Colocação pronominal
A colocação pronominal é o posicionamento adequado do pronome oblíquo em relação ao verbo, podendo ocorrer um caso de próclise (antes do verbo), mesóclise (meio do verbo) ou ênclise (após o verbo), a depender do enunciado.
Leia também: Diferentes funções dos pronomes oblíquos nas orações
Resumo sobre colocação pronominal
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A colocação pronominal trata da posição do pronome oblíquo em relação ao verbo.
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Na próclise, o pronome oblíquo aparece antes do verbo.
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Na mesóclise, o pronome oblíquo aparece no meio do verbo, entrecortando-o com hífens.
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Na ênclise, o pronome oblíquo aparece após o verbo, sendo ligado a ele por hífen.
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Em locuções verbais, as regras se aplicam ao verbo principal da oração.
Videoaula sobre colocação pronominal
O que é colocação pronominal?
A colocação pronominal diz respeito ao posicionamento de um pronome oblíquo em relação ao verbo. Veja:
"Meu pai não me penteou direito."
Na oração, o verbo "pentear" aparece acompanhado do pronome oblíquo "me". Nesse caso, o pronome apareceu antes do verbo. Porém, dependendo de certas regras, ele pode aparecer depois ou até no meio do verbo. Tudo isso é definido pelas regras de colocação pronominal. Essas regras e usos variam bastante de acordo com o país, então vamos entender melhor como são esses usos no Brasil.
Formas de colocação pronominal
Veja na tabela a seguir os nomes dados para cada caso de colocação pronominal.
próclise |
o pronome antes do verbo |
mesóclise |
o pronome no meio do verbo |
ênclise |
o pronome após o verbo |
O que é próclise?
A próclise ocorre quando o pronome aparece antes do verbo e sem nenhum sinal que ligue as duas palavras. Em geral, esse uso se justifica porque alguma palavra que aparece antes do verbo atrai o pronome oblíquo para perto dela, "puxando-o" para trás do verbo. São palavras com sentido de negação ou outros pronomes, por exemplo. Entenda esses casos a seguir.
→ Palavras com sentido negativo
Palavras com sentido negativo no geral tendem a atrair o pronome oblíquo para perto de si, mesmo que isso ocasione um deslocamento dele para antes do verbo, acarretando a próclise. São palavras como “não”, “nunca”, “jamais”, “ninguém”, “nada” etc.
Exemplos:
“Eu não me preparei para o exame.”
“Minha família nunca se mudou deste bairro.”
“Não o avisaram da mudança no horário da reunião?”
→ Preposições
As preposições também atraem o pronome oblíquo para perto de si.
Exemplos:
“Até nos comentaram a respeito desse caso!”
“Depois mandarei mensagem para lhes dar notícias.”
“A professora comentou algo sobre me indicar mais leituras para embasamento.”
→ Advérbios
Advérbios antecedendo o verbo também acarretam próclise.
Exemplos:
“Muito nos espanta essa reação por parte dela!”
“Ela rapidamente me deixou a par de toda a confusão.”
“Se ali te tratam bem, é ali que deves permanecer.”
→ Pronomes
Por fim, pronomes aparecendo explicitamente antes do verbo também ocasionam próclise. Podem ser pronomes interrogativos, pronomes pessoais do caso reto ou pronomes demonstrativos, por exemplo.
Exemplos:
“Quando nos trarão o café da manhã?”
“Ela o chamou para sair, finalmente!”
“Dos alimentos na mesa, esse me faz mal, mas aquele me faz bem.”
Veja também: Como se dividem os tempos e os modos verbais
O que é mesóclise?
A mesóclise ocorre quando o pronome aparece no meio do verbo, entrecortando a palavra. O pronome é ligado ao verbo por hífen nesse caso (tanto antes quanto depois, já que está no meio da palavra). Vale ressaltar que, no Brasil, a mesóclise é muito rara, sendo uma ocorrência que vem caindo em desuso.
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não houver nenhuma justificativa para uso de próclise;
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o verbo estiver conjugado no futuro do presente ou no futuro do pretérito do modo indicativo.
Exemplos:
“Combinamos que, na próxima reunião, discutir-se-ão os assuntos que ficaram de fora nesta.”
“Havendo tempo hábil e verba, implementar-se-ia uma nova gestão, mas não foi esse o caso.”
“Informar-nos-emos a respeito dessa questão para debatermos melhor no futuro.”
O que é ênclise?
A ênclise ocorre quando o pronome aparece após o verbo, sendo ligado por hífen. Assim como no caso da mesóclise, a ênclise também ocorre quando não houver justificativa para uso da próclise, sendo usada em todas as outras conjugações verbais que não pedem o uso da mesóclise.
Exemplos:
“Falaram-se durante algum tempo, até que desistiram do encontro.”
“Digam-me o que é preciso para que eu complete essa tarefa.”
“Após muito burburinho, fez-se silêncio para que a decisão fosse anunciada.”
Atenção! Em caso de mesóclise e ênclise, por questão da sonoridade, algumas mudanças morfológicas podem ocorrer quando o pronome oblíquo for "o", "a", "os" e "as".
→ Com verbo terminando em -m
O pronome ganha -n, ficando "no(s)" ou "na(s)".
Exemplos:
“Tirem-no daqui imediatamente!”
“Incentivem-nas para que atinjam seus objetivos.”
“Tomem esta joia e guardem-na em local seguro.”
→ Com verbo terminando em -r
Cai o -r, acentua-se a vogal tônica e o pronome ganha -l, virando -lo ou -la. É o que ocorre quando há ênclise em verbos no infinitivo, por exemplo.
Exemplos:
“Essa música exige muita potência vocal. Cantá-la não é para qualquer um.”
“Júlia virou vegetariana no dia em que viu um frango vivo. Comê-lo deixou de ser apetitoso para ela.”
“Cumprimentá-lo-ei com muita cordialidade.”
Saiba mais: Como conjugar os verbos pronominais
Colocação pronominal nas locuções verbais
A locução verbal é a ocorrência de dois ou mais verbos juntos, geralmente havendo um verbo principal (isto é, o verbo conjugado) e outro auxiliar (geralmente, na forma nominal).
Verbo auxiliar + verbo principal
“Eu havia desistido do projeto.”
Quando há colocação pronominal em locuções verbais, as regras podem se aplicar ao verbo auxiliar ou ao verbo principal, a depender de cada caso.
→ Verbo auxiliar + verbo principal no infinitivo ou no gerúndio
Nesses casos, é possível haver ocorrência de próclise e ênclise em relação ao verbo auxiliar, mas também a colocação pronominal pode se dar com ênclise em relação ao verbo principal.
Veja cada caso, respectivamente:
“Ela me estava irritando demais!”
“Estava-me irritando demais!”
“Estava irritando-me demais!”
Atenção! No segundo caso, gramáticos menos conservadores aceitam que não se use hífen.
“Estava me irritando demais!”
→ Verbo auxiliar + verbo principal no particípio
Nesses casos, o que se espera é que a colocação pronominal ocorra em relação ao verbo auxiliar, ou seja, os casos de próclise, mesóclise e ênclise estarão sempre voltados para o verbo auxiliar, e nunca para o verbo principal.
Exemplos:
“Ela me havia alertado sobre isso.”
“Haver-me-ia atentado para os riscos, se eu tivesse um prazo maior.”
“Teriam-me indicado essa vaga se eu estivesse no Brasil.”
Atenção! No último caso, gramáticos menos conservadores aceitam que não se use hífen.
“Teriam me indicado essa vaga se eu estivesse no Brasil.”
Exercícios resolvidos sobre colocação pronominal
Questão 1
(Vunesp)
Leia o texto para responder à questão.
Atenção ao sábado
Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço: sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas. No sábado é que as formigas subiam pela pedra. Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo de uma cuia de carne-seca e pirão; nós já tínhamos tomado banho. De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: ao vento sábado era a rosa de nossa semana. Se chovia só eu sabia que era sábado; uma rosa molhada, não? No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana vai morrer, com grande esforço metálico a semana se abre em rosa: o carro freia de súbito e, de súbito, antes do vento espantado poder recomeçar, vejo que é sábado de tarde. Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais. Então eu não digo nada, aparentemente submissa. Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã. Domingo de manhã também é a rosa da semana. Não é propriamente rosa que eu quero dizer.
(Clarice Lispector, “Atenção ao sábado”. Os melhores contos [seleção Walnice Nogueira Galvão], 1996.
Assinale a alternativa em que a frase está em conformidade com a norma-padrão de colocação pronominal.
A) O sábado é a rosa da semana e nada tira-lhe esse seu título.
B) Se abre em rosa a semana, quando se pensa que ela vai morrer.
C) Ninguém mais tem perguntado-me se ainda tem sido sábado.
D) Certamente nos encontraríamos com outras abelhas farejando mel.
E) Ainda que pinte-se de rosa, o domingo não é propriamente rosa.
Resposta
Alternativa D. O advérbio “certamente” justifica a ocorrência de próclise no enunciado.
Questão 2
(Vunesp)
Leia o texto para responder à questão.
Se determinado efeito, lógico ou artístico, mais fortemente se obtém do emprego de um substantivo masculino apenso a substantivo feminino, não deve o autor hesitar em fazê-lo. Quis eu uma vez dar, em uma só frase, a ideia – pouco importa se vera ou falsa – de que Deus é simultaneamente o Criador e a Alma do mundo. Não encontrei melhor maneira de o fazer do que tornando transitivo o verbo “ser”; e assim dei à voz de Deus a frase:
– Ó universo, eu sou-te, em que o transitivo de criação se consubstancia com o intransitivo de identificação.
Outra vez, porém em conversa, querendo dar incisiva, e portanto concentradamente, a noção verbal de que certa senhora tinha um tipo de rapaz, empreguei a frase “aquela rapaz”, violando deliberadamente e justissimamente a lei fundamental da concordância.
A prosódia, já alguém o disse, não é mais que função do estilo.
A linguagem fez-se para que nos sirvamos dela, não para que a sirvamos a ela.
(Fernando Pessoa. A língua portuguesa, 1999. Adaptado)
Assinale a alternativa que atende à norma-padrão de colocação pronominal.
A) A prosódia, já disse-o alguém, não é mais que função do estilo.
B) Se consubstancia o transitivo de criação com o intransitivo de identificação na frase: – Ó universo, eu sou-te.
C) Tendo referido-me a Deus simultaneamente como o Criador e a Alma do mundo, recorri à frase: – Ó universo, eu sou-te.
D) Sirvamo-nos da linguagem para quaisquer efeitos, sejam eles lógicos ou artísticos.
E) Para expressar minha ideia, juntariam-se o transitivo de criação com o intransitivo de identificação na frase.
Resposta
Alternativa D. No enunciado, não há justificativa para uso de próclise ou de mesóclise, estando o verbo no início da oração. Portanto, a ênclise é justificada.
Fontes
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Parábola, 2021.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 38ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.