Florbela Espanca

Florbela Espanca é considerada a mais importante figura feminina da literatura portuguesa. Em seus poemas, temas como a solidão e o erotismo são recorrentes.
Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, Alentejo, no dia 08 de dezembro de 1894. Faleceu em 1930, no dia de seu 36° aniversário

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida

Meus olhos andam cegos de te ver!

Não és sequer a razão do meu viver,

Pois que tu és já toda a minha vida!


Não vejo nada assim enlouquecida…

Passo no mundo, meu Amor, a ler

No misterioso livro do teu ser

A mesma história tantas vezes lida!


"Tudo no mundo é frágil, tudo passa…"

Quando me dizem isto, toda a graça 

Duma boca divina fala em mim!


E, olhos postos em ti, digo de rastros:

"Ah! Podem voar mundos, morrer astros, 

Que tu és como Deus: Princípio e Fim!…"

Os versos de Fanatismo, um dos mais conhecidos poemas de Florbela Espanca, ajudam-nos a compreender um pouco sobre o universo literário dessa que foi, ao lado de nomes como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, uma das maiores poetas da literatura portuguesa. Ao longo de seus breves, porém intensos, trinta e seis anos, escreveu poesia, contos, um diário e epístolas, além de ter sido responsável por traduzir vários romances para a língua portuguesa e ter colaborado para revistas e jornais.

Florbela Espanca nasceu no dia 08 de dezembro de 1894 em Vila Viçosa, Alentejo, região centro-sul de Portugal. Filha ilegítima e, embora tenha sido registrada como filha de pai desconhecido, foi educada pelo pai biológico, João Maria Espanca, e sua esposa, Mariana Espanca, de quem herdou o sobrenome que a tornaria conhecida no universo literário. Suas primeiras composições poéticas datam dos anos de 1903 e 1904, quando Florbela contava com apenas nove anos de idade. Foi uma das primeiras mulheres de Portugal a frequentar o curso secundário no Liceu Masculino André de Gouveia, em Évora.

A vida cheia de episódios controversos e sua postura pouco comum para uma mulher àquela época (divorciou-se duas vezes, algo impensável para os padrões sociais das primeiras décadas do século XX) alçaram Florbela ao posto de uma das primeiras feministas de Portugal. Exímia sonetista, tendo assemelhado sua linguagem à linguagem de Luís Vaz de Camões e Antero de Quental, seus poemas frequentemente traziam à tona temas como a solidão, a feminilidade, o erotismo, o desencanto, o sofrimento e a busca incessante pela felicidade:

O meu impossível

Minh'alma ardente é uma fogueira acesa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ânsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza!

Tudo é vago e incompleto! E o que mais pesa
É nada ser perfeito. É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar,
E tudo ser em vão! Deus, que tristeza!...

Aos meus irmãos na dor já disse tudo
E não me compreenderam!... Vão e mudo
Foi tudo o que entendi e o que pressinto...

Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora
Contar, não a chorava como agora,
Irmãos, não a sentia como a sinto!...

Florbela cometeu suicídio ao tomar uma sobredose de barbitúricos na cidade de Matosinhos, no dia 08 de dezembro de 1930, data em que completaria 36 anos de idade. A morte prematura do irmão Apeles Espanca em um trágico acidente de avião em 1927 foi devastadora para Florbela, que desde então não demonstrava mais vontade de viver. Em vida, apenas duas antologias, Livro de Mágoas, de 1919, e Livro de Sóror Saudade, de 1926, foram publicados. Outras obras, entre elas Charneca em Flor, uma de suas obras mais conhecidas, Juvenília e Reliquiae, foram organizadas por Guido Battelli, à época professor da Universidade de Coimbra, e publicadas postumamente.


Livro de Sóror Saudade
e Charneca em Flor, esse último publicado postumamente, estão entre os livros mais conhecidos de Florbela Espanca

Para você conhecer um pouco mais sobre a poética dessa importante figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX, o Mundo Educação selecionou dois poemas da escritora para você ler e apreciar. Boa leitura!

Charneca em Flor

Enche o meu peito, num encanto mago,

O frêmito das coisas dolorosas...

Sob as urzes queimadas nascem rosas...

Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago

Em mim? Eu oiço bocas silenciosas

Murmurar-me as palavras misteriosas

Que perturbam meu ser como um afago!

E nesta febre ansiosa que me invade,

Dispo a minha mortalha, o meu burel,

E, já não sou, Amor, Sóror Saudade...Olhos a arder em êxtases de amor,

Boca a saber a sol, a fruto, a mel:

Sou a charneca rude a abrir em flor!

In 'Charneca em Flor'.

Os versos que te fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros

Que a minha boca tem pra te dizer!

São talhados em mármore de Paros

Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolências de veludos caros,

São como sedas brancas a arder...

Deixa dizer-te os lindos versos raros

Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...

Que a boca da mulher é sempre linda

Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...

E, nesse beijo, Amor, que eu te não dei

Guardo os versos mais lindos que te fiz!

In ' Livro de Sóror Saudade'.

*A imagem que ilustra o artigo é capa do livro Florbela Espanca: uma estética da teatralidade, da escritora Renata Soares Junqueira, Editora Unesp.

Publicado por Luana Castro Alves Perez
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