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Causas da Guerra do Paraguai

As causas da Guerra do Paraguai estão relacionadas com o choque de interesses que aconteceu na década de 1860 entre os países da Bacia Platina.
Francisco Solano López, presidente e ditador do Paraguai durante o período da Guerra do Paraguai*
Francisco Solano López, presidente e ditador do Paraguai durante o período da Guerra do Paraguai*

A Guerra do Paraguai foi um conflito que se iniciou quando a embarcação brasileira Marquês de Olinda foi aprisionada e a província de Mato Grosso foi invadida pelo exército paraguaio em dezembro de 1864. Esse conflito estendeu-se até março de 1870 e encerrou-se com a derrota absoluta do Paraguai para a Tríplice Aliança.

Historiografia da Guerra do Paraguai: a visão dos historiadores

O estudo sobre a Guerra do Paraguai, sobretudo suas causas, causou e ainda causa muita polêmica no meio dos historiadores. A compreensão que se tinha dos principais eventos do conflito mudou radicalmente do início da década de 1990 para cá. Isso aconteceu em virtude de novos estudos na área realizados por historiadores paraguaios e brasileiros.

Os novos estudos foram realizados a partir de nova documentação sobre o conflito que até então não havia sido analisada. Os novos estudos deram surgimento a uma nova interpretação (os historiadores chamam isso de historiografia) das motivações do conflito. Historicamente, a Guerra do Paraguai foi interpretada de três diferentes maneiras.

A primeira historiografia é conhecida como historiografia tradicional e foi muito comum no Brasil na primeira metade do século XX. Essa historiografia entendia a guerra como resultado único e exclusivo da megalomania do ditador paraguaio e desconsiderava totalmente outros eventos do contexto platino da segunda metade do século XIX.

A segunda historiografia surgiu no Brasil a partir da década de 1960 e é conhecida como historiografia revisionista. Essa interpretação foi muito comum no Brasil até a década de 1990, mas até hoje se percebe sua influência. Ela se popularizou no Brasil a partir de livros produzidos por León Pomer e Júlio José Chiavenato e entendia a guerra como resultado do imperialismo britânico.

Segundo essa historiografia, a Guerra do Paraguai foi resultado das ambições da Inglaterra na abertura do mercado paraguaio. Os representantes dessa historiografia afirmam que o Paraguai era uma nação com um modelo de desenvolvimento autônomo e que havia passado por uma grande modernização. Para pôr fim à “ameaça” paraguaia, a Inglaterra teria supostamente manipulado Brasil e Argentina para que ambas destruíssem a economia paraguaia com a guerra.

Atualmente os historiadores consideram a historiografia revisionista ultrapassada e grandes críticas são feitas a ela, principalmente, por falta de evidências documentais que sustentem seus argumentos. Aqui no Brasil, os grandes precursores da nova historiografia foram os historiadores Ricardo Salles e Francisco Doratioto, que fizeram importantes estudos sobre a Guerra do Paraguai, trazendo novos e importantes elementos para o debate.

Causas da Guerra do Paraguai

As causas da Guerra do Paraguai estão centradas no processo de formação das nações platinas no contexto da segunda metade do século XIX. Cada nação possuía seus interesses econômicos e políticos, e a defesa desses interesses causou o choque entre o Paraguai e Brasil, Argentina e Uruguai.

Primeiramente, é importante considerar que o Paraguai não era uma potência econômica alternativa na América do Sul conforme o revisionismo afirmou. O Paraguai era uma nação essencialmente agrária, possuía sistemas de educação e saúde precários e havia passado por uma modernização somente nos meios militares – modernização essa realizada com capital e auxílio de técnicos ingleses.

O Paraguai era governado de maneira ditatorial por Francisco Solano López (havia assumido em 1862) e, por essa razão, não havia nenhum tipo de processo político no Paraguai. As decisões eram tomadas exclusivamente de acordo com a vontade do ditador. Além disso, grande parte dos opositores havia sido presa ou fugido do Paraguai por causa da repressão.

A Argentina, por sua vez, buscava consolidar suas fronteiras, e o presidente argentino Bartolomé Mitre liderava o país na luta contra os federalistas, grupo liderado por Justo José Urquiza e que ameaçava o país com separatismo nas províncias de Entre Rios e Corrientes. O Uruguai, por sua vez, vivia uma grande turbulência política em virtude do confronto político entre os blancos do presidente Bernardo Berro e os colorados, liderados por Venancio Flores.

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Por fim, o Brasil tinha como grande interesse garantir o seu direito de livre navegação pelos rios da Bacia Platina, sobretudo pelo Rio Paraguai, por ser a única forma de o Rio de Janeiro manter contato com a capital de Mato Grosso, Cuiabá (não havia naquela época estradas por terra que ligavam Cuiabá ao restante do Brasil).

As relações entre as nações platinas começaram a ficar tensas a partir de 1862 com a posse de Francisco Solano López como presidente paraguaio. Solano López iniciou uma política de aproximação com os federalistas argentinos de Urquiza – o que desagradou o governo argentino. Essa aproximação entre Paraguai e federalistas possibilitou também uma aliança com os blancos, que governavam o Uruguai com o presidente Berro.

A aliança do Paraguai com o Uruguai era vital para a economia paraguaia, pois lhe garantia o importante acesso marítimo a partir do porto de Montevidéu. O porto de Buenos Aires era inviável porque o Paraguai era aliado dos adversários do governo de Buenos Aires – os federalistas. A aliança com os blancos também desagradou Mitre, uma vez que a Argentina apoiava os colorados na guerra política do Uruguai.

Os colorados eram um grupo político liberal que defendia o livre comércio e a livre navegação nos rios da Bacia Platina. Essa postura agradava ao governo brasileiro, principalmente pelo fato de que o governo blanco possuía uma política antibrasileira na região muito forte. Assim, percebe-se que havia uma aproximação ideológica de Brasil e Argentina com os colorados.

A partir de 1863, a luta política entre blancos e colorados no Uruguai acirrou-se, e o Brasil, pressionado pelos estancieiros gaúchos, posicionou-se ao lado dos colorados. O Brasil demonstrou interesse em intervir diretamente no conflito (que se iniciou em 1864), alegando defender os cidadãos brasileiros de supostas agressões que estavam sofrendo no Uruguai por parte de milícias blancas.

A atitude brasileira em defesa dos colorados desagradou profundamente ao presidente paraguaio, que havia sido convencido por representantes blancos que a ação brasileira visava, na verdade, a ocupar e anexar o Uruguai e que o próximo alvo seria o Paraguai. O Brasil, no entanto, não possuía nenhum interesse anexionista. Os interesses brasileiros no Uruguai eram puramente econômicos para viabilizar os colorados no poder.

Temeroso de que o Brasil pudesse invadir seu território, o Paraguai adotou uma política de imposição e, em agosto de 1864, um ultimato foi realizado ao Brasil para que não invadisse o Uruguai. O Brasil ignorou as advertências e, em setembro de 1864, conduziu a invasão do Uruguai, que foi responsável por colocar Venancio Flores e os colorados no governo uruguaio.

O Paraguai, que já possuía à sua disposição um gigantesco e bem armado exército, em represália à invasão do Uruguai, atacou o Brasil em dezembro de 1864. A embarcação brasileira Marquês de Olinda foi aprisionada e, depois, foi conduzida a invasão da província de Mato Grosso. A entrada da Argentina no conflito ocorreu após a invasão da região de Corrientes pelo exército paraguaio. Isso fez com que Brasil, Argentina e Uruguai se aliassem com o Tratado da Tríplice Aliança.

*Créditos da imagem: Boris15 e Shutterstock

Publicado por Daniel Neves Silva
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