O recorrente uso de “mesmo”: uma mesmice linguística?
Nosso assunto de hoje é a uma corriqueira prática: o uso do termo “mesmo” para substituir pronome ou substantivo. Veja alguns exemplos:
Antes de usar o aparelho, verifique se o MESMO encontra-se em perfeitas condições para tal.
Todos os alunos chegaram. Perguntes aos MESMOS se estão preparados para começar a avaliação.
Nos exemplos acima, em vez de empregar um pronome pessoal do caso reto, preferiu-se o uso de "mesmo", uma prática que não respeita os postulados gramaticais e que deve ser, portanto, evitada. Nesses casos, o correto seria:
Antes de usar o aparelho, verifique se ele se encontra em perfeitas condições para tal.
Todos os alunos chegaram. Pergunte a eles se estão preparados para começar a avaliação.
Mas quando usar o mesmo está correto?
Pois bem, para entender mesmo como isso ocorre, analisemos os seguintes casos:
- Na qualidade de advérbio, cuja acepção semântica se relaciona a “justamente”, “até”, “ainda”, “de fato”:
Foi aqui mesmo que nos encontramos pela primeira vez.
(Foi justamente aqui que nos encontramos pela primeira vez.)
- Funcionando como adjetivo/pronome, ao denotar o sentido de exato, próprio, idêntico:
Elas mesmas resolveram desculpar-se pelo mal-entendido. (Elas próprias)
- Desempenhando a função de substantivo, cujo sentido se refere à “mesma coisa”:
Ela disse o mesmo a mim. (A mesma coisa)
- Representando o valor de uma conjunção subordinada concessiva referente a “ainda que”:
Mesmo que chegasse cansada, nunca deixou de estudar. (Ainda que chegasse)
- Denotando o sentido de “dar na mesma”, “no mesmo estado”, “na mesma situação”:
Para os alunos, apresentar o trabalho ou não dá no mesmo. (tanto faz)
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras