Japop
Ao ligar a TV em um canal infantil nos deparamos com um ou outro tipo de animação bastante peculiar em seus padrões estéticos. Olhos grandes, traços finos e reações exageradas geralmente fazem parte do universo de um novo tipo de desenho de animação: o mangá. Esse tipo de desenho foi desenvolvido no Japão e hoje alcançou um grande prestígio entre os apreciadores desse tipo de entretenimento. Mais que uma nova moda infanto-juvenil, a febre dos mangás é um dos mais evidentes indícios da popularização da cultura japonesa no mundo.
Tal fenômeno conhecido como “japop” é reconhecido como uma conseqüência do processo de modernização dos meios de comunicação. O aumento do número de telespectadores fez com que a busca por novidades se tornasse cada vez mais freqüente. Nesse contexto, a busca por novas formas de entretenimento viu no “exotismo” da cultura nipônica uma tentativa de atender a demanda por novidades cada vez mais buscadas pelos canais de televisão que surgiam, principalmente, na década de sessenta.
Um dos primeiros tipos de introdução do “japop” na indústria do entretenimento ocorreu com a exibição dos seriados de super-heróis japoneses. Jovens e crianças, que na época constituíam o mais rentável setor do público televisivo, logo se encantaram com os poderes e bravura dos super-heróis nipônicos. Entre os pioneiros desses seriados, damos destaque especial ao “National Kid”, que fez bastante sucesso (inclusive no Brasil) nas décadas de 1960 e 1970.
Tais seriados foram de grande importância para que o fenômeno japop se consolidasse. Na década de 1980, outros seriados fizeram bastante sucesso em canais de televisão do mundo todo. Instituindo um público cativo, a cultura japonesa começou a ganhar espaço em outras formas de entretenimento. Na década de 1980, a indústria do cinema hollywoodiano se rendeu ao “japop” com a produção do clássico Karate Kid. Mesmo não sendo “made in Japão”, o filme demonstrava a força que o japop tinha conquistado na época.
Para fora dos interesses da indústria cultural, também salientamos que o “japop” reflete o sucesso e a modernização de um povo reerguido das cinzas deixadas pela Segunda Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, devemos nos lembrar que parte dos primeiros produtos culturais do “japop” perpetuou um conjunto de interpretações que enxerga a cultura japonesa enquanto sinônimo de tradição, disciplina e aperfeiçoamento. De certa forma, o “japop” não só mostra apenas um lado da cultura nipônica, bem como produz outros tipos de manifestação resultantes do contato com o mundo ocidental.
Nas produções do “japop” podemos notar como o Ocidente também tem grande influência no fenômeno. Mais do que a mera entrada da cultura oriental no Ocidente, o japop também viabilizou um intercâmbio de valores que deu origem, por exemplo, a filmes em que personagens ocidentais são fortemente influenciados pelos valores orientais. No campo da música também podemos fazer menção ao sucesso das bandas de “J-Rock” (Rock Japonês), dentre as quais destacamos o sucesso do grupo X Japan.
Atualmente, o “japop” atua em diferentes campos da cultura que se estendem até os setores da moda e da culinária. Mais que um fenômeno da indústria cultural ou moda, o “japop” é fruto de um processo de desterritorialização das culturas. Contando com o uso da TV, internet ou de celulares pessoas de locais distintos podem vir a conhecer e reinterpretar manifestações distantes de seu local de origem.
Por Rainer Sousa
Mestre em História