Texto dissertativo-argumentativo

Texto dissertativo é uma modalidade textual, cobrada em vestibulares e concursos, que consiste na defesa de uma tese e na exposição de argumentos visando à persuasão do leitor.
O texto dissertativo-argumentativo é cobrado na prova de redação do Enem. [1]

O texto dissertativo-argumentativo é voltado para a exposição e defesa de argumentos. Assim, ele trata de determinado tema, apresentando uma tese central sobre ele e desenvolvendo argumentos com informações a fim de persuadir o seu leitor. É a modalidade textual mais cobrada em vestibulares e concursos.

Leia também: Texto expositivo — o tipo de texto que tem o objetivo de apresentar um assunto

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Estrutura do texto dissertativo-argumentativo

O texto dissertativo-argumentativo é um texto predominantemente argumentativo em que o autor defende uma tese no intuito de persuadir o seu leitor. Do ponto de vista estrutural, ele é dividido em três partes:

  • Introdução: trata-se da apresentação do tema a ser discutido, a exposição da tese (opinião) do autor em relação à temática e a exibição dos principais argumentos que serão desenvolvidos na sequência.

  • Desenvolvimento: trata-se da parte em que são apresentados os argumentos e as informações necessárias para validá-los (argumento de autoridade, argumentação por exemplo, argumento de causa e efeito etc.).

  • Conclusão: trata-se de uma síntese de tudo o que foi tratado. No caso do texto dissertativo-argumentativo do Enem, em especial, é essencial apresentar ainda uma solução para o problema (proposta de intervenção).

Em termos de dimensões, a introdução e a conclusão correspondem, cada uma, a 25% de todo o texto dissertativo-argumentativo. Já o desenvolvimento ocupa a outra metade, isto é, 50% de todo o texto. Assim, o desenvolvimento é o núcleo em uma produção dissertativo-argumentativa, pois é nele que teremos os argumentos e as informações necessários em defesa de um ponto de vista.

Exemplos de texto dissertativo-argumentativo

  • Exemplo 1

Em “Vigiar e punir”, o filósofo Michel Foucault constrói um paralelo entre as prisões e as escolas. A relação se dá pela rigidez no ensino formal e pela desconexão das instituições de ensino com a realidade.

Em primeiro lugar, é evidente que há alguns fatores de similaridade entre escola e prisão, tais como: horários de entrada e saída, uso de uniformes e identificação por números, sistema de disciplinarização e controle da merenda. Assim, todos esses elementos apresentados contribuem para uma rigidez no ensino, corroborando as proximidades da escola com a prisão, conforme Foucault havia apresentado em seu livro publicado em 1975.

Em segundo lugar, a escola não atua como uma microvisão de nossa realidade. De acordo com Freud, é na educação que as crianças aprendem o princípio de realidade. No entanto, o que percebemos é uma escola que produz conhecimentos que não serão utilizados quando o estudante entrar na vida adulta e, consequentemente, ampliar a sua participação na sociedade.

Assim, o pensamento de Foucault, ainda que desenvolvido nos anos finais do século passado, continua atual e nos proporciona uma crítica contundente sobre os modelos de ensino vigentes nas instituições de ensino do presente.

A redação acima é um texto dissertativo-argumentativo que defende a tese do autor Michel Foucault ao comparar a escola com uma instituição prisional. Assim, nele é possível identificarmos os três elementos básicos do texto dissertativo-argumentativo: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Sobre a primeira, apresenta-se o tema, a tese e os argumentos para, na sequência, desenvolver, nos parágrafos dois e três, as ideias. Por fim, encerra-se com uma retomada da discussão inicial seguida de seu fechamento.

  • Exemplo 2

Embora a Constituição Federal de 1988 assegure o acesso à cultura como direito de todos os cidadãos, percebe-se que, na atual realidade brasileira, não há o cumprimento dessa garantia, principalmente no que diz respeito ao cinema. Isso acontece devido à concentração de salas de cinema nos grandes centros urbanos e à concepção cultural de que a arte deve ser direcionada aos mais favorecidos economicamente.

É relevante abordar, primeiramente, que as cidades brasileiras foram construídas sobre um viés elitista e segregacionista, de modo que os centros culturais estão, em sua maioria, restritos ao espaço ocupado pelos detentores do poder econômico. Essa dinâmica não foi diferente com a chegada do cinema, já que apenas 17% da população do país frequentam os centros culturais em questão. Nesse sentido, observa-se que a segregação social — evidenciada como uma característica da sociedade brasileira, por Sérgio Buarque de Holanda, no livro “Raízes do Brasil” — se faz presente até os dias atuais, por privar a população das periferias do acesso à cultura e ao lazer proporcionados pelo cinema.

Paralelo a isso, vale também ressaltar que a concepção cultural de que a arte não abrange a população de baixa renda é um fato limitante para que haja a democratização plena da cultura e, portanto, do cinema. Isso é retratado no livro “Quarto de despejo”, de Carolina Maria de Jesus, o qual ilustra o triste cotidiano que uma família em condição de miserabilidade vive, e, assim, mostra como o acesso a centros culturais é uma perspectiva distante de sua realidade, não necessariamente pela distância física, mas pela ideia de pertencimento a esses espaços.

Dessa forma, pode-se perceber que o debate acerca da democratização do cinema é imprescindível para a construção de uma sociedade mais igualitária. Nessa lógica, é imperativo que o Ministério da Economia destine verbas para a construção de salas de cinema, de baixo custo ou gratuitas, nas periferias brasileiras por meio da inclusão desse objetivo na Lei de Diretrizes Orçamentárias, com o intuito de descentralizar o acesso à arte. Além disso, cabe às instituições de ensino promover passeios aos cinemas locais, desde o início da vida escolar das crianças, mediante autorização e contribuição dos responsáveis, a fim de desconstruir a ideia de elitização da cultura, sobretudo em regiões carentes. Feito isso, a sociedade brasileira poderá caminhar para a completude da democracia no âmbito cultural.

Esse é um texto dissertativo-argumentativo redigido pela estudante Ana Clara Socha e que atingiu a nota máxima no Enem de 2019, cujo tema era “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”.

No Enem, o texto dissertativo-argumentativo apresenta algumas características distintas devido às exigências cobradas pelo processo seletivo. Assim, a redação possui, obrigatoriamente, no contexto do Enem, uma proposta de intervenção em seu último parágrafo. Temos acima um exemplo de uma redação nota 1000, com a conclusão (marcada em vermelho) apresentando a solução exigida na prova.

Passo a passo de como fazer um texto dissertativo-argumentativo

 Para fazer um bom texto dissertativo-argumentativo, o passo a passo a seguir é fundamental.

→ Identificar o tema

Em primeiro lugar, é preciso identificar o tema, isto é, constatar sobre o que será falado no texto. Nesse aspecto, é interessante que o autor reflita sobre a temática, identificando possíveis elementos a serem discutidos.

Em uma prova de vestibular, como é o caso do Enem, o tema geralmente vem acompanhado de uma coletânea. Ainda que a proposta tenha como objetivo dar um norte à discussão, é preciso ampliar, no texto, para além do que está sendo oferecido.

→ Definir a tese e os argumentos

A tese é basicamente a opinião do autor sobre um tema. Após analisar e refletir sobre a temática, o próximo passo é definir qual é a opinião sobre ela. Para defender uma tese, é necessário selecionar e organizar os argumentos.

Além disso, como o texto dissertativo-argumentativo tem como uma de suas características a persuasão, é importante escolher as informações adequadas (argumentos de autoridade ou dados estatísticos) para reforçar e validar a opinião acerca daquele tema.

→ Amarrar adequadamente as ideias na conclusão

A conclusão deve funcionar como uma amarração das ideias apresentadas durante o desenvolvimento. É importante que não fiquem pontas soltas e que o argumento não dê margens para uma diversidade de interpretações. Sendo assim, é preciso finalizar o texto respeitando as relações lógicas estabelecidas e não deixando dúvidas ao leitor. 

Saiba mais: 8 dicas sobre a estrutura do parágrafo

Texto dissertativo-argumentativo no Enem

Como mencionado, o texto dissertativo-argumentativo é a modalidade de escrita cobrada na prova do Enem. Os estudantes são avaliados em cinco competências, a saber:

  • Competência 1: demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.

  • Competência 2: compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.

  • Competência 3: selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

  • Competência 4: demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.

  • Competência 5: elaborar proposta de intervenção para o problema aborda.

Resumindo: Em uma redação do Enem, os alunos precisam escrever um texto dissertativo-argumentativo dentro da norma-padrão da língua, tratando de um tema especificado na coletânea, respeitando as estruturas e características do texto dissertativo-argumentativo e apresentando, ao final, uma proposta de solução para o problema exposto.

Crédito de imagem

[1] Brenda Rocha - Blossom / Shutterstock

Publicado por Rafael Camargo de Oliveira
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