O que é fundamentalismo?

O fundamentalismo geralmente está associado a ideias sectárias, inflexíveis, sobre determinado tema, sobretudo com relação à religião.
A expressão “fundamentalismo” é fonte de muita discussão e controvérsia

É comum hoje em dia ouvirmos, lermos e assistirmos a noticiários que falam sobre o fundamentalismo religioso, sendo tal fundamentalismo geralmente associado às três religiões monoteístas de matriz abraâmica: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Todavia, há outras variações do emprego da expressão “fundamentalismo” que podem ser observadas no debate público, como “fundamentalismo político”, “fundamentalismo econômico” etc. Em todo caso, a expressão sempre denota um sentido negativo, indicando rigidez e inflexibilidade de opinião e compreensão. Além disso, no âmbito religioso, a palavra “fundamentalismo” também se associa a atos violentos, como o terrorismo, e a regimes políticos teocráticos, podendo, assim, ser confundida com outras duas expressões: fanatismo e extremismo (ou ainda sectarismo).

No entanto, o que é, de fato, fundamentalismo? Quando e em que contexto teve origem essa expressão? É o que veremos a seguir.

Origem da expressão “fundamentalismo”

O contexto de surgimento da palavra “fundamentalismo” é o imediato pós-Grande Guerra, isto é, os primeiros anos após a Primeira Guerra Mundial, terminada em 1918. A expressão foi formalmente definida pela primeira vez em 1920 por um pastor americano da Igreja Batista, chamado Curtis Lee Laws. Curtis Laws estava vinculado ao movimento protestante americano que era contrário ao segmento protestante liberal de fins do século XIX. Como especifica a pesquisadora Karen Armstrong, em sua obra Em nome de Deus – o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo:

A campanha fundamentalista assumiu um caráter de batalha. Seus líderes constantemente utilizavam imagens bélicas. “Creio que chegou o momento em que as forças evangelizadoras deste país, basicamente os institutos bíblicos, devem não só se levantar para defender a fé, mas compor uma frente unida e ofensiva”, escreveu E. A. Wollam no Christian Workers Magazine. Na mesma edição James M. Gray expressou sua concordância, proclamando a necessidade “de uma aliança ofensiva e defensiva na Igreja”. Num encontro da Northern Batist Convention, em 1920, Curtis Lee Laws definiu “fundamentalista” como alguém que está disposto a recuperar territórios perdidos para o Anticristo e “lutar pelos fundamentos da fé”. [1]

A batalha a que se refere a autora era no âmbito doutrinal e exegético. Os fundamentalistas, que estavam ligados a instituições como a editora Tes-timony Publishing Company, que editou a The fundamentals, pregavam a necessidade de afirmação dos dogmas do protestantismo tradicional, como a infalibilidade das escrituras. Nesse sentido, um dos alvos desse grupo de fundamentalistas era a abertura que outros protestantes davam para discursos científicos, como a teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin.

Intolerância e ações violentas

O fato é que tal expressão, nascida nesse contexto de acalorados debates teológicos, acabou migrando, sobretudo via imprensa, para campos diretamente relacionados à intolerância e ações violentas praticadas por pessoas que, mais do que propriamente preocupadas com os fundamentos de determinada religião, seguiam preceitos sectários e ideológicos. Por isso, é preciso diferenciar a defesa de doutrinas e dogmas religiosos, que permanecem no campo do debate, de ações violentas.

Um caminho possível é conhecer as ideologias que se servem das doutrinas religiosas para tais fins. Foi o caso, por exemplo, dentro do catolicismo irlandês, do grupo terrorista IRA. Esse grupo paramilitar católico que pregava a agenda política de separação da Irlanda do Norte do Reino Unido valia-se de atos terroristas e outras ações violentas, que eram alimentados por um discurso político misturado com a doutrina católica.

Nos EUA, o caso da Ku Klux Klan também é emblemático, já que tal “clã” era uma seita que misturava ideologias raciais e eugenistas com protestantismo puritano. O caráter de seita era evidente na KKK, com o uso de túnicas, capuzes e cruzes flamejantes.

Outro caso é do wahhabismo islâmico, desenvolvido no século XVIII, que desembocaria em associações como a Irmandade Muçulmana, fonte intelectual de muitos terroristas islâmicos, como o Osama Bin Laden.

NOTAS

[1] ARMSTRONG, Karen. Em nome de Deus – o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo. Trad. Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 157.

Publicado por Cláudio Fernandes
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