A vida nas trincheiras durante a Primeira Guerra

A vida nas trincheiras durante a Primeira Guerra era marcada pelo clima de terror e de insalubridade total.
O posicionamento em trincheiras foi uma das principais características da Primeira Guerra

Sabemos que a Primeira Guerra Mundial, que transcorreu de 1914 a 1918, foi um dos eventos mais terríveis já ocorridos. Seu potencial destrutivo não teve precedentes. Uma das estratégias de combate mais aplicadas durante essa guerra foi a “guerra de trincheiras”, ou “guerra de posição”. Nas trincheiras, o cotidiano dos soldados era terrivelmente assustador e insalubre.

  • Guerra de posição

As trincheiras eram grandes valas cavadas no solo pelos próprios soldados, formando um corredor ou uma linha de defesa de determinada região estratégica, geralmente cobiçada por exércitos rivais. Essa região recebia o nome de “terra de ninguém”. A guerra de trincheiras foi o tipo de ação adotado na segunda fase da Primeira Guerra para que os exércitos conseguissem manter as posições conquistadas e planejar o avanço sobre outras, ainda em disputa.

O problema é que os soldados passavam meses vivendo dentro das trincheiras, expostos a todo tipo de condições climáticas – chuva, sol, neve etc. –, e aos ataques dos inimigos, o que incluía bombardeios, lançamento de morteiros, ataques de metralhadoras e bombas de gás tóxico.

  • Insalubridade e horror

Como não podiam abandonar as posições, os saldados tinham que fazer suas necessidades fisiológicas dentro das próprias trincheiras, onde também se alimentavam – com suprimentos estocados em péssimas condições. Desse modo, o cheiro de fezes e urina era constante nesse ambiente. Somava-se a isso o cheiro dos cadáveres dos soldados abatidos e das gangrenas dos soldados feridos. A proliferação de insetos e pequenos animais, atraídos pelos cadáveres, também era constante. O historiador Max Hasting, em sua obra Catástrofe: 1914 - a Europa vai à guerra, narra a visão que um soldado teve de ratos que devoravam um dos cadáveres:

[…] Outro soldado francês descreveu como infantes abatidos por metralhadoras ficaram estirados durante um mês diante de sua trincheira, “alinhados como numa manobra”. A chuva cai sobre eles inexoravelmente, e balas despedaçam seus ossos embranquecidos. Certa noite, Jacques, durante uma patrulha, viu enormes ratos saindo debaixo de seus casacos desbotados. Estavam gordos da carne humana de que se alimentavam. Com o coração batendo, ele se aproximou rastejando de um morto. O capacete tinha rolado. O morto ostentava uma careta na face desprovida de carne; o crânio pelado, os olhos comidos. Uma dentadura caíra em sua camisa decomposta e, da boca, escancarada, saltou um animal imundo”. [1]

Além disso, ainda havia as diversas doenças contraídas por causa da insalubridade. Uma delas era o pé de trincheira, que atingia os pés dos soldados e era causado pela umidade e pelo frio congelante. Há relatos de soldados que perdiam os dedos e parte da carne dos pés. Outros tentavam mover-se dentro das trincheiras e os pés descolavam-se inteiros dos tornozelos e permaneciam amputados dentro das botas.

Publicado por Cláudio Fernandes
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