Estruturalismo
O estruturalismo, apesar de ser tomado como uma corrente de pensamento, é um modo ou método de análise das ciências humanas que teve sua origem na psicologia e perpassou a linguística, a sociologia, a antropologia e a filosofia no século XX, ganhando destaque entre intelectuais franceses. Basicamente a intenção do método estruturalista, para qualquer uma das ciências mencionadas, é identificar estruturas gerais de um todo analisando as suas partes.
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Estruturalismo e psicologia
Um dos pioneiros da psicologia, o médico, filósofo e psicólogo alemão Wilhelm Wundt é considerado também o precursor do método estruturalista na psicologia. Wundt passou a trabalhar com a chamada psicologia experimental, realizando um extenso trabalho laboratorial na tentativa de descobrir novos modelos de interpretação psicológica.
A tese de Wundt que o levou a desenvolver o método estruturalista estava baseada na ideia de que há uma estrutura geral da mente humana, que, indiferente às mudanças subjetivas de cada indivíduo, compunha uma espécie de estrutura geral da mente subjacente a qualquer ser humano. Dessa maneira a psicologia poderia estabelecer-se como uma ciência, pois ela não estaria tão sujeita ao fracasso científico proporcionado pela peculiaridade e especificidade de cada mente. A tarefa do psicólogo pelo método estruturalista era analisar o indivíduo como parte de um todo e tentar descobrir qual era a estrutura que compunha esse todo.
Estruturalismo linguístico
Enquanto Wundt teorizou a existência de uma estrutura comum cognitiva e psicológica, o filósofo e linguista suíço Ferdinand Saussure foi o responsável por definir o método estruturalista com mais clareza. O campo de estudos de Saussure, a linguística, era dominado pelo estudo da língua baseado na historicidade da composição linguística. Para o linguista não havia uma historicidade essencial que construiu a linguagem, mas uma série de elementos estruturais básicos elementares a todas as línguas.
A proposta de Saussure era compreender a linguagem de um ponto de vista sincrônico, entendendo-a como composta de dois elementos básicos: significante (expressão material de uma palavra escrita ou falada) e significado (o conceito ou ideia representado pela palavra).
A compreensão da linguística deveria dar-se por meio do entendimento dos signos linguísticos (elementos simbólicos singulares), fundando a semiologia, que seria uma vertente de estudo da linguística por meio dos signos e símbolos. Saussure nunca utilizou as expressões estrutura ou estruturalismo. No lugar de estrutura, ele usava o termo sistema.
Sociologia e antropologia
Inspirando-se no estruturalismo linguístico de Saussure e na teoria dos fatos sociais do sociólogo francês Émile Durkheim, além de inspirações no idealismo alemão, sobretudo do filósofo Immanuel Kant, o sociólogo, filósofo e antropólogo franco-belga Claude Lévi-Strauss levou o estruturalismo para a antropologia.
Havia, por parte dos estruturalistas anteriores, uma recusa ao empirismo como modo de obter-se conhecimento. Para Strauss, apesar da necessidade de a antropologia atuar empiricamente, o conhecimento maior e mais fundamental dessa ciência somente seria apreendido pelo método estruturalista.
Strauss baseou-se na tese de que há uma estrutura sociológica que permeia as formações sociais. Para que a antropologia lograsse êxito, ela precisaria compreender essa estrutura, que poderia ser entendida com o aprofundamento em culturas diferentes por meio do trabalho de campo. A compreensão dessas diferentes culturas entendidas como partes revelaria elementos comuns entre elas, o que faria com que as partes (cada cultura) fornecessem pistas para a compreensão do todo (a humanidade).
Strauss percebeu os primeiros elementos fortes para a sua tese estruturalista no contato com os índios brasileiros. Ele notou que, por mais que a cultura dos indígenas brasileiros estivesse distante da europeia e de outras, havia uma estrutura social com elementos minimamente parecidos.
Um desses elementos era o parentesco: em todas as culturas analisadas, o incesto era visto como algo abominável. Para evitá-lo, os casamentos deveriam ser feitos entre pessoas sem parentesco, colocando em contato famílias diferentes. Esse contato, na teoria de Strauss, proporcionou o início da troca entre famílias diferentes, o que permitiu a formação das sociedades.
Outra grande influência de Lévi-Strauss foi o antropólogo alemão Franz Boas. Boas começou a perceber as falhas da antropologia nascente no século XIX, criada por Edward Burnet Tylor e Herbert Spencer. Os dois últimos pensadores fundaram uma antropologia baseada no darwinismo social, que compreendia a existência de graus hierárquicos de culturas e civilizações ligados às “raças” das pessoas.
Boas defendeu a imersão nas culturas, por parte do antropólogo, de maneira neutra, despindo-se dos elementos de sua cultura e analisando a cultura estudada como algo diferente e com características próprias. Deixar de lado a própria cultura e para analisar a cultura alheia é o primeiro passo para evitar-se o etnocentrismo.
A imersão cultural de Franz Boas influenciou os antropólogos Alfred Radcliffe-Brown e Bronislaw Malinowski, que, assim como Lévi-Strauss, pegaram emprestado elementos da sociologia de Durkheim. No entanto, há uma diferença fundamental nos métodos antropológicos defendidos por esses pensadores.
Enquanto o estruturalismo de Claude Lévi-Strauss pretendia entender as estruturas fundamentais das sociedades por meio de suas estruturas internas, o funcionalismo, defendido por Malinowski e Radcliffe-Brown, pretendia analisar as sociedades com base nas funções internas que cada ação tinha. Toda e qualquer ação ou elemento social, como o casamento, a organização familiar ou a divisão social do trabalho, tinha uma função interna naquela sociedade e dizia respeito apenas àquele modelo social (ou ao modo como ele era praticado lá).
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Estruturalismo e filosofia
A filosofia francesa do século XX também sofreu influência do estruturalismo. Com o desgaste do existencialismo como modo predominante de fazer filosofia entre intelectuais franceses até a década de 1960, o estruturalismo ganhou mais espaço na produção filosófica, sobretudo sob a ótica de Michel Foucault.
Houve também a atuação de outros intelectuais renomados, como Roland Barthes e Thomas Althusser. A presença das discussões estruturalistas na filosofia, apesar de curta, foi intensa, tão intensa que surgiu o movimento pós-estruturalista, que consistiu na radicalização do estruturalismo. Nele Michel Foucault continua como um nome forte, além de terem surgido figuras como Jean-François Lyotard, Gilles Deleuze e Felix Guattari.
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