Artigo de opinião

O artigo de opinião é um gênero textual pertencente ao tipo argumentativo e tem como intencionalidade apresentar o ponto de vista do(a) articulista — locutor(a) do texto — acerca de algum assunto relevante socialmente. Circula, em especial, em jornais, revistas e sites da internet, e pode tratar de temas polêmicos, em que são apresentados fatos, dados estatísticos e discursos de autoridade para fundamentar a tese apresentada.

A ideia é a de que, por meio da linguagem verbal escrita, as pessoas possam intervir socialmente para contribuírem com os debates que estão em voga, oferecendo subsídios para que outros também se posicionem a respeito de questões importantes, que vão desde aquelas relacionadas à política, à educação, ao meio ambiente, até àquelas de âmbito internacional, ou voltadas aos valores sociais e à ética. Nesse sentido, qualquer assunto pode ser trabalhado em um artigo de opinião.

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Características do artigo de opinião

Artigo de opinião é um gênero que circula em meios, como jornais, revistas e sites da internet.

O artigo de opinião visa a defesa de uma ideia, sendo, portanto, necessária a construção de uma tese sustentada por argumentos que podem gerar uma conclusão a respeito do assunto de maneira propositiva ou sintética, na maioria das vezes.

Para escrever um bom texto, o(a) autor(a) deve antecipar-se quanto aos possíveis posicionamentos contrários de seu interlocutor, utilizando-se da contra-argumentação. Portanto, é essencial estudar bastante o assunto antes da produção do texto, para que o discurso não se limite ao senso comum e seja, sobretudo, convincente.

Durante a construção do projeto de texto, lembre-se de que:

  • O artigo de opinião, por tratar de temas da atualidade, polêmicos e até mesmo provocativos, exigirá do(a) autor(a) competência para a seleção dos melhores argumentos sem desrespeitar o interlocutor ou subestimar posições alheias.
  • É um texto a ser publicado em veículos de comunicação que podem ter leitores de diferentes perfis. Nesse sentido, é fundamental adequar a linguagem, prevendo as características do público que acessa aquele determinado meio.
  • O título deve ser atrativo, convidativo. Nesse momento, com criatividade, já é possível a adesão do leitor às ideias a serem defendidas no artigo.
  • É permitido flexionar verbos e pronomes na 1ª pessoa do singular, ou seja, embora seja essencial a fundamentação das opiniões apresentadas, elas podem ser construídas de forma subjetiva. Contudo muitos articulistas optam pela 3ª pessoa do discurso.
  • Considerando as características dos veículos de publicação, o artigo de opinião é um texto geralmente curto, com linguagem direta, objetiva, simples e harmônica.

Estrutura de um artigo de opinião

Embora cada articulista possa demonstrar o seu estilo de escrita, sobretudo aqueles mais consagrados, minimamente é possível reconhecer alguns elementos composicionais:

  1. Introdução — contextualização e/ou apresentação da questão que está sendo discutida.
  2. Desenvolvimento — explicitação do posicionamento adotado com a utilização de argumentos e de contra-argumentos; apresentação de dados, informações e discurso de autoridade.
  3. Conclusão — ênfase/retomada da tese e/ou proposta de intervenção social.

Como se faz um artigo de opinião?

  • Estude bastante o assunto que pretende abordar, verifique autores que já trabalharam o tema, e selecione informações que estejam adequadas ao seu ponto de vista.
  • Lembre-se de utilizar sempre fontes de pesquisa fidedignas.
  • Construa argumentos fortes, que tenham fundamentação pertinente e que de fato sustentem o ponto de vista. Evite o uso exagerado de discursos do senso comum.
  • Tente prever quais argumentos o “outro lado” poderia utilizar e antecipe-se, fortaleça o ponto de vista defendido refutando o que lhe é contrário.
  • Retome a tese para construir sua conclusão. Caso seja possível, apresente uma proposta exequível de intervenção social, como forma de apontar caminhos para a solução do problema tratado no texto.
  • Não se esqueça de adequar a linguagem ao público leitor.
  • Produza um título criativo.

Leia também: Carta argumentativa: outro gênero pertencente ao tipo argumentativo

Exemplo de artigo de opinião

Para onde foram os empregos da classe média?

Em várias áreas, as tecnologias provocam transformações e redução de empregos.

 José Pastore |1|

Estudos recentes sobre o impacto das tecnologias no mercado de trabalho indicam que a destruição de empregos não é tão catastrófica quanto se pensava. Países que usam intensamente as tecnologias modernas registram taxas de desemprego muito baixas: Estados Unidos (3,7%), Alemanha (3%), Coreia do Sul (3%), Japão (2,2%) e outros. Preocupa, porém, o fato de as novas tecnologias conspirarem contra a classe média (FREY. C. B. The technology trap. Princeton: Princeton University Press, 2019; OECD. Under pressure: the squeezed middle class. Paris: OECD, 2019).

As mudanças tecnológicas do passado demandaram uma aceleração da educação que redundou em bons empregos e bons salários para a classe média. No entanto, a revolução tecnológica, ora em andamento, está eliminando a necessidade da intervenção humana em profissões típicas da classe média — técnicos, chefes, gestores, supervisores, controladores, auditores, contadores, corretores, secretárias e até médicos, advogados, engenheiros e professores.

Em várias áreas, as tecnologias provocam transformações e redução de empregos. Por exemplo, as muitas secretárias, que antes datilografavam, arquivavam e faziam ligações telefônicas, deram lugar a poucas profissionais que, além de digitarem e telefonarem, fazem pesquisas na internet, organizam viagens e eventos, controlam custos, orientam novatos e executam outras atividades. Isso ocorre com inúmeras profissões de classe média para as quais o diploma deixou de ser garantia para bons empregos.

Essas mudanças levaram muitos profissionais de classe média a migrarem para atividades de menor qualificação, com produtividade e salários mais baixos — zeladores, vendedores, entregadores, motoristas, garçons, recepcionistas, jardineiros, cuidadores etc. A mobilidade social passou a ser descendente. É verdade que os mais qualificados subiram para a zona dos altos salários, mas são poucos. As novas tecnologias vêm gerando uma polarização no mercado de trabalho, aumentando a desigualdade. A produtividade do trabalho tem subido mais do que a renda de muitos profissionais de classe média.

É verdade que as tecnologias modernas geram novas e boas oportunidades de trabalho, mas, para grande parte da classe média, elas têm sido piores do que as anteriores. Para muitos, viver com trabalho instável e precário passou a ser o novo normal. A frustração gerada por esse processo tem se refletido no campo da política. A ascensão de governantes populistas é observada por toda parte, inclusive no Brasil. Setenta e cinco por cento dos brasileiros acham que a economia brasileira foi capturada pelos ricos e buscam líderes populistas que prometem reverter o processo num passe de mágica.

Nos anos de 1950-70, o Brasil foi campeão de mobilidade social ascendente. Muitos trabalhadores de origem rural e pouco qualificados conseguiram inserir-se na indústria nascente, apreendendo em serviço, e subindo na escala social. Os que tinham alguma qualificação progrediram ainda mais ao empregarem-se nas empresas estatais e nas entidades financeiras que rapidamente expandiram-se naquela época. Embora em menor escala, a mobilidade prosseguiu nos anos de 1980-90, e no início dos anos 2000, houve a ascensão de trabalhadores das classes baixas para a média inferior.

Com a chegada dos anos recessivos (2014-18), o desemprego e a informalidade aumentaram, dando claros sinais de descenso social para os que tinham recém-chegado aos primeiros degraus da classe média. Hoje, são raros os filhos adultos que estão em situação social melhor do que a de seus pais. O que será do restante da classe média quando a economia brasileira voltar a crescer e incorporar as novas tecnologias? Para aonde irão os poucos empregos ali restantes? É bem provável que a mobilidade descendente prossiga e que as escolhas populistas avancem. Só um choque de boa educação e qualificação para o novo trabalho pode deter essa tendência.

Notas

|1| Professor da Universidade de São Paulo e membro da Academia Paulista de Letras. É presidente do conselho de emprego e relações do trabalho da Fecomercio-SP. Artigo publicado em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/opiniao/2019/10/04/internas_opiniao,794776/artigo-para-onde-foram-os-empregos-da-classe-media.shtml

Publicado por Sara de Castro
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