Arthur Schopenhauer

Arthur Schopenhauer foi um filósofo alemão conhecido por sua visão pessimista em relação à existência humana. Tendo uma filosofia influenciada por Immanuel Kant, criou uma teoria metafísica baseada no que chamou de “vontade”. Em sua principal obra, O Mundo como Vontade e Representação, Schopenhauer defende que a realidade é impulsionada por uma vontade irracional e incessante, causa do sofrimento humano, da angústia e de tudo o que é feito.
Crítico do otimismo racionalista, que seria o suporte para entender o mundo como um lugar de domínio humano acima da natureza, Schopenhauer colocou a arte e a contemplação estética como as principais formas de aliviar a dor da existência frente à angústia (ou seja, ele não era tão pessimista assim). Sua filosofia influenciou o pensamento de Friedrich Nietzsche, que, embora tenha discordado de seu pessimismo, desenvolveu conceitos como a vontade de potência a partir da filosofia schopenhaueriana.
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Resumo sobre Arthur Schopenhauer
- Enquanto estudante de Filosofia, Arthur Schopenhauer afastou-se do hegelianismo e do idealismo.
- De acordo com Schopenhauer, a vontade é uma força irracional e incessante que impulsiona tudo no universo, causando desejo e sofrimento.
- A vida é marcada pelo ciclo de desejo e tédio, e o sofrimento é inerente à condição humana.
- A contemplação estética e a renúncia aos desejos podem aliviar o sofrimento e proporcionar uma existência mais autêntica.
- Nietzsche foi influenciado por Schopenhauer, mas rejeitou seu pessimismo e propôs uma filosofia afirmativa da vida.
Biografia de Arthur Schopenhauer
Arthur Schopenhauer nasceu no dia 22 de fevereiro de 1788, na cidade de Danzig, que seria atualmente Gdansk, Polônia. O futuro filósofo veio de uma família abastada e relativamente influente. Seu pai foi Heinrich Floris Schopenhauer, um comerciante, e sua mãe foi Johanna Schopenhauer, uma escritora conhecida por mediar salões de leitura e por ter sido a primeira mulher alemã a conseguir publicar um livro sem pseudônimo masculino.
Schopenhauer teve uma educação voltada para a literatura e para a erudição, o que despertou seu interesse pela filosofia. Seu pai iria criá-lo para tocar os negócios da família, mas sua morte prematura o impediu de preparar o sucessor. Esse fator foi fundamental para que Schopenhauer pudesse seguir carreira como filósofo, e não como homem de negócios.
Apesar do interesse em comum com a mãe pela literatura, Arthur e Johanna não se davam muito bem. Uma relação conturbada entre uma mãe viúva, mas sociável e bem-relacionada, e o filho introspectivo e de caráter melancólico causou o distanciamento e ruptura total entre os dois. Certamente, essa relação conturbada com a mãe, aliada à morte do pai, fizeram Arthur nutrir sua visão negativa e niilista sobre o ser humano.
Em 1809, Schopenhauer entrou para a Universidade de Göttingen para cursar medicina, mas mudou para a filosofia. Inicialmente, o pensador foi muito influenciado pela filosofia de Platão e Kant. Logo ele se transferiu para a Universidade de Berlim, onde teve contato com o filósofo e o também filósofo e teólogo Friedrich Schleiermacher. Esses últimos estiveram próximos de uma linha de interpretação filosófica chamada alemão, junto a Hegel. Schopenhauer se distanciou e rejeitou essa corrente de pensamento.
Em 1813, o pensador escreveu sobre a Quadrúplice Raiz do Princípio da Razão Suficiente, ensaio que lhe rendeu o título de Doutor em Filosofia. Em 1819, ele publicou sua obra-prima, o livro O Mundo Como Vontade e Representação, obra em que ele aprofunda seu conceito de “vontade”, muito estudado anos depois pelo pensador alemão Friedrich Nietzsche.
Schopenhauer e um dos idealistas alemães, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, eram adversários. Schopenhauer não o suportava, mas não tinha o mesmo reconhecimento que ele. Isso fez com que Arthur fosse se afastando do meio acadêmico, vivendo boa parte de sua vida recluso, escrevendo, lendo, revendo e aprofundando seus livros e sua filosofia.
Schopenhauer só começou a ser reconhecido, desejo que tinha quando mais jovem, na década de 1850. A partir daí, seus escritos se tornaram conhecidos pelo grande público e influenciaram personalidades, como o músico alemão Richard Wagner e, mais tarde, o filósofo Nietzsche e o escritor Thomas Mann. Hoje se sabe, sem dúvida, que Schopenhauer é um dos pensadores mais influentes de sua época.
Arthur Schopenhauer morreu em 21 de setembro de 1860, em Frankfurt am Main, aos 72 anos de idade.
O que Schopenhauer defendia?
Essa pergunta é muito genérica e, dificilmente, pode ser respondida com satisfação para um pensador do nível de Schopenhauer, pois é difícil condensar todos os seus pensamentos em apenas um tópico, reduzido, sem perder a qualidade e sem deixar elementos importantes de fora. No entanto, alguns pontos nos dão uma direção para responder a essa pergunta.
Arthur Schopenhauer defendia que há uma força cósmica, chamada vontade, responsável por tudo o que há no mundo. Existem dois riscos muito grandes ao ler a obra de Schopenhauer: 1) achar que a vontade é simples querer; 2) achar que ele era um pessimista radical incurável. Vou explicar melhor a seguir...
Vontade não é simples querer. O ser humano quer, isso é fato, mas a filosofia de Schopenhauer não é sobre isso. O ser humano quer, a vida quer, a natureza quer. O ser humano quer se concretizar enquanto humano. A vida quer perdurar, concluir, reproduzir. O mundo quer permanecer. A vida quer continuar. Enfim, são muitos quereres. Vontade é, para além desses “quereres” particulares, uma força cósmica, geral, generalizante, absoluta. Vontade é algo que não se pode explicar com simples palavras em um pequeno texto, mas algo que toma conta de toda a filosofia de Schopenhauer. Vontade é algo que transcende a matéria e torna a vida pulsante. Enfim, vontade é a própria vida.
Achar que Schopenhauer é um pessimista irremediável também pode ser um erro. De fato, Schopenhauer tem uma visão bem pessimista sobre a existência, baseado na metafísica da vontade. Segundo o pensador, o ser humano é tomado pelo par: desejo de ter e tédio de possuir. Porém, esse ciclo não é absoluto na vida do ser humano, apesar de ser, segundo Schopenhauer, constante. Querer ter, desejar e, quando finalmente conquistar, tediar-se pela conquista é algo constante, mas que pode ser amenizado pela existência estética. Schopenhauer não é totalmente pessimista, pois deposita na arte (em sua produção e apreciação) a esperança para uma existência autêntica.
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Filosofia de Schopenhauer
Aprofundando nas ideias de Schopenhauer, podemos destacar os seguintes pressupostos de sua teoria:
- O mundo como representação: influenciado por Kant, Schopenhauer argumenta que o mundo que experimentamos é apenas uma representação mediada pela nossa mente, ou seja, a realidade objetiva é inacessível a nós, pois só conhecemos as aparências.
- A vontade como essência do mundo: diferentemente de Kant, ele afirma que por trás da representação existe uma realidade última: a vontade, um princípio irracional, cego e incessante que impulsiona tudo no universo, inclusive nós, a humanidade.
- O sofrimento como condição da vida: como a Vontade nunca se satisfaz, a vida é marcada pelo desejo constante e pelo sofrimento. Quando obtemos algo, logo queremos outra coisa, e isso nos mantém presos a um ciclo interminável de frustrações. Esse é o par desejo/tédio.
- A arte e a contemplação como escapatória: ele acreditava que a contemplação estética (especialmente a música) poderia suspender temporariamente o sofrimento, pois permitiria que a mente se afastasse da vontade, ou seja, há uma saída, nem que seja temporária.
- A compaixão e a renúncia à vontade: inspirado pelo budismo e pelo ascetismo cristão, Schopenhauer defendia que a melhor forma de lidar com o sofrimento é renunciar aos desejos e ao apego ao mundo, adotando uma postura compassiva e desinteressada. Essa seria uma forma de livrar-se do peso da existência pela vontade, ou seja, livrar-se da própria vontade. Mais tarde, Nietzsche diria que esse pensamento é niilista, ou seja, (para Nietzsche) negador da vida enquanto existência biológica.
Schopenhauer acreditava em Deus?
Essa pergunta pode ser facilmente respondida, se pensarmos de uma maneira simplista: não, Schopenhauer não acreditava em Deus. No entanto, não podemos desconsiderar que a sua descrença em Deus implique uma falta de crença na metafísica.
Certamente, Schopenhauer não acreditava no Deus cristão, mas não deixou de ler as escrituras e procurar no ascetismo cristão fundamento para a sua filosofia. Do mesmo modo, procurou na doutrina budista fundamentos para falar de uma purificação das vontades humanas. Schopenhauer não acreditava em Deus, mas isso não o impediu de acreditar em uma força cósmica (a vontade) que cria e organiza todas as coisas.
Schopenhauer e o existencialismo
Schopenhauer não é, propriamente, um filósofo existencialista (pois ainda não haviam desenvolvido essa teoria de forma complexa), mas sua filosofia influenciou profundamente pensadores existencialistas, como Nietzsche (não é propriamente um existencialista, mas também é um pré-existencialista), Kierkegaard e Sartre. Sua visão pessimista da existência e sua ênfase na vontade como princípio fundamental da realidade anteciparam algumas das preocupações existencialistas sobre o sofrimento, a liberdade e o sentido da vida.
Segundo Schopenhauer, a vida é sofrimento, pois somos condicionados por uma espiral constante de revezamento entre a ânsia de ter e o tédio de possuir. Sempre estamos, na visão schopenhaueriana, desejando, querendo coisas, pois somos tomados pela força cósmica denominada vontade. Ela nos coloca na situação de sempre desejarmos sem que possamos satisfazer essa vontade. Essa ideia reaparece em livros de outros filósofos inspirados por Schopenhauer, como o conceito de vontade de poder, de Nietzsche, e a filosofia existencialista, principalmente em Jean-Paul Sartre e Albert Camus.
Para Schopenhauer, o ser humano não é livre. Desde a Antiguidade, o conceito de liberdade vem sendo discutido pela filosofia. Os estoicos a apontavam como um prerrequisito moral para a felicidade. Santo Agostinho a associou a um estado de livre-arbítrio concedido por Deus como um prerrequisito para a salvação ou danação da alma. Os modernos a associaram a um estado de vínculo absoluto com a racionalidade. Alguns contemporâneos, como Schopenhauer, negam a possibilidade da felicidade ao modelo antigo, como um estado da vida. Essa leitura pode ou não ressoar na filosofia existencialista, a depender da interpretação. Ao contrário do que muitos pensam, o existencialismo sartreano, por exemplo, não é pessimista, ao passo em que Camus tem uma leitura de mundo mais pessimista ligada ao absurdo da existência.
Muitas leituras atribuem a Schopenhauer um pessimismo irremediável, o que pode não ser a interpretação mais correta, pois ele encontra uma saída para a vida. Segundo o filósofo, existe uma possibilidade de escapar da espiral da ânsia e do tédio por meio da contemplação estética na arte e na música. Kierkegaard, Albert Camus e Sartre também refletem essa visão.
A tradição filosófica, desde Platão e Aristóteles, passando pelos modernos, racionalistas e empiristas, iluministas, positivistas e cientificistas como um todo, atribui à racionalidade a principal característica humana. O filósofo francês contemporâneo Paul Ricoeur cunhou a expressão “mestres da suspeita” para se referir à filosofia de Nietzsche, Marx e Freud, pois esses três autores desconfiaram da pretensão das filosofias anteriores de elegerem sistemas totalizantes. Schopenhauer não foi tão radical na suspeita, como Nietzsche, por ainda admitir a possibilidade de uma metafísica. No entanto, é inegável que o autor seja um crítico da visão de que a racionalidade é absoluta no ser humano, pois a vontade supera a racionalidade.
Schopenhauer e Nietzsche
O filósofo alemão contemporâneo Friedrich Nietzsche começou sua carreira filosófica bem próximo de uma leitura schopenhaueriana. Nietzsche era filólogo (estudioso de línguas antigas) por formação e foi lecionar Filologia Clássica na Universidade da Basileia. Nesse período, ele descobriu em Schopenhauer uma ponte para interpretar as tragédias gregas antigas, fonte de pesquisa para a preparação de seu primeiro livro publicado, O Nascimento da Tragédia.
Embora Nietzsche tenha encontrado em Schopenhauer uma primeira aproximação intelectual, ele passou a discordar fortemente das ideias schopenhauerianas, afastando-se delas. Segundo Nietzsche, Schopenhauer era extremamente niilista. Nietzsche adaptou o conceito de niilismo, colocando-o como uma força que nega a potência vital, que puxa o ser humano para baixo, que o enfraquece (uma leitura fortemente influenciada pelas filosofias helenistas). Quando Nietzsche percebeu que as teses de Schopenhauer não serviam mais à sua filosofia, afastou-se delas e estabeleceu um posicionamento crítico em relação a Schopenhauer.
Apesar do afastamento intelectual, o conceito de vontade não sumiu completamente do horizonte da filosofia nietzschiana, que encontrou como ponto central a ideia de vontade de poder. Para Schopenhauer, a vontade é a força cósmica inevitável que desencadeia o sofrimento. Para Nietzsche, a vontade de poder é a completa expressão da vida, da força e da natureza, sendo inevitável para a compreensão de uma vida autêntica.
Frases de Schopenhauer
"O homem pode, é verdade, fazer o que quer, mas não pode querer o que quer."
"A vida oscila, como um pêndulo, entre a dor e o tédio."
"O sofrimento é essencial à vida e inerente à existência."
"A compaixão é a base da moralidade."
"A felicidade é apenas a ausência de dor."
"O talento atinge um alvo que ninguém mais consegue acertar; o gênio atinge um alvo que ninguém mais consegue ver."
"Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência."
"O destino é cruel e os homens são dignos de compaixão."
"A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende."
"A solidão é o destino de todos os espíritos excelentes."
Fontes
SAFRANSKI, Rüdiger. Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia. Tradução de Lya Luft. São Paulo: Geração Editorial, 2009.
SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Tradução de Jair Barboza. São Paulo: Unesp, 2005.
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