em 1549, chegaram ao nosso país os primeiros padres jesuítas, na expedição do primeiro governador-geral, Tomé de Sousa. Os jesuítas e outros padres católicos foram responsáveis por difundir o cristianismo na colônia lusitana, construindo no território português na América diversas missões, nas quais catequizavam os indígenas e os filhos dos colonos, tornando-os católicos.
Durante quase todo o Período Colonial, o catolicismo foi a única religião permitida no Brasil, embora muitos grupos protestantes, judaicos, muçulmanos e de religiões de matriz africana professassem suas religiões secretamente. Em 1808, isso mudou com a chegada da família real ao Brasil e a assinatura de um decreto de Dom João VI que permitiu o culto de outras religiões na colônia portuguesa.
Após a independência, o Brasil continuou um país oficialmente católico e não havia separação entre Estado e Igreja. Durante o império, a Igreja Católica era responsável pela emissão de documentos oficiais, como certidão de nascimento, de casamento e de óbito.
Os salários dos sacerdotes que atuavam no Brasil eram pagos pelo Estado brasileiro, assim como parte dos custos da Igreja. Somente após a proclamação da república e a promulgação da Constituição de 1891, o Brasil se tornou um Estado laico.
Atualmente o Brasil é o país com maior número de católicos do mundo, seguido por México, Filipinas e Estados Unidos. No Censo de 2010, cerca de 126 milhões de brasileiros se declararam católicos, o que corresponde a 65% dos brasileiros e a 11,7% dos católicos de todo o mundo. No entanto, pesquisas atuais indicam que esse número caiu para aproximadamente 50% da população brasileira devido ao crescimento do protestantismo aqui.
Catolicismo no mundo
O catolicismo deixou o Velho Mundo e foi levado para todo o planeta durante a expansão marítima europeia, por meio da ação missionária de diversas ordens católicas.
Segundo dados do Centro de Pesquisa Aplicada no Apostolado, existiam no mundo aproximadamente 1,3 bilhão de católicos em 2021, com um aumento de 10% em relação ao ano de 2013.|2|
Houve crescimento em todos os continentes, exceto na Europa, onde ocorreu uma redução de 244 mil fiéis no mesmo período. Em 2021, a Igreja Católica tinha 407.872 sacerdotes, entre cardeais, arcebispos, bispos e padres.
A Igreja Católica também tem um importante papel assistencialista e educacional em todo o mundo. Na Europa, ela foi a maior responsável pela educação na Idade Média e pela fundação das primeiras universidades. Atualmente a Igreja Católica administra cerca de 74 mil escolas de educação infantil em todo o mundo, mais de 100 mil escolas de ensino fundamental e mais de 49 mil escolas de ensino médio. Também é mantenedora de diversas universidades.
Desde a Idade Média, a Igreja Católica também teve importante papel na saúde pública na Europa e, depois da expansão marítima e do catolicismo, em outros continentes. Em 2023, eram administrados em todo o planeta pelos católicos 5406 hospitais, 14.205 ambulatórios, 567 hospitais de hanseníase, 15.276 lares para idosos, 9703 orfanatos, 10.567 creches, 10.604 centros de aconselhamento matrimonial, 3287 centros de reeducação social, entre tantas outras instituições.|3|
Qual a diferença entre catolicismo e cristianismo?
O cristianismo é a religião monoteísta que acredita nos ensinamentos de Jesus Cristo, o filho de Deus que foi crucificado e que ressuscitou após três dias. O cristianismo é uma das maiores religiões do mundo. Já o catolicismo é uma tradição do cristianismo, assim como o protestantismo e a ortodoxia. Para saber mais sobre o cristianismo, clique aqui.
Qual a diferença entre catolicismo e protestantismo?
Catolicismo e protestantismo são duas denominações do cristianismo. O catolicismo passou a ser construído no final da Idade Antiga e foi hegemônico na Europa Medieval, com o papa tendo mais poder do que os reis em muitos períodos. Os católicos têm como autoridade máxima o papa e acreditam na sua infalibilidade. Eles também acreditam nos santos e nos seus milagres.
Em 1517, um monge católico chamado Martinho Lutero divulgou suas 95 teses, nas quais criticou a Igreja Católica, sendo excomungado pelo papa. Protegido pela nobreza germânica, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão e fundou a Igreja Luterana. Esta foi a primeira Igreja protestante, mas diversas outras passaram a ser criadas, fenômeno que ocorre ainda hoje.
De forma geral, a autoridade do papa, a crença nos santos, o uso de imagens e a forma de salvação da alma são as principais diferenças entre protestantes, também chamados evangélicos, e católicos.
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Origem e história do catolicismo
Historicamente o catolicismo se desenvolveu a partir do século I, após a morte de Cristo, quando cristãos migraram da região do Levante para outras regiões do Império Romano, inclusive para Roma.
Os cristãos se recusavam a cultuar os deuses romanos, a participar de cerimônias religiosas, a realizar ofertas aos deuses e ao imperador, considerado divino. A primeira perseguição organizada pelo Estado romano ocorreu durante o governo de Nero, no século I; outras ocorreram no século III, durante os governos de Valeriano e Diocleciano. Apesar das perseguições, o número de cristãos continuou a crescer, com a conversão de novos fiéis do império.
Em 313, o imperador Constantino promulgou o Édito de Milão, que permitiu o cristianismo em todo o império e livrou os cristãos das obrigações religiosas romanas. Em 380, com o Édito de Tessalônica, Teodósio I transformou o cristianismo na religião oficial do Estado romano. Nesse período, a Igreja Católica Apostólica Romana já tinha uma organização semelhante à atual, com o papa sendo seu principal líder.
Na tradição católica, a origem do catolicismo remete a Pedro, apóstolo de Jesus Cristo que é considerado o primeiro bispo de Roma, ou seja, o primeiro papa da Igreja Católica.
Curiosidades sobre o catolicismo
- A Basílica de São Pedro, no Vaticano, é considerada o maior templo cristão do mundo. Ela foi construída no século XVI, século da Reforma Protestante.
- O papa da Igreja Católica é escolhido por meio de um Conclave, realizado na Capela Cistina e do qual participam cardeais católicos de todo o mundo.
- O mais longo conclave da história foi realizado entre 1268 e 1271. Nele foi nomeado o papa Gregório X. Em 1503, ocorreu o conclave mais rápido, ele durou um dia e elegeu Júlio II como papa.
- A cidade de Pilar, localizada a 34 quilômetros de Maceió, constrói atualmente o que se será a maior estátua de Cristo do mundo, com 70 metros de altura, o dobro do Cristo Redentor.
- Até agora, a maior estátua de Cristo é a de Cristo Rei, da Polônia, ela tem 48 metros de altura.
- Segundo a tradição católica, São Pedro foi o primeiro papa e o mais longevo, ocupando o posto por 37 anos.
- O Brasil tem oficialmente três feriados cristãos: O Dia de Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro), o Dia de Finados (2 de novembro) e o Natal (25 de dezembro). O Dia de Corpus Christi não é feriado nacional, ele é considerado ponto facultativo.
Créditos das imagens
[1] Marco Iacobucci Epp / Shutterstock
Notas
|1| IBGE. Estatísticas sociais. Censo 2010: número de católicos cai e aumenta o de evangélicos, espíritas e sem religião. Disponível em https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/14244-asi-censo-2010-numero-de-catolicos-cai-e-aumenta-o-de-evangelicos-espiritas-e-sem-religiao
|2| Centro de pesquisa do apostolado. Disponível em https://cara.georgetown.edu/
|3| VATICAN NEWS. Estatísticas da Igreja Católica em 2023. Disponível em https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2023-10/estatisticas-da-igreja-catolica-em-2023.html
Fontes
GOFF, Jaques Le. O Deus da Idade Média. Editora Record, São Paulo, 2006.
GOFF, Jaques Le. Em busca da Idade Média. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2016.
MANGO, Cyril. Bizâncio: o império da nova Roma. Editora Edições 70, São Paulo, 2018.