Harriet Tubman
Harriet Tubman foi uma afro-americana que nasceu escrava na década de 1820, em Maryland. Ela fugiu da escravidão e se estabeleceu na Filadélfia, em 1849, e, a partir daí, tornou-se um dos grandes nomes na luta contra o trabalho escravo na história norte-americana. Ela também teve atuação destacada nos anos da Guerra de Secessão.
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Nascimento e juventude
Harriet Tubman nasceu originalmente com o nome de Araminta Ross, em Dorchester County, no estado de Maryland, em algum momento do começo da década de 1820. Não se sabe com precisão o ano em que ela nasceu, uma vez que escravos não tinham certidão de nascimento nos Estados Unidos. No entanto, acredita-se que ela tenha nascido entre os anos de 1820 e 1822.
Durante sua infância, ela era muito conhecida como Minty e foi a quinta filha de um total de nove que Harriet Green e Ben Ross tiveram juntos. Harriet Green e todos os seus filhos, incluindo Harriet/Araminta, pertenciam a Edward Brodess e sua mãe, Mary Brodess, donos de uma plantation na região costeira de Maryland.
Como Harriet era filha de escrava, ela conheceu os horrores do trabalho escravo logo na infância. Por volta dos 5 anos de idade, ela foi alugada para vizinhos dos Brodess para trabalhar como babá do filho de brancos. Nesse ofício ela não podia deixar o bebê acordar e chorar, pois era punida violentamente caso isso acontecesse.
A partir de sua adolescência, ela passou a acompanhar o seu pai, que trabalhava como lenhador. Nesse ofício ela conheceu o homem que foi o seu primeiro esposo, John Tubman, um afro-americano livre com quem se casou no ano de 1844.
A adolescência de Harriet também lhe rendeu um episódio traumático que lhe gerou consequências graves para o resto da vida. Acredita-se que, quando ela tinha por volta de 12 anos, ela estava a caminho de um armazém quando avistou um escravo em fuga sendo perseguido por um capataz. Esse capataz lançou um peso contra o escravo, e Harriet, ao tentar ajudar o escravo, foi atingida por esse peso na cabeça.
Fala-se que o choque do peso no crânio de Harriet causou uma concussão severa, pois ela ficou vários dias desacordada e sofreu com dores de cabeça fortes durante muitos anos. Além disso, outra sequela desse acontecimento foi o desenvolvimento de uma narcolepsia (doença que causa sono profundo na pessoa), que a acompanhou durante a vida toda.
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Em busca da liberdade
Muitos relatos da vida de Harriet contam que desde jovem ela demonstrava inconformidade com a escravidão, e as experiências ruins que o trabalho escravo causou em sua vida fizeram de Harriet uma mulher convicta em um objetivo: conquistar a sua liberdade.
Uma das ações de Harriet na procura por sua liberdade se deu logo após seu casamento com John Tubman. Ela contratou um advogado para investigar o passado familiar dela, e esse advogado descobriu que o antigo dono de sua mãe tinha deixado uma instrução para dar liberdade a Harriet Green (mãe de Harriet Tubman) quando ela completasse 45 anos de idade. Além disso, qualquer criança que nascesse dela ou de suas filhas após isso seriam consideradas livres
Essa instrução, no entanto, teria sido ignorada pelos atuais donos, os Brodess. Apesar disso, Harriet Tubman foi convencida de que contestar isso legalmente seria muito difícil. No final da década de 1840, Edward Brodess tentou vender Harriet Tubman, e ela passou a temer ser separada de sua família e ser enviada para o sul dos Estados Unidos.
Harriet Tubman, então, decidiu que fugir seria a única solução para a sua situação. Ela procurou seus irmãos para convencê-los a acompanhá-la nessa fuga e também tentou convencer seu marido, John Tubman, mas ele se recusou e ameaçou denunciá-la. Ela então abandonou o marido e, junto de Ben e Henry, dois de seus irmãos, fugiu em setembro de 1849.
Essa primeira fuga fracassou, porque seus dois irmãos decidiram retornar, forçando Harriet a voltar com eles. Harriet Tubman decidiu fugir pouco tempo depois, mas sozinha dessa vez. No período da fuga, ela já usava regularmente o nome de sua mãe, Harriet, abandonando seu nome de nascimento, Araminta.
A fuga de Harriet Tubman aconteceu por meio da Underground Railroad, uma rede secreta que levava escravos de regiões escravistas para regiões não escravistas no norte dos Estados Unidos e para o Canadá, local onde a escravidão não era permitida. Essa rede secreta fornecia auxílio para os escravos, enviando guias para ajudá-los na fuga, fornecendo abrigos, etc.
Harriet conseguiu trilhar a pé um caminho de dezenas de quilômetros até chegar à Filadélfia, no estado da Pensilvânia, estado onde a escravidão não era permitida. Na Filadélfia, Harriet teve contato com sociedades abolicionistas e logo se transformou em um dos grandes nomes da luta contra a escravidão nos Estados Unidos.
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Black Moses
Na Filadélfia, Harriet passou a trabalhar como doméstica para conseguir sobreviver. Além disso, ela passou a alimentar planos de resgatar sua família, que estava toda em Maryland. Em 1851, ela decidiu retornar para resgatar o seu marido e levá-lo para a Filadélfia, mas, chegando lá, ela o encontrou casado com outra mulher.
No retorno dessa viagem, ela guiou 11 escravos que queriam fugir em busca de sua liberdade. Essa foi a primeira experiência de Harriet como guia de escravos que fugiam pela Underground Railroad. Na década de 1850, ela se tornou um dos guias mais expressivos, realizando cerca de 13 expedições e garantindo a liberdade de cerca de 70 pessoas.
Harriet ficou tão conhecida no seu papel como guia de escravos fugidos que recebeu o apelido de Black Moses, que significa “Moisés Negro”, em uma referência a Moisés, hebreu que garantiu a liberdade desse povo, guiando-o para fora do Egito, na narrativa bíblica.
De toda forma, a atuação de Harriet como guia na Underground Railroad foi expressiva. Ela optava por fazer suas viagens à noite, quando a visibilidade era baixa, o que dificultava que ela e os escravos que ela guiava fossem avistados. Fala-se que ela carregava soníferos para dar para as crianças que começassem a chorar, pois o choro poderia denunciá-los.
Outra medida de segurança utilizada por Harriet era portar uma arma, que poderia ser usada para se proteger de capatazes e cachorros usados na caçada de escravos fugidos, mas também servia para intimidar escravos que resolvessem desistir da fuga no meio do caminho. Esses desistentes representavam um risco, pois poderiam denunciar a posição do grupo.
Durante essas expedições para garantir a liberdade de escravos, Harriet conseguiu libertar seus familiares, incluindo seu pai e sua mãe. Eles foram instalados no Canadá por um período, mas não se adaptaram ao clima de lá e se mudaram para Auburn (no estado de Nova York), em uma propriedade que Harriet tinha comprado.
Guerra de Secessão
A vida de Harriet também ficou marcada por ações durante a Guerra de Secessão, ou Guerra Civil Americana, conflito que se estendeu de 1861 a 1865 e causou a morte de 600 mil pessoas. Nessa guerra, Harriet atuou pelo lado da União e esteve em defesa dos nortistas, estados que, em geral, não eram escravistas.
Ela cumpriu missões como batedora e foi espiã, atuando na obtenção de informações a respeito das tropas confederadas. Outra função cumprida por Harriet foi a de enfermeira, atuando no atendimento de soldados feridos.
Em 1863, Harriet cumpriu o seu papel mais expressivo em toda a guerra. Ela foi batedora para as tropas de James Montgomery e liderou as mesmas tropas em um ataque contra fazendas de escravocratas que ficavam ao longo do Combahee River. Esse ataque destruiu linhas de suprimentos sulistas e libertou cerca de 750 escravos.
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Últimos anos
Nos últimos anos de sua vida, Harriet ainda dedicou esforços para garantir educação e boas condições de vida para a população afro-americana. Ela promoveu ações de caridade e atuou pela causa sufragista, isto é, pelo direito das mulheres de também votarem. Na sua vida pessoal, Harriet contraiu um segundo matrimônio, casando-se com Nelson Davis. Juntos, adotaram uma filha, chamada Gertie.
Os últimos anos de Harriet foram vividos em um lar de idosos em Auburn que ela mesmo desenvolveu. Lá ela faleceu em razão de uma pneumonia, em 10 de março de 1913.
Harriet se tornou um dos grandes nomes da luta antirracista nos Estados Unidos e é cogitada, como forma de homenagem, para estampar com seu rosto as notas de 20 dólares.
Créditos das imagens
[1] spatuletail e Shutterstock