Condoreirismo

Condoreirismo é como ficou conhecida a terceira fase da poesia romântica brasileira. Situada entre 1870 e 1881, tal poesia fez parte de um período de transição entre romantismo e realismo. Dessa forma, apresenta a emotividade romântica, mas sem fuga da realidade. Os principais poetas condoreiros são Castro Alves, Sousândrade e Tobias Barreto.

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Leia também: Quais são as fases do romantismo no Brasil?

Resumo sobre condoreirismo

  • O condoreirismo é uma corrente literária da poesia romântica brasileira.

  • A poesia condoreira apresenta realismo social, sem abandonar a emotividade romântica.

  • Os principais autores do condoreirismo são Castro Alves e Sousândrade.

  • As principais obras condoreiras são os livros Os escravos e O guesa errante.

Videoaula sobre o condoreirismo ou terceira fase da poesia romântica

O que é condoreirismo?

Condoreirismo é uma corrente literária do romantismo brasileiro, também conhecida como terceira fase romântica. A geração condoreira esteve em evidência entre os anos de 1870 a 1881 e produziu obras de caráter pré-realista, ou seja, de transição entre romantismo e realismo. Isso porque suas obras apresentam realismo social e menor idealização, mas sem abandonar o sentimentalismo romântico.

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Características do condoreirismo

São características da poesia condoreira:

  • crítica social;

  • traços realistas;

  • menor idealização;

  • sentimentalismo;

  • valorização das emoções;

  • recorrência de exclamações;

  • imagens hiperbólicas;

  • caráter abolicionista;

  • uso de vocativos;

  • enaltecimento da liberdade.

Assim, a poesia condoreira mostra a realidade, mas utiliza a emoção para despertar a consciência do leitor, como vemos na reação do eu lírico diante da existência de navios negreiros:

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus,

Se eu deliro... ou se é verdade

Tanto horror perante os céus?!...

Ó mar, por que não apagas

Co’a esponja de tuas vagas

Do teu manto este borrão?

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!...

CASTRO ALVES. O navio negreiro. In: CASTRO ALVES. Os escravos. Rio de Janeiro: Tipografia da Escola de Serafim José Alves, 1884.

Por que o nome “condoreirismo”?

O termo “condoreirismo” advém da palavra “condor”, a qual se refere a uma ave típica da Cordilheira dos Andes, ou seja, típica da América. Inspirados no escritor romântico francês Victor Hugo (1802-1885), que escolheu a águia como símbolo de liberdade, os escritores românticos brasileiros elegeram o condor para simbolizar tal sentimento no Brasil.

Condor voando no céu — a ave é o símbolo do condoreirismo. [imagem_principal]
Para os autores românticos brasileiros, o condor é o símbolo da liberdade.

Autores do Condoreirismo

Castro Alves, um dos principais autores do condoreirismo.
Castro Alves, um dos principais autores do condoreirismo.

Obras do condoreirismo

  • Os escravos (1883), de Castro Alves.

  • Espumas flutuantes (1870), de Castro Alves.

  • O guesa errante (1884), de Sousândrade.

  • Dias e noites (1881), de Tobias Barreto.

Contexto histórico do condoreirismo

O condoreirismo surgiu no final do Segundo Reinado (1840-1889). A regência de D. Pedro II (1825-1891) foi marcada por acontecimentos históricos importantes, como a Lei Eusébio de Queirós (1850), a Guerra do Paraguai (1864-1870) e a Lei do Ventre Livre (1871).

A Eusébio de Queirós proibia o tráfico negreiro, apesar de ele continuar, como denuncia o famoso poema O navio de negreiro, de Castro Alves, escrito em 1868. Já a Lei do Ventre Livre tornava livre os filhos de escravizadas nascidos a partir da data de promulgação. Por fim, a Guerra do Paraguai gerou endividamento ao país e foi um dos fatos responsáveis pelo enfraquecimento da monarquia.

Tal realidade levou os poetas românticos a optarem pela crítica social e a abandonarem a fuga da realidade tão característica do romantismo. E uma das principais temáticas do condoreirismo foi a escravidão, condenada pelos autores da poesia romântica brasileira da terceira geração.

Leia também: Ultrarromantismo — a segunda fase do romantismo no Brasil

Exercícios sobre Condoreirismo

Questão 1

Tragédia no lar

Leitor, se não tens desprezo
De vir descer às senzalas,
Trocar tapetes e salas
Por um alcouce cruel,
Que o teu vestido bordado
Vem comigo, mas... cuidado...
Não fique no chão manchado,
No chão do imundo bordel.

Não venhas tu que achas triste
Às vezes a própria festa.
Tu, grande, que nunca ouviste
Senão gemidos da orquestra
Por que despertar tu’alma,
Em sedas adormecida,
Esta excrescência da vida
Que ocultas com tanto esmero?

E o coração — tredo lodo,
Fezes d’ânfora doirada
Negra serpe, que enraivada,
Morde a cauda, morde o dorso
E sangra às vezes piedade,
E sangra às vezes remorso?...

Não venham esses que negam
A esmola ao leproso, ao pobre.
A luva branca do nobre
Oh! senhores, não mancheis...
Os pés lá pisam em lama,
Porém as frontes são puras
Mas vós nas faces impuras
Tendes lodo, e pus nos pés.

Porém vós, que no lixo do oceano
A pérola de luz ides buscar,
Mergulhadores deste pego insano
Da sociedade, deste tredo mar.
Vinde ver como rasgam-se as entranhas
De uma raça de novos Prometeus,
Ai! vamos ver guilhotinadas almas
Da senzala nos vivos mausoléus.
[...]

CASTRO ALVES. Os escravos. Rio de Janeiro: Tipografia da Escola de Serafim José Alves, 1884.

No fragmento do poema Tragédia no lar, o eu lírico

A) com tom irônico, deixa transparecer crítica à escravidão.

B) com tom descuidado, deixa transparecer seu desprezo pelas pessoas escravizadas.

C) com tom circunspecto, enaltece o leitor pela sua compaixão pelos que sofrem.

D) com tom emotivo, expressa sombrios sentimentos de amor não correspondido.

E) com tom zombeteiro, ameniza seus constantes sofrimentos.

Resolução:

Alternativa A.

No fragmento, o eu lírico deixa transparecer uma crítica à escravidão ao convidar o leitor para ir até a senzala, onde “rasgam-se as entranhas/ De uma raça de novos Prometeus”. Sua ironia é mordaz ao dizer: “Não venham esses que negam/ A esmola ao leproso, ao pobre./ A luva branca do nobre/ Oh! senhores, não mancheis...”. Assim, sugere que certas pessoas se preocupam mais em não manchar a luva branca do que se conscientizar acerca dos horrores da escravidão.

Questão 2

Analise estas afirmações:

I- É uma característica do condoreirismo a temática social.

II- Poetas condoreiros pertencem à segunda geração romântica.

III- O romance condoreiro é pré-realista e regionalista.

Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s):

A) I.

B) II.

C) III.

D) I e II.

E) II e III.

Resolução:

Alternativa A.

Poetas condoreiros pertencem à terceira geração romântica, que produziu poesias e não romances.

Fontes:

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.

LEMOS, Wagner. Sergipe entre Literatura & História: coletânea de artigos. Aracaju: SEDUC, 2021.

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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