Próclise, mesóclise e ênclise
Próclise, mesóclise e ênclise são os três tipos de colocação pronominal, isto é, de posição dos pronomes oblíquos átonos em relação aos verbos. Na próclise, o posicionamento do pronome oblíquo é antes do verbo. Na mesóclise, o posicionamento do pronome oblíquo é no meio do verbo, entrecortando-o. Na ênclise, o posicionamento do pronome oblíquo é ao final do verbo.
Leia também: Pronome — a classe de palavra que substitui ou acompanha um nome (substantivo) no enunciado
Resumo sobre próclise, mesóclise e ênclise
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Próclise, mesóclise e ênclise são posicionamentos do pronome oblíquo antes do verbo, no meio dele ou ao final dele.
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A próclise é o posicionamento do pronome oblíquo antes do verbo.
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É usada quando alguma palavra antes do verbo atrai o pronome para aquela posição.
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A mesóclise é o posicionamento no meio do verbo, entrecortando-o.
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É usada quando o verbo é conjugado no tempo futuro do modo indicativo, quando não há justificativa para a próclise.
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A ênclise é o posicionamento do pronome oblíquo ao final do verbo.
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É usada quando não há justificativa para uso de próclise ou mesóclise, geralmente em início de frase.
O que é próclise, mesóclise e ênclise?
Próclise, mesóclise e ênclise são os três tipos de colocação pronominal, especificamente de posição do pronome oblíquo átono em relação ao verbo. Veja:
pronome + verbo
Ele me fez um favor.
Na frase, há um pronome oblíquo átono: “me”. Esse pronome está ligado ao verbo “fez”. A posição do pronome em relação ao verbo é chamada de colocação pronominal.
Os pronomes podem aparecer antes do verbo, no meio dele ou ao final. Cada uma dessas posições tem um nome.
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Próclise (pronome antes do verbo):
Ele me fez um favor.
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Mesóclise (pronome no meio do verbo):
Far-me-ia um favor?
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Ênclise (pronome depois do verbo):
Fez-me um favor.
É necessário entender as regras de colocação pronominal para saber quando usar a próclise, a mesóclise e a ênclise.
Como usar a próclise?
A próclise ocorre ao se posicionar o pronome oblíquo antes do verbo. Isso pode ocorrer quando alguma palavra antes do verbo atrair o pronome para perto de si, naquela posição. Veja:
Quem te contou isso?
Nesse caso, o pronome interrogativo “quem” atrai o pronome oblíquo para antes do verbo, por isso ocorre a próclise. Veja, a seguir, as palavras que podem atrair o pronome oblíquo para antes do verbo:
Próclise |
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Palavras atrativas |
Exemplos |
Palavras negativas |
não, nem, nunca, ninguém, nenhum, nada |
Preposições |
a, com, de, em, para, sem |
Pronomes pessoais |
eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas |
Pronomes demonstrativos |
este, essa, aquele, isto, isso, aquilo |
Pronomes possessivos |
meu, tua, seu, nosso, suas |
Pronomes indefinidos |
tudo, alguém, muito, vários, qualquer |
Pronomes interrogativos |
que, quem, qual, quanto |
Pronomes relativos |
que, quem, onde |
Conjunções subordinativas |
embora, se, conforme, para, apenas |
→ Exemplos de próclise
Não me avisaram sobre o evento.
Ela sempre se dedicou ao trabalho.
A pessoa que me chamou não se identificou.
Nós nos conhecemos ontem.
Ninguém se apresentou voluntariamente.
Embora o conheça pouco, confia nele.
Por que se ausentaram da reunião?
Como usar a mesóclise?
A mesóclise acontece quando o pronome oblíquo aparece no meio do verbo, entrecortando a palavra. O pronome liga-se ao verbo por meio do hífen. A mesóclise pode ocorrer se duas condições acontecerem:
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Não houver justificativa para uso de próclise (ou seja, não há nenhuma palavra atrativa antes do verbo); e
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O verbo estiver conjugado no tempo futuro do modo indicativo (seja futuro do presente, seja futuro do pretérito).
Observe:
Informar-lhe-ei assim que possível.
Nesse caso, a forma verbal “informarei” está cortada ao meio pelo pronome “lhe”, sendo um exemplo de mesóclise. Isso ocorreu pois não há nenhuma palavra atrativa antes do verbo e porque a conjugação está no tempo futuro do presente do modo indicativo.
→ Exemplos de mesóclise
Consultar-lhe-ei sobre esse assunto amanhã.
Dir-lhe-iam as novidades se fosse possível.
Revelar-nos-ia os segredos se pudesse.
Como usar a ênclise?
A ênclise ocorre quando o pronome oblíquo fica ao final do verbo, ligando-se a ele com hífen. A ênclise acontece quando não há justificativa nem para a próclise, nem para a mesóclise. Portanto, nas seguintes condições:
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Não houver palavras atraindo o pronome para antes do verbo; e
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O verbo não estiver conjugado no tempo futuro do modo indicativo.
Veja o seguinte caso:
Apresentou-se ao novo chefe.
Nessa frase, não há palavras atrativas antes do verbo, que também não está conjugado no tempo futuro do modo indicativo. Por isso, o uso de ênclise é aceito.
→ Exemplos de ênclise
Preparávamo-nos para a viagem quando choveu.
Expresse-se sem medo na reunião.
É fundamental organizarmo-nos antes de o evento começar.
A equipe dedica-se sempre ao trabalho com entusiasmo.
Minha irmã formou-se em medicina no ano passado.
Colocação pronominal em locuções verbais
As locuções verbais são situações em que dois ou mais verbos aparecem juntos. Nesses casos, a colocação pronominal geralmente costuma seguir as mesmas regras, com alguma especificidade.
→ Próclise em locuções verbais
O pronome tende a aparecer antes do primeiro verbo (verbo auxiliar).
Pronome oblíquo + verbo auxiliar + verbo principal
Eles nos tinham informado sobre o resultado havia muito tempo.
→ Mesóclise em locuções verbais
O pronome tende a aparecer entrecortando o primeiro verbo (verbo auxiliar).
Verbo auxiliar + pronome oblíquo + verbo auxiliar + verbo principal
Ter-nos-iam informado sobre o resultado muito tempo antes, mas não foi possível.
→ Ênclise em locuções verbais
O pronome pode aparecer após o primeiro verbo (verbo auxiliar) ou após o segundo verbo (verbo principal).
Verbo auxiliar + pronome oblíquo + verbo principal
Devem-nos informar sobre o resultado em breve.
Verbo auxiliar + verbo principal + pronome oblíquo
Devem informar-nos sobre o resultado em breve.
Acesse também: O que são as locuções pronominais?
Exercícios resolvidos sobre próclise, mesóclise e ênclise
Questão 1
(Funcern)
SONETO BUROCRÁTICO
José Lino Grünewald
Salvo melhor juízo doravante,
Dessarte, data vênia, por suposto,
Por outro lado, maximé, isso posto,
Todavia deveras, não obstante
Pelo presente, atenciosamente,
Pede deferimento sobretudo,
Nestes termos, quiçá, aliás, contudo
Cordialmente alhures entrementes
Sub-roga ao alvedrio ou outrossim
Amiúde nesse ínterim, senão
Mediante qual mormente, oxalá quão
Via de regra tê-lo-ão enfim
Ipso facto outorgado, mas porém
Vem substabelecido assim, amém.
(Disponível em: https://antoniocicero.blogspot.com. Acesso em 20 nov. 2023)
Na última estrofe, há uma ocorrência de uso de pronome átono na posição
A) enclítica, que ocorre apenas em formas verbais do futuro do pretérito do indicativo e é de uso geral na língua portuguesa, no Brasil, sobretudo em textos escritos.
B) enclítica, que só ocorre apenas em formas verbais do futuro do presente ou do futuro do pretérito do subjuntivo e é de uso geral na língua portuguesa, no Brasil, sobretudo em textos escritos.
C) mesoclítica, que ocorre em formas verbais do futuro do pretérito do subjuntivo e não é de uso geral na língua portuguesa, no Brasil, mesmo em textos escritos.
D) mesoclítica, que só ocorre em formas verbais do futuro do presente ou do futuro do pretérito do indicativo e não é de uso geral na língua portuguesa, no Brasil, mesmo em textos escritos.
Resolução:
Alternativa D.
Na última estrofe, a palavra “tê-lo-ão” é um exemplo de mesóclise, ocorrendo em alguns tempos verbais do modo indicativo.
Questão 2
(Vunesp) Leia o texto para responder à questão.
Redes sem lei
A esta altura estão mapeados os dissabores trazidos pelas redes sociais ao cotidiano social e político das nações. Se a dominância dessas plataformas digitais impulsionou e adensou as interações entre as pessoas em escala planetária, de outro lado acarretou oligopolização, manipulação dos fatos, fraudes e assédio também em profusão.
Testemunha e vítima dessa faceta ameaçadora das mídias sociais, perseguida pelo governo autoritário de Rodrigo Duterte nas Filipinas, a jornalista Maria Ressa, Nobel da Paz de 2021, descreveu-as em entrevista à Folha como “uma bomba atômica que explodiu em nosso ecossistema de informação”.
O mecanismo de reiterações labirínticas empregado pelos algoritmos, ao premiar os discursos ofensivos e as elucubrações fantásticas e mentirosas, estaria minando as bases da própria democracia, como os sistemas de pesos e contrapesos, de acordo com Ressa.
Ilegalidades que não se praticavam na mesma extensão e profundidade antes da hegemonia das redes sociais tornaram-se lugar-comum. As autoridades incumbidas de fazer cumprir a lei onde quer que seja ainda comem poeira quando se trata dessas plataformas.
Corresponsabilizá-las pelos crimes cometidos por meio dos seus serviços é providência básica para limpar o terreno bárbaro. Também é elementar evitar que seu enorme poderio de mercado seja usado para esterilizar a competição, pela qual poderão florescer opções de melhor qualidade informativa.
Não há dúvida de que o combate ao turbilhão de falsificações oportunistas que jorra nas redes passa pelo exercício do jornalismo profissional, que questiona os poderosos com base na apuração e na publicação de fatos objetivamente verificáveis e se exerce em praça pública, não nos escaninhos ensimesmados das aldeias digitais.
A sociedade aos poucos vai percebendo que não se substitui jornalista por influencer sem dano ao patrimônio comum da civilização.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 25.06.2022. Adaptado)
Assinale a alternativa em que o enunciado atende à norma-padrão quanto à colocação pronominal.
A) As redes sociais têm uma faceta ameaçadora, e quem as descreveu para o jornal foi a Nobel da Paz de 2021, jornalista Maria Ressa.
B) Nada avaliou-se ainda quanto aos impactos à sociedade decorrentes da veiculação de um turbilhão de falsificações oportunistas nas redes sociais.
C) Se disseminam, nos meios digitais, ilegalidades que não se praticavam na mesma extensão e profundidade antes da hegemonia das redes sociais.
D) Tem percebido-se, aos poucos, a importância do jornalista para a sociedade, apurando e publicizando fatos objetivamente verificáveis.
E) Responsabilizarão-se as redes sociais que, por meio dos seus serviços, cometerem crimes, veiculando informações que contradizem a verdade.
Resolução:
Alternativa A.
O uso de ênclise em “quem as descreveu” se justifica pela presença do pronome “quem” antes do verbo.
Fontes
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Parábola, 2021.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 38ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.