Importância dos poemas de Homero na educação grega
Entre os séculos VIII e IX a.C., a Antiga Grécia, também conhecida pelo nome de Hélade, viveu o chamado Período Homérico, isto é, o período que sucedeu a fase arcaica e o período das culturas de Creta e Micenas. Esse período recebeu esse nome por causa da figura do poeta Homero, considerado o autor das epopeias Ilíada e Odisseia. Há uma discussão entre especialistas que procura saber se Homero realmente existiu ou é uma figura lendária, bem como se seus poemas são copilações de mitos e lendas populares ou possuem a originalidade de um gênio. Este texto, entretanto, não tem como objetivo dar vazão a essas discussões, mas tão somente acentuar a importância que os poemas de Homero tiveram na educação grega.
Na antiga civilização grega (e também na romana), a concepção de educação era bem diversa do modelo educacional que se desenvolveu na modernidade. O que havia de mais importante na formação de um cidadão era a imitação dos grandes modelos, sobretudo dos modelos heroicos, que eram a expressão de virtudes como prudência, astúcia e coragem: características essenciais para a ação na vida prática.
Se os modelos (ou paradigmas) heroicos possuíam tal importância, o conhecimento da tradição de narrativas que os retratavam tornava-se indispensável. O papel do poeta, em especial do organizador de uma epopeia*, como foi Homero, era crucial nesse contexto. A pedagogia grega desenvolveu um conjunto de aprendizado moral e psicológico que derivava da gramática e da retórica, isto é, duas disciplinas que tinham como atividade fundamental ouvir, ler e decorar versos das epopeias homéricas.
A Ilíada narra os eventos da guerra de Troia, que tem como mote o rapto de Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta, por Paris, filho de Príamo, rei de Troia. Os principais heróis envolvidos na trama da Ilíada (que tem esse nome por referir-se a Ílion, outro nome dado a Troia) são: Aquiles, Heitor, Ajax e Ulisses (ou Odisseu). A outra epopeia, Odisseia, narra exatamente as aventuras e as peripécias do astuto herói Ulisses ao voltar da guerra de Troia para a sua casa, na Ilha de Ítaca.
Todos os exemplos de heroísmo e drama dispostos nesses textos, muitos deles derivados de narrativas mitológicas anteriores, compõem aquilo que os gregos denominavam de psicagogia, isto é, uma espécie de conversão intelectual ou espiritual. O pesquisador alemão Werner Jaeger, em sua obra Paideia: A formação do homem grego, deixa claro o papel fundamental do herói na educação dos antigos helenos:
[…] A evocação do exemplo dos heróis famosos e do exemplo das sagas é para o poeta parte constitutiva de toda a ética e educação aristocráticas. Temos de insistir no valor deste fato para o conhecimento essencial dos poemas épicos e da sua radicação na estrutura da sociedade arcaica. Mas até para os Gregos dos séculos posteriores os paradigmas têm o seu significado como categoria fundamental da vida e do pensamento. [1]
Jaeger também destaca a importância de Homero nesse processo, já que suas obras não apenas formaram o homem grego, mas também influenciaram gerações futuras de poetas, como Virgílio, poeta latino do início do Império Romano que escreveu Eneida. Disse Jaeger:
[…] a importância educadora de Homero é evidentemente mais vasta. Não se limita à formulação expressa de problemas pedagógicos nem a algumas passagens que aspirem a produzir um determinado efeito moral. A poesia homérica é uma vasta e complexa obra do espírito, que não se pode reduzir a uma fórmula única. Ao lado de fragmentos relativamente recentes que revelam um interesse pedagógico expresso, aparecem outras passagens nas quais o interesse pelos objetos descritos afasta a possibilidade de pensar uma segunda intenção moral do poeta. [2]
Um dos exemplos emblemáticos da influência de Homero na Antiguidade é o de Alexandre Magno, imperador da Macedônia e grande conquistador. Alexandre sempre era visto com os escritos de Ilíada e considerava-se um herdeiro direto do herói Aquiles.
NOTAS
* O termo epopeia provém do grego epus, que significa herói. Uma epopeia é um poema que narra as glórias, os dramas e as aventuras dos heróis.
[1] JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 59.
[2] Idem. p. 66.