Samurai
Os samurais são popularmente conhecidos como destemidos heróis que, empunhados de afiadíssimas espadas, lutam contra a mais diversa sorte de inimigo. Porém, podemos vislumbrar nesse popular personagem japonês outras interessantes características que revelam traços da cultura e da História do Japão. Surgidos no período medieval japonês, os samurais não tinham esse caráter heróico e militar em sua origem. Inicialmente, a condição de samurai indicava um dos mais diversos cargos administrativos existentes nos palácios do Japão Imperial.
Os samurais guerreiros surgiram em uma fase conturbada da situação política japonesa, onde observamos uma forte relação de conflito entre os senhores feudais e as autoridades provinciais do império. A difícil relação entre esse dois grupos abriu portas para a formação de milícias que deveriam proteger os interesses de um senhor ou do império. Com isso, os samurais passaram a formar uma classe de habilidosos guerreiros que se espalharam por todo o Japão Feudal.
No interior dessa classe guerreira se desenvolveu uma cultura própria que dava ao samurai todo um aspecto distintivo. Orientados por um rígido código de ética escrito, chamado Bushido, o samurai era educado desde pequeno para estar apto para a luta e à obediência. Em batalha, sempre fazia referência aos seus ancestrais, ao seu senhor e o poder de sua espada. Esta tradição indicava como os valores familiares e a honra eram inquestionáveis para um verdadeiro samurai. Durante o combate, o verdadeiro samurai deveria estar pronto para matar seu inimigo e disposto a morrer em glória.
Submetido a rígidas relações de fidelidade, o samurai tinha como obrigação primordial defender a vida de seu senhor. Quando um samurai era responsável pela morte de seu senhor ou descumprisse uma promessa, ele deveria executar o harakiri, ritual onde o guerreiro samurai cometia uma espécie de suicídio ritualizado. Outro item interessante da cultura samurai se refere à relação do guerreiro com sua espada, chamada katana. Os samurais acreditavam que a katana carregava a alma do guerreiro e, por isso, a mesma deveria ser preservada com o devido esmero.
Constituindo uma classe hereditária, os samurais só repassavam seus conhecimentos de luta e sua ética para seus descendentes. Dessa forma, a classe samurai era formada por diferentes clãs familiares. Quando um samurai não tinha um senhor a quem servir, era considerado um ronin. Sem a proteção de um proprietário de terras o ronin muitas vezes era forçado a praticar o banditismo ou vender sua espada em troca de dinheiro e comida.
Além das artes marciais, o samurai também era incentivado a prestigiar outros tipos de capacidade. Os arranjos florais, o teatro nô e a poesia poderiam ser praticados pela classe guerreira. No campo religioso, um verdadeiro samurai seria um fervoroso praticante do budismo. Desaparecendo junto com a desestruturação do mundo feudal japonês, os samurais conceberam importantes traços ainda presentes na cultura nipônica.
O caráter heróico do samurai ainda rende toda uma bibliografia de romances e contos descrevendo a era dos samurais. Muitas das artes marciais japonesas têm inspiração nas técnicas de luta desenvolvidas por essa classe guerreira. A presença dos valores da cultura samurai entre os japoneses é capaz de nos revelar as permanências de um povo, ao mesmo tempo, tão conhecido pela sua modernidade.
Por Rainer Sousa
Mestre em História