Resistência ao neocolonialismo em Madagáscar

O independente Reino de Madagáscar foi alvo do neocolonialismo francês no século XIX. A ocupação francesa, a partir desse processo, gerou movimentos de resistência pelo país.
Ranavalona II foi rainha de Madagáscar de 1868 a 1883 e procurou garantir a soberania do país durante seu reinado*

Madagáscar é uma ilha que se localiza na costa sudeste do continente africano que, durante a segunda metade do século XIX, foi alvo da ambição colonial dos franceses e, em consequência disso, foi transformada em uma área de colonização. Os franceses, a partir de um lobby da elite colonial do país, desestruturam e destituíram o governo que estava instalado em Madagáscar. Essa ação desencadeou movimentos de resistência pelo país africano.

Madagáscar no século XIX e a ação colonial dos franceses

Durante o século XIX, o Reino de Madagáscar procurou meios de garantir sua soberania, assim, em 1820, assinou com os ingleses o Tratado Anglo-Merina, que lhe garantia o reconhecimento internacional de uma das maiores nações do mundo. Outra potência da época, a França, somente firmou um acordo parecido com Madagáscar quatro décadas depois.

Desde a década de 1860, Madagáscar passou a ser governado pela rainha Ranavalona II e pelo primeiro-ministro Rainilaiarivony, os quais implantaram um projeto modernizador no país. A intenção dessa modernização visava, principalmente, organizar a administração e o exército do país para transformar Madagáscar em um “Estado civilizado”. Esses esforços, no entanto, não agradavam parte da elite colonial francesa.

O interesse dos franceses na região intensificou-se a partir da década de 1870, impulsionado por um forte lobby promovido por parlamentares da ilha de Reunião, localizada no Oceano Índico. A elite dessa ilha intentava colonizar Madagáscar para poder enviar-lhe seu excedente populacional, assim como garantir o acesso a seus recursos.

Esse interesse também era compartilhado por republicanos franceses, que passaram a defender mais abertamente a expansão dos domínios coloniais do país, e também pela direita católica, interessada em combater o avanço do protestantismo em Madagáscar, que avançava pela ação de missionários britânicos.

Para justificar sua investida sobre esse país, os franceses evocaram o discurso da “missão civilizatória”, que foi utilizado como uma justificativa comum por nações europeias durante o processo de neocolonialismo. Assim, a propaganda colonial francesa afirmava que Madagáscar era um local “selvagem” e “atrasado”.

O propósito francês de colonizar Madagáscar acabou gerando alguns desentendimentos com o governo malgaxe por questões econômicas, forçando a ilha a pagar altas indenizações aos franceses. Rainilaiarivony, percebendo a má-fé dos franceses, passou a realizar compras de armamentos e munições. Esses gastos levaram a um aumento de impostos, o que afetou a popularidade do governo malgaxe.

Guerras contra a França

Percebendo as intenções francesas no país, o governo malgaxe enviou diplomatas em busca de apoio internacional. Contudo, a missão dos malgaxes fracassou, pois nenhuma potência ocidental quis comprometer-se com Madagáscar e ir contra os interesses franceses. Sem o apoio esperado, Madagáscar foi atacada pelos franceses em maio de 1883, iniciando a Primeira Guerra Franco-Merina.

Durante esse conflito, os franceses deixaram evidentes suas intenções em transformar a ilha africana em seu protetorado. Esse conflito estendeu-se até dezembro de 1885, quando um cessar-fogo foi assinado e Madagáscar foi obrigada a pagar uma multa de 10 milhões de francos aos franceses. Essa nova dívida, somada aos gastos na guerra, destruiu a economia malgaxe e levou o governo local ao descrédito.

A instabilidade do governo de Rainilaiarivony e a crise econômica provocaram uma onda de banditismo, principalmente nas regiões interioranas do país. A desestabilização de Madagáscar foi utilizada pelos franceses como pretexto para reforçar o desejo de transformar o país em uma colônia francesa.

Com isso, uma nova guerra foi travada a partir de 1894, que consolidou o domínio dos franceses sobre Madagáscar. Nesse sentido, a Segunda Guerra Franco-Merina transformou esse país em uma colônia da França e destituiu o governo que estava instalado.

O domínio dos franceses na região, no entanto, não aconteceu sem resistência. Além de lutar contra a reação do próprio governo malgaxe em duas guerras, os franceses precisaram lidar com um movimento popular, que recebeu o nome de Menalamba em referência à cor da roupa dos rebeldes malgaxes, coberta de terra vermelha como forma de camuflagem.

O movimento dos menalamba atuava nos arredores da capital Antananarivo, em uma região conhecida como Imerina. Esse movimento lutava contra os dominadores franceses, mas também contra as elites malgaxes e defendia o fortalecimento das tradições religiosas locais. A rebelião menalamba foi controlada tempos depois pela repressão francesa. Outros movimentos de resistência surgiram depois em Madagáscar, porém o país somente reconquistou sua independência em 1960.

*Créditos da imagem: Aureliefrance e Shutterstock

Publicado por Daniel Neves Silva
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