Retórica

A retórica é a arte de falar bem. Ela é fundamental para constituir-se um discurso convincente e para estabelecer qualquer base filosófica racional.
A retórica pode ser utilizada como instrumento de manipulação da opinião.

A retórica é, basicamente, a arte de falar bem. Os filósofos gregos antigos denominavam, com a palavra techné, o que em latim foi traduzido pela palavra ars. Nesse sentido, a palavra arte tem uma equivalência com a palavra técnica, pois ambas dizem respeito a um modo de fazer algo. Assim sendo, a retórica enquanto técnica constitui um conjunto de regras que afirmam um modo de fazer ou um modo de operar (modus operandi) algo — a saber, de falar com eloquência, o que possibilita o entendimento e o convencimento.

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O que é retórica?

Considerada uma arte, no sentido de ser uma técnica, a retórica é o ato de falar bem, de convencer e de ser eloquente, ou seja, de orquestrar as palavras de um modo que o emissor da fala transmita ao receptor um sentido preciso, organizado, consistente e, consequentemente, convincente.

A retórica é importante para a formação da civilização, pois sem o domínio da linguagem capaz de transmitir significados, não há formação de qualquer sociedade civil, visto que esta é formada e regimentada por meio de contratos.

Na Grécia Clássica, a retórica era utilizada no meio político, filosófico e jurídico. Nos dias atuais, a retórica continua fazendo parte do contexto de filósofos, políticos, juristas e advogados, mas faz parte também do cotidiano de professores, sacerdotes, bons vendedores e, em especial, daqueles que trabalham com a comunicação social.

Quando nos aprofundamos nos estudos sobre a retórica, podemos perceber que existem infinitas regras, concepções, tratados e associações que podem ajudar alguém a alcançar o sucesso por meio da arte de falar bem.

Os primeiros traços de preocupação com retórica encontram-se nas obras de Platão, em uma problematização acerca da retórica sofística e da necessidade de associação da retórica com a dialética, estabelecendo vínculos entre aquilo que é falado e a verdade essencial do mundo. Os sofistas, ao contrário de Platão, defendiam que a simples eloquência da fala seria suficiente, pois para eles, a retórica era apenas um instrumento de convencimento argumentativo.

Para Aristóteles, a retórica estava intimamente associada à lógica, pensamento que foi resgatado durante a filosofia escolástica pelos filósofos católicos. Na Idade Média, a retórica compunha, junto com a gramática e a lógica, o conjunto chamado de trívio. O trívio era composto pelas três artes da linguagem e, somado ao quadrívio (aritmética, geometria, Astronomia e Música), compunha as chamadas artes liberais.

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Retórica e oratória

Os dois termos são semelhantes, mas não idênticos. No mundo antigo, rhêtorikê era a palavra grega utilizada para designar o que denominamos retórica. No latim, uma das traduções possíveis para rhêtorikê foi oratore, que hoje traduzimos para o português como oratória. Portanto, ambos os termos possuem significados semelhantes, mas hoje possuem diferenças semânticas significativas.

Enquanto retórica designa, para nós, a arte de falar bem, de maneira eloquente e precisa, com capacidade de convencer, a oratória significa falar em público. Falar em público pode ter a mesma finalidade de falar bem, portanto os termos podem ser associados, porém não há uma correspondência direta possível entre os dois termos hoje.

Retórica sofística e dialética

Platão acreditava que o processo dialético objetivava-se no aprofundamento na essência das coisas.

Platão, como discípulo de Sócrates, continua a busca de seu mestre por alcançar os conceitos essenciais que definiriam palavras como o bem, a justiça e a verdade. No entanto, Platão vai além e cria uma teoria do conhecimento baseada no alcance dos conceitos.

Assim sendo, seria tarefa do filósofo, e de quem mais almeja conhecer a verdade, buscar os conceitos com base em um processo dialético, formado pelo debate de opiniões contrárias e pela junção entre as capacidades do corpo físico e da realidade imaterial da mente para alcançar o conhecimento pleno. A retórica entraria como uma ferramenta necessária para que o entendimento linguístico fosse pleno e correto.

Os sofistas, adversários intelectuais de Platão e Sócrates, defendiam que não era necessário um conhecimento das essências, quando se tivesse à disposição os artifícios argumentativos da linguagem para convencer os interlocutores daquilo que se quisesse. É nesse sentido que o sofista Protágoras afirma que o homem é a medida de todas as coisas, ou seja, que é o próprio ser humano que define o que é verdade ou não com base de sua eloquência.

O diálogo Górgias, escrito por Platão (Górgias foi um dos sofistas mais bem sucedidos), evidencia a característica sofística de lidar apenas com as superfícies daquilo que é falado e descrito. Para Platão, enquanto o processo dialético, essencial para ter-se um conhecimento válido, buscava aprofundar-se nas essências das coisas, os sofistas buscavam apenas fazer com que as coisas aparentassem ser do modo que eles queriam por meio da retórica.

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Retórica para Aristóteles

Aristóteles associa a retórica e a lógica à composição da linguagem.

Aristóteles foi o responsável pela sistematização do conhecimento filosófico, até então composto por um conjunto de conhecimentos de todas as ordens e todas as áreas. Em sua sistematização, o filósofo clássico distingue aquelas áreas que comporiam a formação da linguagem e da fala. Entre elas, estão a retórica e a lógica.

A lógica seria um instrumento do conhecimento, enquanto a retórica era um misto de capacidades para formar a fala eloquente, capaz de convencer, mas utilizando-se de fontes seguras do conhecimento, com base nos conceitos.

Acontece que, seguindo a análise aristotélica sobre a retórica enquanto instrumento jurídico, a arte da eloquência pode ser utilizada como um meio de persuadir sem ter a razão, burlando assim a moralidade que deve conter em um julgamento.

Assim, a retórica pode ser utilizada como um meio de passar uma boa impressão e convencer o júri com base em uma defesa que se utilize da boa retórica transmitindo a ideia de que o réu possui bons traços de caráter. Sobre isso, Roland Barthes afirma que os “traços de caráter que o tribuno deve mostrar ao auditório (pouco importa sua sinceridade), para causar boa impressão [...] são suas aparências”.|1|

Dependendo do meio em que se subscreve, a retórica pode ou não estar de acordo com os fatos, pois, segundo Aristóteles, ela tem um fator criativo que dá ao emissor a capacidade de elaborar sua própria visão e imprimir a sua intensão com o discurso. No entanto, a retórica deve sempre, segundo o escrito Retórica, de filósofo grego, estar de acordo com as formulações da lógica, caso contrário, não é possível qualquer efeito de convencimento, pois sem a forma lógica sequer pode-se ter entendimento daquilo que foi dito.

Notas

|1| BARTHES, Roland. A retórica antiga. In: COHEN, Jean et al. Pesquisas de retórica. Trad. de Leda Pinto Mafra Iruzun. Petrópolis: Vozes, 1975. p. 147-232, p. 203.

Publicado por Francisco Porfírio
Química
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