Japão após a Segunda Guerra Mundial
A rendição japonesa aos Estados Unidos aconteceu no dia 14 de agosto de 1945, dias após os EUA lançarem as duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. A oficialização da rendição japonesa aconteceu no dia 2 de setembro de 1945, no navio americano USS Missouri.
A aceitação dos termos de rendição emitidos na Declaração de Potsdam impôs ao Japão a ocupação militar realizada pelos Estados Unidos. Esse momento de transição foi realizado pelo general Douglas MacArthur.
A ocupação americana no Japão durou até a assinatura do Acordo de Paz de São Francisco, que ocorreu em 1951. A partir de 1952, o Japão tornou-se novamente um país “independente”, e as tropas americanas de ocupação deixaram o país conforme estipulava o acordo. Durante a ocupação americana, o Japão ficou proibido de possuir forças armadas (posteriormente os Estados Unidos permitiram que o Japão possuísse até 350 mil homens para garantir a segurança interna da nação).
A infraestrutura e economia japonesas estavam completamente destruídas em 1945. A inflação estava fora de controle, e a população, muitas vezes, só encontrava alimentos básicos no mercado negro. Além disso, a sombra soviética representava para os Estados Unidos um grande risco para seus interesses geopolíticos na Ásia.
A partir de uma parceria econômica entre Estados Unidos e Japão, a reestruturação da nação japonesa foi possível. Além disso, durante a ocupação americana, os Estados Unidos não permitiram que tropas soviéticas ocupassem parte do território japonês, o que acabou afastando qualquer tipo de influência soviética no Japão.
Construção da narrativa oficial do pós-guerra
Selo nigerino que mostra o Imperador Hirohito em 1928 *
A mobilização japonesa antes e durante a guerra foi realizada em nome do Imperador Hirohito. Apesar disso, o Imperador foi anistiado de qualquer responsabilidade pelos crimes japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Vejamos o porquê disso.
Primeiramente, a rendição japonesa aos termos da Declaração de Potsdam aconteceu sob a seguinte imposição do governo japonês: que o Imperador Hirohito não tivesse nenhum prejuízo em seu cargo. A respeito disso, o historiador japonês Yoshikuni Igarashi|1| afirma que o governo Imperial japonês somente aceitou a rendição em agosto de 1945 porque houve garantias de que o Imperador Hirohito não seria removido do cargo.
Igarashi afirma que “o governo estava, realmente, pronto para sacrificar os cidadãos japoneses por essa última exigência – a manutenção da Instituição Imperial”|2|. Os Estados Unidos aceitaram e garantiram a manutenção de Hirohito no cargo de Imperador, apesar de limitar seus poderes a partir da promulgação da nova Constituição japonesa em 1947. A aceitação americana ocorreu para evitar qualquer tipo de rebelião e razão da destituição do Imperador Hirohito.
A partir da manutenção do Imperador japonês, foi criada no Japão uma “narrativa oficial” do governo para isentar o Imperador e a sociedade japonesa de qualquer culpa, “apagar” qualquer ato de violência cometido durante a guerra e destacar apenas as agressões sofridas. Além disso, a decisão do Imperador de aceitar a rendição após o uso das bombas foi vista como uma intervenção divina do Imperador, que estava comovido com o sofrimento da população japonesa.
Essa “narrativa oficial” foi muito forte até a década de 1980 e foi destaque na cultura popular japonesa, sobretudo na televisão. Até hoje, ela é bastante utilizada por grupos políticos conservadores para negar qualquer responsabilidade do Japão na Guerra da Ásia |3|. Hirohito foi Imperador do Japão até sua morte, em 1989.
|1| IGARASHI, Yoshikuni. Corpos da memória: narrativas do pós-guerra na cultura japonesa (1945-1970) São Paulo: Annablume, 2011, p.67-68.
|2| Idem, p.67
|3| Idem, p.73
*Créditos da imagem: Sergey Goryachev e Shutterstock