Reino de Axum
O período da transição da Idade Antiga para a Idade Média é chamado por algumas correntes historiográficas como Período tardo-antigo. Nesse período, o mundo ocidental, que tinha como centro organizador o Império Romano, estava entrando em colapso em virtude das invasões bárbaras. Desse colapso uma nova civilização nasceu: a civilização cristã do Ocidente. Essa história é geralmente bem conhecida. O que não é muito conhecido, referente a esse mesmo período, é a formação de outras civilizações, em outros continentes, também influenciadas pela expansão do cristianismo. Uma dessas civilizações foi a de Axum, cujo centro estava situado na região da atual Etiópia.
A civilização axumita conseguiu formar um poderoso e duradouro reino a partir do século IV d.C. Esse reino conseguiu uma grande expansão a partir do século III d.C., quando conseguiu subjugar o Império de Kush, que dominava a região dos atuais Estados do Sudão do Sul e do Norte, situados abaixo do Egito. Apesar de o grande ápice do Reino de Axum ter se dado entre os séculos III e IV d.C., e a sua capital ter sido fundada só em 100 d.C., suas raízes remontam a um período bem mais antigo, por volta do século V a.C, quando a região da Etiópia era habitada pela cultura Da'mat.
O crescimento do Reino de Axum, entretanto, deveu-se em grande parte à conversão de um de seus principais reis ao cristianismo. O nome desse rei era Ezana e ele foi convertido em 330 d.C. por um monge cristão de origem fenícia chamado Frumêncio. Esse monge, a posteriori, tornou-se bispo de Axum. Ezana, após sua conversão, propagou a difusão do cristianismo por grande parte de seu reino, que se estendia também por algumas extensões de terra da Península Arábica e das planícies iranianas. O Reino de Axum durou até o século XII.
Muitos viajantes, historiadores e missionários estiveram nos domínios de Axum durante a Idade Média e início da Idade Moderna. Um deles foi o padre português Francisco Álvares, que, sob ordem do rei D. Manuel, esteve, entre os anos de 1520 e 1526, no então já Reino da Etiópia, que sucedeu Axum. De sua viagem a esse reino, Francisco Álvares produziu um famoso relato, intitulado: Verdadeira Informação das terras de Preste João das Índias, do qual citamos, abaixo, um trecho presente na coletânea Imagens da África, organizada por Alberto Costa e Silva:
Neste lugar de Aquaxumo, onde se fez crisã, [a rainha Candace] fez mui nobre igreja, a primeira que houve em Etiópia, chama-se Santa Maria de Sion. Dizem que se chama assim porque de Sion lhe veio a pedra de ara. Eles nesta terra (segundo dizem) têm por costume chamar às igrejas sempre pela pedra de ara, porque nela é escrito o nome de orago. Esta pedra que têm nesta igreja, dizem que os apóstolos lhe mandaram do monte Sion. [1] pp.115-116
Nesse relato podemos ver a descrição da igreja cristã mais antiga da Etiópia, uma das mais antigas do continente africano, “Santa Maria de Sion”. É interessante registrar que, até os nossos dias, há uma corrente específica da Igreja Etíope dentro do cristianismo, uma prova que suas tradições ainda permanecem vivas.