A importância de Eneida de Virgílio para a educação romana

Eneida de Virgílio teve grande importância para a educação romana, haja vista que foi amplamente usada na instrução de jovens romanos.
Acima, estátua do poeta Virgílio, autor da epopeia Eneida

Do mesmo modo que, na civilização grega (ou helênica), os poemas de Homero, a saber a Ilíada e a Odisseia, foram de crucial importância para a formação dos cidadãos das pólis (cidades-estado) gregas, o poema épico Eneida, de Virgílio, tornou-se um dos textos mais estudados pelos jovens que recebiam instrução no seio do Império Romano. Eneida tornou-se um clássico da língua latina, tendo exercido influência também, a posteriori, sobre os grandes poetas da civilização ocidental em todas as épocas.

O poeta Virgílio nasceu em 70 a.C. e morreu em 19 a.C. A obra Eneida versa sobre a saga do herói mítico Enéas, que teria participado da Guerra de Troia em apoio aos troianos e contra os gregos. O nome “eneida” significa “gestas de Enéas”, isto é, uma espécie de reunião dos feitos, das façanhas de Enéas. A obra é compostas de 12 livros, nos quais se transcorrem os eventos desde a derrota de Troia na guerra contra os gregos, passando pela fuga de Enéas até chegar à Itália, onde teria fundado a cidade de Roma.

Virgílio escreveu esse poema na época em que Otaviano Augustus, sobrinho de Júlio César, havia sido aclamado imperador de Roma, após vencer seu rival Marco Antônio. Sendo assim, em grande medida, Eneida, ao falar do mitológico herói Enéas, fala também da dinastia juliana que fundou o Império Romano e da principal figura da época de Virgílio, o imperador Augustus.

Em Eneida, Virgílio empregou o chamado hexâmetro datílico (ou dactílico) — um sistema métrico em que cada verso (em latim) possui seis dátilos (expressão que vem do grego antigo e significa “dedo”), isto é, seis grupos com três sílabas, duas breves (de curta duração fônica) e uma longa (de ampla duração fônica). Esse esquema, em português, corresponde às sílabas tônicas (longas do latim) e às sílabas átonas (breves do latim).

Esse esquema rítmico fazia com que a epopeia fosse lida e estudada em voz alta de modo sonoro e bem articulado. Muitos poetas latinos posteriores, como Lucano, tiveram Virgílio como modelo absoluto de imitação. Não é à toa que, na Idade Média, Dante Alighieri transformou Virgílio em seu guia, na figura que o conduziu pelo Inferno e Purgatório (as duas primeiras partes da Divina Comédia, obra de Dante).

O poema só foi publicado após a morte de Virgílio (que não queria que fosse publicado). Muitos outros poetas ao longo da modernidade fizeram referência à Eneida. Um exemplo são Os Lusíadas, do português Luís de Camões; e O Paraíso Perdido e O Paraíso Reconquistado, do britânico John Milton. Além disso, no século XX, poetas como Ezra Pound, T. S. Eliot e Fernando Pessoa, bem como romancistas como Hermann Broch, escreveram obras em que trechos da Eneida ou mesma a figura de Virgílio tiveram importância fundamental.

Publicado por Cláudio Fernandes
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