Conferência de Munique
A Conferência de Munique, também conhecida como Acordo de Munique, foi um encontro realizado entre os líderes da Alemanha Nazista, Grã-Bretanha, França e Itália em setembro de 1938. Nesse encontro, os líderes das quatro nações debateram questões relativas ao interesse alemão em anexar os Sudetos (região da Checoslováquia) ao seu território.
Esse encontro marcou a imposição da política britânica conhecida como “política de apaziguamento”, na qual britânicos e franceses uniram esforços para evitar que a crise envolvendo os Sudetos levasse ao início de uma nova guerra no continente europeu.
Expansionismo germânico
A Conferência de Munique foi resultado direto da política expansionista colocada em prática por Adolf Hitler a partir de 1938. A política expansionista da Alemanha, nesse período, era resultado de um pilar da ideologia nazista, conhecido como lebensraum, ou “espaço vital”, em português.
Leia também: Adolf Hitler
O conceito de “espaço vital” surgiu na Alemanha durante o século XIX e tinha como base a ideia de que os germânicos eram um “povo superior”. A partir dessa concepção, os alemães defendiam o ideal de que os germânicos (ou arianos, na terminologia nazista) tinham o “direito” de construir um império para que os alemães sobrevivessem.
Esse território de “direito”, segundo a ideia central, preconizava a anexação de regiões historicamente povoadas por povos germânicos ao território alemão, incluindo, naturalmente, uma série de regiões que pertenceram à Alemanha antes da Primeira Guerra Mundial. Esses territórios, em geral, concentravam-se na região chamada Leste Europeu.
Adolf Hitler sabia que essa ideia somente iria adiante se a Alemanha possuísse uma considerável força militar. O plano era usar o contingente militar para amedrontar outras nações, mas, caso necessário, realizar as conquistas militarmente. A reorganização do exército alemão foi iniciada por Hitler entre 1934 e 1935.
Com o fortalecimento do exército alemão, Adolf Hitler sentiu-se confiante em iniciar seus movimentos de expansão territorial. O primeiro alvo dos alemães foi a Áustria, país vizinho etnicamente composto por uma população de origem germânica. Tentativas de anexar a Áustria já haviam sido realizadas na década de 1910, mas foram barradas por ingleses e franceses. Agora, em 1938, com o crescimento de seu poderio, a Alemanha sentia-se novamente segura em promover essa ideia.
O governo austríaco passou a ser pressionado pelo governo alemão e pelo Partido Nazista da Áustria a aceitar as investidas germânicas e a anexar-se ao território da Alemanha, mas essa ideia foi negada. Hitler, então, autorizou a invasão da Áustria e, após invadir o país, organizou um referendo no qual a população, majoritariamente, concordava com a anexação de seu país à Alemanha. Esse episódio ficou conhecido como Anschluss.
Enquanto tudo isso acontecia, ingleses e franceses assistiam a tudo pacificamente, sem se colocarem contra os nazistas. Seja pelo rearmamento do exército alemão, seja pela expansão territorial, as ações da Alemanha iam contra as imposições do Tratado de Versalhes, no entanto, ingleses e franceses impuseram o que ficou conhecido como política de apaziguamento, porque ambos temiam iniciar uma nova guerra contra a Alemanha. Assim, realizavam concessões aos alemães para manter a paz no continente.
Crise dos Sudetos
Depois de anexar a Áustria, esperava-se que as ambições territoriais de Adolf Hitler permanecessem contidas, mas isso não aconteceu. Uma crise envolvendo os Sudetos, uma região da Checoslováquia que possuía uma população de germânicos étnicos de aproximadamente três milhões de pessoas, estourou.
A relação entre os sudetos alemães e a maioria da população checoslovaca, até a década de 1930, era bastante harmoniosa. No entanto, essa relação começou a azedar, por conta da Grande Depressão e da ascensão do Nazismo na Alemanha. Os alemães dos Sudetos sentiram fortemente o impacto da crise econômica e, ao perceberem a rápida recuperação econômica da Alemanha, passaram a apoiar uma política separatista.
O crescimento do separatismo dos alemães da região dos Sudetos, naturalmente, era propiciado por financiamento alemão e agradava profundamente a Hitler, que tinha planos de anexar não somente os Sudetos, mas toda a Checoslováquia. O ódio de Hitler justificava-se pelo fato de os checoslovacos serem eslavos e democratas.
A partir desse momento, a propaganda dos alemães entrou em ação, por meio da criação de uma imagem extremamente negativa do governo checoslovaco e da difusão de informações de supostos ataques promovidos pelo governo checoslovaco contra os sudetos alemães. Além disso, atacava-se a aliança existente entre a Checoslováquia e a União Soviética.
Acesse também: Operação Barbarossa
O interesse da Alemanha pela região dos Sudetos, além da questão étnica, pode ser explicado pelo fato de a região ser a mais rica e desenvolvida de toda a Checoslováquia e possuir um avançado parque industrial, sobretudo de fabricação de armas. Além disso, a região possuía importantes fontes de carvão e ferro.
Os ataques diplomáticos promovidos pela Alemanha contra a Checoslováquia chamaram a atenção de britânicos e franceses e elevaram a tensão na Europa. O primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain, temia uma guerra, devido à grande destruição que causaria e, principalmente, devido ao despreparo dos britânicos para enfrentá-la.
Assim, britânicos e alemães foram à mesa de negociação. Os britânicos estavam propensos a aceitar a exigência de Hitler sobre os Sudetos (os checoslovacos não foram consultados), mas Hitler queria mais, por isso uma nova reunião foi agendada para outubro. Antes dessa reunião, porém, aconteceu a Conferência de Munique.
Conferência de Munique
A Conferência de Munique foi organizada, sem o conhecimento de Hitler, por Hermann Göring, um militar alemão. Para essa reunião foram convidados os seguintes representantes: Neville Chamberlain, primeiro-ministro britânico; Édouard Daladier, primeiro-ministro francês; Benito Mussolini, governante da Itália, e Adolf Hitler, chefe da Alemanha, que só aceitou participar da reunião após pedidos de Göring e Mussolini.
A conferência aconteceu no dia 29 de setembro de 1938 e não contou com a participação dos checoslovacos. As negociações estenderam-se por longas treze horas, mas encerram-se com Hitler aceitando colocar fim às ameaças de guerra feitas. No dia 30, assinou um documento em que afirmava não ter intenções de promover guerra contra os britânicos.
Os Sudetos foram incorporados ao território alemão, e a Checoslováquia foi obrigada a entregar uma parte de sua produção de carvão, ferro e energia elétrica. Com isso, a ameaça de guerra foi temporariamente suspensa. A política de apaziguamento dos britânicos foi conduzida à custa da Checoslováquia, que foi fragmentada sem ter sido consultada sobre seus interesses. No dia 1º de outubro, as tropas da Alemanha invadiram e anexaram os Sudetos.
A Conferência de Munique e a política de apaziguamento, no entanto, do ponto de vista retrospectivo, foram um grande fracasso. Pouco menos de um ano depois, Hitler ordenaria a invasão da Polônia, e essa ação daria início à Segunda Guerra Mundial.