Fogo no Cerrado
Muitas pesquisas acadêmicas indicam que o fogo, durante o processo de formação do cerrado brasileiro, teve papel imprescindível para tal. Essa conclusão se deu a partir da constatação de que a origem deste bioma coincidiu com a maior vulnerabilidade da região a incêndios naturais, fato este comprovado pelo predomínio de gramíneas, há aproximadamente dez milhões de anos. Como estes vegetais são bastante inflamáveis, permitiram com que determinadas regiões se tornassem suscetíveis a incêndios naturais. Assim, as plantas mais adaptadas a estas condições tiveram sucesso, e muitas delas são encontradas até hoje nestas formações vegetais. Casca espessa, troncos tortuosos, raízes profundas e folhas também espessas são algumas características visíveis nestes exemplares.
O clima seco e a presença de ventos fortes são fatores que propiciam a ocorrência de queimadas no cerrado. Em tais eventos, a temperatura do ar se eleva em torno de 750°C, e pode propiciar o rebrotamento de várias espécies vegetais e a germinação de sementes. Além disso, a ciclagem de nutrientes pode ser intensificada, assim como a colonização de espécies arbustivas, em consequência da queimada de espécies lenhosas. Tais mudanças propiciam o florescimento, e a chegada de animais polinizadores. Um pouco mais tarde, atraídos pela oferta de frutos, aparecem animais de maior porte, e estes contribuem para a colonização de animais carnívoros...
Tudo isso não seria um grande problema se as queimadas tivessem causas unicamente naturais, como em consequência de raios, por exemplo. O problema é que a sua incidência, e também a duração e a área de abrangência, tem sido bem maior em razão da ação humana.
Além da perda de paisagens, susceptibilidade a erosões no solo e o aumento da concentração de gases e aerossóis na atmosfera, a morte de animais também está no ranking dos efeitos nada positivos das queimadas não naturais. Isso se torna mais sério se pensarmos que muitas áreas nativas deram lugar a pastos e monoculturas, dificultando a ocupação de outras áreas pelos animais que conseguiriam escapar do fogo. Assim, a perda gradual de diversidade e alterações drásticas na estrutura da vegetação, mantendo-a em estágios sucessionais mais iniciais são fatores que demonstram que o fogo descontrolado pode destruir, em poucas horas, grandes esforços relativos à conservação de uma área.
A principal causa do fogo, em regiões de cerrado, está relacionada às atividades agropecuárias, uma vez que tais sistemas utilizam o fogo como recurso para “limpar o pasto”, ou determinadas áreas antes do plantio, em períodos que antecedem a época das chuvas. Assim, capacitar as pessoas envolvidas nessas atividades, e pensar em alternativas, como a realização de queimadas programadas, em áreas limitadas e sucessivas, por pessoal qualificado; pode ser um grande passo para a proteção do cerrado.
Por Mariana Araguaia
Graduada em Biologia