Genocídio em Ruanda
O genocídio em Ruanda foi um grande massacre que aconteceu nesse país africano entre abril e julho de 1994. Esse genocídio foi promovido pela maioria étnica de hutus contra os tutsis e contra os hutus moderados, que não aderiram à violência. Cerca de 800 mil pessoas foram mortas em 100 dias de ataque.
O genocídio tem relação com os ressentimentos étnicos entre hutus e tutsis e ocorreu no contexto da Guerra Civil Ruandesa. Foi encerrado quando a Frente Patriótica de Ruanda (FPR), força militar tutsi, invadiu Kigali e tomou o controle do país. A ONU foi bastante criticada por não intervir no genocídio, mesmo com tropas de segurança em território ruandês.
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Resumo sobre o genocídio em Ruanda
- O genocídio em Ruanda foi um massacre realizado entre abril e julho de 1994.
- Durante 100 dias, milícias hutus perseguiram e massacraram pessoas da etnia tutsi.
- O genocídio esteve inserido no cenário da Guerra Civil em Ruanda.
- Estima-se que 800 mil tutsis e hutus moderados foram mortos.
- A ONU foi criticada por negligenciar o conflito.
O que foi o genocídio em Ruanda?
O genocídio em Ruanda foi um grande massacre que aconteceu no país entre 7 de abril e 15 de julho de 1994. Durante 100 dias, milícias da etnia hutu promoveram ataques contra a minoria étnica tutsi, resultando em mais de 800 mil mortes. O genocídio em Ruanda foi consequência da rivalidade étnica no país e aconteceu no contexto da Guerra Civil Ruandesa.
O ressentimento étnico entre hutus e tutsis tinha raízes antigas em Ruanda, radicalizando-se no contexto da guerra civil. O genocídio foi bastante organizado, e informações e armas foram distribuídas pelo governo ruandês para que o massacre fosse conduzido pelas milícias hutus. A ONU e a comunidade internacional receberam fortes críticas por não intervirem e impedirem esse crime contra a humanidade.
Tutsis x hutus
A rivalidade entre hutus e tutsis foi fortemente reforçada durante a colonização belga, com os privilégios que os tutsis recebiam dos europeus. Com a independência de Ruanda, esse ressentimento se transformou em perseguição contra os tutsis. O discurso de ódio contra os tutsis foi promovido pelos hutus em estações de rádio, canais de televisão e jornais impressos. Os hutus referiam-se aos tutsis como “baratas”, difundido o discurso de que era necessário “eliminar as baratas” do país.
Principais causas do genocídio em Ruanda
Entre as razões que explicam o genocídio em Ruanda, estão:
- rivalidade étnica;
- disputa pelo poder;
- falta de ação da comunidade internacional.
Como aconteceu o genocídio em Ruanda?
O discurso de ódio hutu contra os tutsis foi promovido por grupos ligados ao (ou apoiados pelo) governo de Ruanda. Entre eles estavam o Akazu, grupo extremista que criou o termo “poder hutu”. O genocídio começou no dia 7 de abril de 1994, um dia depois da morte do presidente Habyarimana.
A morte do presidente Habyarimana foi usada como justificativa para iniciar os massacres, pois ele havia falecido em circunstâncias misteriosas. O avião em que ele estava, em Kigali, foi bombardeado e não se sabe a autoria do crime até hoje. Os hutus acusaram a Frente Patriótica de Ruanda (FPR), mas a milícia tutsi negou o ataque.
O governo ruandês forneceu listas com os nomes de tutsis para as milícias extremistas, além de armas. Essas milícias atacavam as moradias dos tutsis, e vilas inteiras foram violentadas pelos hutus. Postos de controle foram montados nas estradas para que tutsis fossem identificados e mortos. Hutus moderados que não aderiram à violência também foram vítimas dos massacres.
Grande parte das execuções era a golpes de facão, e, em 100 dias, cerca de 800 mil pessoas foram vítimas desse genocídio. Sua interrupção só aconteceu porque as forças do Frente Patriótica de Ruanda tomaram a capital Kigali e expulsaram os hutus do poder.
ONU e o genocídio em Ruanda
A Organização das Nações Unidas (ONU) foi bastante criticada por sua falta de ação no genocídio em Ruanda. A ONU tinha forças de segurança no país, e, com o genocídio em curso, essas forças não foram autorizadas a intervir, permitindo que o genocídio se mantivesse por 100 dias.
Posteriormente, a ONU admitiu sua omissão em relação ao genocídio em Ruanda. Forças de segurança belgas também estavam em Ruanda e foram criticadas por não interromperem esse crime contra a humanidade no país africano. Os franceses também foram bastante criticados no contexto, uma vez que a França era um dos principais vendedores de armas para o governo ruandês.
Quais foram as consequências do genocídio em Ruanda?
O genocídio em Ruanda é uma marca profunda na história e na sociedade ruandesa. Entre as consequências, destacaram-se:
- divisão étnica;
- morte de mais de 800 mil pessoas;
- destruição da infraestrutura do país no contexto do conflito;
- desestabilização da República Democrática do Congo;
- guerras entre Ruanda e Congo.
Contexto histórico do genocídio em Ruanda
A rivalidade entre hutus e tutsis existia desde o século XIX, sendo potencializada durante a colonização. Os belgas assumiram o controle de Ruanda em 1917, tomando a colônia dos alemães. Em Ruanda, os belgas fortaleceram a divisão étnica no local ao conceder privilégios à minoria étnica dos tutsis.
Os tutsis atuavam diretamente na administração colonial, assumindo posições no monitoramento do trabalho forçado e na execução de punições àqueles que não cumpriam as metas. Os belgas também permitiam que os tutsis fossem os únicos a terem acesso à educação, e exigiam que a etnia fosse registrada no documento de identificação.
Isso tornou a identificação étnica bastante rígida em Ruanda, e os privilégios concedidos aos tutsis geraram um forte ressentimento nos hutus. Em 1962, Ruanda conquistou sua independência dos belgas, e os hutus chegaram ao poder do país. Com isso, estabeleceu-se uma política de marginalização e repressão dos tutsis que resultou na fuga de 300 mil deles do país.
Esses tutsis que se refugiaram foram para países como Uganda, Tanzânia e Zaire (atual República Democrática do Congo). Na década de 1970, um golpe militar aconteceu no país, permitindo que Juvénal Habyarimana assumisse o poder. Habyarimana implantou uma ditadura que promoveu discurso pró-hutu.
Na década de 1980, a repressão aos tutsis permanecia, mas o governo de Habyarimana se enfraquecia com uma forte recessão econômica. A oposição à violência promovida por Habyarimana deu origem a uma mílicia tutsi chamada Frente Patriótica de Ruanda (FPR). Essa força militar surgiu nos campos de refugiados tutsis em Uganda e desejava tomar o poder do país para permitir o retorno dos tutsis.
O surgimento da FPR se deu em 1987, e a tensão em Ruanda aumentou ao ponto da Frente invadir o país em 1990, o que deu início a uma guerra civil. Esse conflito se estendeu até 1994, resultando na vitória do FPR, que assumiu o comando do país. O genocídio em Ruanda aconteceu durante o conflito e só foi interrompido quando a Frente tomou o poder em Ruanda.
Fontes
BRAECKMAN, Colette. Belgium’s role in Rwandan genocide. Disponível em: https://mondediplo.com/2021/06/11rwanda
MELO, Thiago Rodrigues. de. Ruanda – o holocausto que as Nações Unidas ignoraram. Disponível em: https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/235/9873/1/20076085.pdf
REDAÇÃO. Ruanda: a primeira condenação por genocídio. Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/rwanda-the-first-conviction-for-genocide
REDAÇÃO. Entenda o genocídio de Ruanda de 1994: 800 mil mortes em cem dias. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/04/140407_ruanda_genocidio_ms
REDAÇÃO. O genocídio em Ruanda e a atuação internacional. Disponível em: https://sites.ufpe.br/oci/2021/06/07/o-genocidio-em-ruanda-e-a-atuacao-internacional/