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Guerra do Contestado

A Guerra do Contestado foi um conflito armado na região fronteiriça entre Santa Catarina e Paraná. Envolveu sertanejos em disputas territoriais contra as autoridades.
Aviação do Exército brasileiro na Guerra do Contestado.
Aviação do Exército brasileiro na Guerra do Contestado.

A Guerra do Contestado foi um conflito armado na região fronteiriça entre Santa Catarina e Paraná que ocorreu entre 1912 e 1916. Envolveu sertanejos em disputas territoriais contra as autoridades estaduais e brasileiras.

As causas fundamentais incluíram a disputa pela posse de terras, intervenção governamental e movimentos messiânicos, notadamente liderados pelo beato José Maria. O conflito chegou ao fim em 1916, marcado por confrontos violentos e pela derrota dos rebeldes frente às forças governamentais. Suas consequências foram profundas, resultando na destruição de comunidades, dispersão da população e repressão aos movimentos sociais, deixando uma marca duradoura na cultura e identidade da região.

Leia também: Revolução Federalista — outro conflito ocorrido no Sul do Brasil

Resumo sobre a Guerra do Contestado

  • A Guerra do Contestado foi um conflito armado entre 1912 e 1916 que envolveu sertanejos e autoridades estaduais na disputa por terras na região entre Santa Catarina e Paraná.
  • No início do século XX, mudanças econômicas, como a expansão da erva-mate e a chegada da ferrovia, contribuíram para tensões na região, culminando na Guerra do Contestado.
  • A disputa pela posse de terras, a presença governamental e as transformações econômicas foram causas fundamentais, agravadas por movimentos messiânicos, como o liderado pelo beato José Maria.
  • O beato José Maria liderou o movimento messiânico, mobilizando seguidores, enquanto o coronel João Gualberto representava as forças governamentais na tentativa de controlar a situação.
  • Em 1916, as forças governamentais conseguiram reprimir os sertanejos, pondo fim à Guerra do Contestado, marcada por confrontos violentos e pela derrota dos rebeldes.
  • A guerra resultou na destruição de comunidades, dispersão da população e repressão aos movimentos sociais, deixando uma marca duradoura na cultura e identidade da região.

O que foi a Guerra do Contestado?

A Guerra do Contestado foi um conflito armado que ocorreu entre 1912 e 1916, na região fronteiriça entre Santa Catarina e Paraná, no Brasil. Essa disputa territorial envolveu diversos grupos sociais, como sertanejos caboclos, posseiros e membros de movimentos messiânicos, contra as forças governamentais dos estados envolvidos.

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Contexto histórico da Guerra do Contestado

A virada do século XIX para o XX foi marcada por mudanças significativas na sociedade brasileira. A economia passou por transformações, com a expansão da produção e exportação de produtos agrícolas, como a erva-mate.

Soma-se a isso o advento das ferrovias na virada do século XX, que trouxe consigo uma série de transformações que afetaram profundamente as comunidades sertanejas e posseiras da área fronteiriça entre os estados de Santa Catarina e Paraná. Por um lado, facilitou o transporte de mercadorias e pessoas, promovendo o desenvolvimento de setores comerciais e industriais, mas, por outro, esse avanço trouxe consigo um conjunto de desafios e conflitos.

Leia também: Guerra de Canudos — outro sangrento conflito da República Velha

Causas da Guerra do Contestado:

Diversos fatores contribuíram para o surgimento da Guerra do Contestado. A questão da posse de terras era central, com disputas entre posseiros e grandes empresas que buscavam expandir suas atividades na região. A presença do governo na forma de forças militares para desocupar terras contestadas intensificou as tensões. Além disso, movimentos messiânicos e religiosos, como o do beato José Maria, ganharam força entre a população, contribuindo para a resistência contra as autoridades.

Dentre as causas da Guerra do Contestado, pode-se destacar:

  1. Disputas territoriais: A região do Contestado era alvo de disputas entre posseiros, sertanejos e grandes empresas que buscavam expandir suas atividades econômicas, como a extração de madeira e a produção de erva-mate.
  2. Intervenção governamental: O governo estadual interveio na região, enviando forças militares para desocupar áreas contestadas e impor a ordem.
  3. Movimentos messiânicos: A presença de líderes messiânicos, como o beato José Maria, mobilizou uma parcela significativa da população.
  4. Transformações econômicas: A expansão da produção de erva-mate e a chegada da ferrovia alteraram a dinâmica econômica da região.
  5. Insatisfação social: A população local, composta principalmente por sertanejos e posseiros, estava insatisfeita com as condições de vida e a intervenção governamental.
  6. Condições socioeconômicas precárias: A pobreza, o isolamento geográfico e a falta de infraestrutura contribuíram para a vulnerabilidade das comunidades locais.

Objetivos da Guerra do Contestado

Os objetivos da Guerra do Contestado eram multifacetados. Os sertanejos buscavam garantir sua posse de terra e resistir à intervenção do governo e das empresas. Já as autoridades estaduais e as empresas visavam expandir suas atividades econômicas, promovendo a ocupação e exploração da região contestada.

Abaixo estão alguns dos principais objetivos que orientaram as ações das partes envolvidas no conflito:

  1. Defesa das terras tradicionais: Os sertanejos e posseiros buscavam defender suas terras tradicionais contra a intervenção do governo e as tentativas de desocupação por parte de grandes empresas.
  2. Resistência à intervenção governamental: A intervenção governamental era vista como uma ameaça direta às comunidades locais, gerando uma resposta de resistência por parte dos sertanejos.
  3. Afirmação dos direitos sociais: As condições socioeconômicas precárias e a insatisfação social impulsionaram a luta por melhorias nas condições de vida e pela preservação de direitos fundamentais.
  4. Luta contra a exploração econômica: A chegada de atividades econômicas exploratórias impactou negativamente a autonomia e a subsistência dos sertanejos, desencadeando a resistência.
  5. Preservação das tradições culturais: A interferência externa representava uma ameaça à cultura e identidade dessas comunidades, alimentando a determinação em preservar suas tradições.
  6. Busca por justiça e igualdade: O messianismo, liderado por figuras como o beato José Maria, prometia uma ordem mais justa e igualitária para os sertanejos.

Líderes da Guerra do Contestado

Entre os líderes destacados durante o conflito, o beato José Maria é o mais notório. Sua liderança messiânica mobilizou uma considerável quantidade de seguidores. Por outro lado, o governo e as empresas envolvidas contavam com líderes militares para controlar a situação, como o coronel João Gualberto.

Hermes da Fonseca, presidente do Brasil na época da Guerra do Contestado (1912-1916), desempenhou um papel crucial na condução das ações governamentais durante esse conflito. Seu mandato presidencial, que se estendeu de 1910 a 1914, abrangeu o período inicial da guerra, e suas decisões e estratégias moldaram a abordagem do governo federal em relação ao conflito.

Fonseca foi responsável por autorizar a intervenção militar na região do Contestado em resposta às tensões e conflitos que surgiram de disputas territoriais, deslocamentos de populações locais e confrontos entre as comunidades sertanejas e as forças de segurança. Sua decisão refletiu uma postura de manutenção da ordem e controle por parte do governo federal diante dos desafios apresentados pela resistência sertaneja.

O presidente Hermes da Fonseca nomeou o general Setembrino de Carvalho para liderar as operações militares na região. A intervenção militar foi marcada por uma série de repressões e confrontos violentos com os sertanejos, resultando em um cenário de guerra que perdurou por vários anos.

A política de Fonseca foi pautada por uma visão de preservação da integridade territorial e pela manutenção da autoridade do Estado diante dos conflitos regionais. No entanto, essa abordagem também foi criticada por sua resposta militarista e pela falta de consideração pelas causas subjacentes às tensões na região.

O marechal Hermes da Fonseca, presidente do Brasil na época da Guerra do Contestado.
O marechal Hermes da Fonseca, presidente do Brasil na época da Guerra do Contestado.

O messianismo na Guerra do Contestado

O messianismo existiu na Guerra do Contestado por meio da presença de três monges, cada um contribuindo de maneira distinta para a complexidade messiânica que permeou a região fronteiriça entre Santa Catarina e Paraná. Essas pessoas não eram monges no sentido literal da palavra, ou seja, não pertenciam a nenhuma ordem religiosa monástica católica; eram líderes populares com discurso messiânico e carismático que agregaram seguidores em diferentes épocas da história local.

O primeiro deles foi João Maria de Agostini, um rezador leigo de origem italiana cuja peregrinação entre 1844 e 1870, estendendo-se de Sorocaba, em São Paulo, até Rio Pardo e Santa Maria, no Rio Grande do Sul, consolidou sua fama. Apesar de não ter influenciado diretamente os eventos da Guerra do Contestado, sua ética de vida extremamente humilde e sua capacidade de arrebanhar milhares de crentes reforçaram o messianismo coletivo.

O monge João Maria de Agostini, um dos nomes envolvidos no contexto da Guerra do Contestado.
O monge João Maria de Agostini, um dos nomes envolvidos no contexto da Guerra do Contestado.

O segundo monge, conhecido pelo codinome João Maria, revelou-se durante a Revolução Federalista de 1893, adotando uma postura firme e messiânica. Atuando entre os rios Iguaçu e Uruguai, suas previsões sobre os fatos políticos de sua época contribuíram para sua influência inquestionável sobre os crentes, que aguardavam sua volta após seu desaparecimento em 1908.

Fotografia do Monge João Maria, um dos nomes envolvidos no contexto da Guerra do Contestado.
Fotografia do Monge João Maria, um dos nomes envolvidos no contexto da Guerra do Contestado.

Em 1912, surgiu o terceiro monge, inicialmente conhecido como curandeiro de ervas: José Maria de Santo Agostinho. A despeito de alegações de ser um soldado desertor condenado por estupro, José Maria pregava uma vida de respeito ao próximo e à natureza, conquistando a admiração e confiança do povo.

Ao recusar terras e ouro oferecidos pelo coronel Francisco de Almeida, José Maria ganhou fama ao ponto de ser considerado santo. Seu perfil metódico e organizado, distante dos curandeiros vulgares, destacou-o. Montou a "farmácia do povo", depositando ervas medicinais e atendendo à população até altas horas da noite. Assim, no emaranhado da Guerra do Contestado, esses monges se tornaram personagens fundamentais, enraizando a história da região em uma teia de espiritualidade, resistência e messianismo.

Fim da Guerra do Contestado

A Guerra do Contestado teve fim em 1916, quando as forças governamentais conseguiram reprimir os rebeldes e retomar o controle da região. Esse desfecho foi marcado por confrontos violentos e pela derrota dos sertanejos.

Linha do Tempo da Guerra do Contestado

  1. 1912: conflitos iniciais
    • Evento: Início dos conflitos na região do Contestado entre sertanejos e forças do governo.
    • Contexto: Disputas territoriais, intervenção governamental e a presença de líderes messiânicos contribuem para a eclosão dos conflitos.
  2. 1914: Batalha de Irani
    • Evento: Confronto significativo entre as forças governamentais e os rebeldes.
    • Contexto: A Batalha de Irani resulta em confrontos violentos, marcando um ponto crucial no desenvolvimento da guerra.
  3. 1915: Repressão militar
    • Evento: Intensificação da repressão militar contra os sertanejos.
    • Contexto: As autoridades estaduais buscam controlar a situação, resultando em confrontos mais sangrentos e na mobilização de forças adicionais.
  4. 1916: Derrota dos sertanejos
    • Evento: As forças governamentais conseguem reprimir os sertanejos, pondo fim à resistência.
    • Contexto: A derrota dos rebeldes marcou o encerramento oficial da Guerra do Contestado.

Consequências da Guerra do Contestado

A Guerra do Contestado deixou um rastro de consequências profundas, afetando tanto as comunidades locais quanto a região em si. Algumas das principais consequências desse conflito foram:

  1. Deslocamento e destruição de comunidades: A violência e a repressão militar resultaram em deslocamentos forçados, deixando comunidades inteiras sem suas casas e meios de subsistência.
  2. Destruição da infraestrutura: As batalhas e a presença militar causaram danos significativos a estradas, ferrovias e outras estruturas, impactando a conectividade e o desenvolvimento regional.
  3. Impactos socioeconômicos duradouros: As comunidades locais, já em condições precárias antes da guerra, sofreram ainda mais com a perda de recursos e a interrupção de suas atividades econômicas tradicionais.
  4. Repressão e desmantelamento dos movimentos sociais: A derrota militar efetiva encerrou a luta dos sertanejos, resultando na desarticulação dos movimentos de resistência e na imposição da ordem governamental.
  5. Dispersão da população: A repressão e a perda de terras levaram à dispersão da população, que teve que buscar meios alternativos de subsistência em outras regiões.
  6. Legado cultural e identidade: As memórias da guerra, as tradições culturais e a identidade das comunidades foram profundamente afetadas, moldando a forma como as gerações posteriores se relacionam com esse episódio histórico.
  7. Memorialização e reconhecimento tardio: Décadas após o conflito, a construção de memoriais e o reconhecimento oficial dos eventos e impactos da guerra ganharam destaque, proporcionando uma compreensão mais completa dessa parte da história brasileira.

Rebeliões da República

Outras rebeliões no período republicano incluem:

  1. Revolta da Vacina (1904)
  2. Revolta da Chibata (1910)
  3. Revolução Tenentista (1922-1924)
  4. Revolta Paulista de 1924
  5. Coluna Prestes (1925-1927)
  6. Revolução de 1930

Leia também: República Velha — a primeira fase do período republicano brasileiro

Exercícios resolvidos sobre a Guerra do Contestado

Questão 1

 A Guerra do Contestado, travada entre 1912 e 1916, foi um conflito marcante na história do Brasil. Contextualizada por transformações econômicas e disputas territoriais, a guerra envolveu sertanejos e autoridades estaduais. As causas foram multifacetadas, abrangendo desde a questão da posse de terras até movimentos messiânicos liderados pelo beato José Maria. Com base nesse contexto, qual dos seguintes aspectos NÃO foi uma causa direta da Guerra do Contestado?

a) Disputa pela posse de terras.

b) Intervenção governamental na região.

c) Expansão da produção de café.

d) Movimentos messiânicos liderados pelo beato José Maria.

e) Tensões sociais decorrentes das transformações econômicas.

Resposta correta: c). A Guerra do Contestado não foi diretamente influenciada pela expansão da produção de café, que estava mais associada a outras regiões do Brasil. O conflito, predominantemente, foi moldado por questões territoriais, intervenção governamental e movimentos sociais na região fronteiriça entre Santa Catarina e Paraná.

Questão 2

A Guerra do Contestado, ocorrida entre 1912 e 1916, foi um conflito intrincado na região fronteiriça entre Santa Catarina e Paraná. Além das disputas territoriais, diversos fatores contribuíram para a complexidade do conflito. Diante desse contexto, identifique o aspecto que melhor representa a dinâmica social durante a Guerra do Contestado.

a) O predomínio de interesses econômicos sobre questões territoriais.

b) A ausência de lideranças messiânicas entre os sertanejos.

c) A coesão total entre as comunidades locais na resistência.

d) A influência mínima de transformações econômicas na região.

e) As múltiplas causas que incluíam disputas territoriais e movimentos messiânicos.

Resposta Correta: e). A Guerra do Contestado foi complexa devido à interseção de várias causas, incluindo disputas territoriais, intervenção governamental e movimentos messiânicos liderados pelo beato José Maria. A compreensão dessa multiplicidade de fatores é crucial para entender a dinâmica social e as tensões que culminaram no conflito.

Fontes:

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2012

SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Cia das Letras, 2018.

Publicado por Tiago Soares Campos
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