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George Orwell

George Orwell, escritor nascido em uma colônia inglesa na Índia, é considerado um dos mais importantes romancistas da vertente distópica da literatura mundial, caracterizada pela narração de enredos em que os personagens vivenciam situações em espaço e tempo futuros, nos quais não há possibilidade para a utopia, ou seja, para o sonho e para a esperança.

Nessa linha, destacam-se suas duas obras-primas, traduzidas para vários idiomas e transpostas para as telas do cinema mais de uma vez: o romance A revolução dos bichos, publicado em 1945, e o romance 1984, publicado em 1949.

Com um senso crítico aguçado, atento ao contexto histórico-social em que vivia, Orwell construiu uma obra em que questionou as estruturas de poder, ligadas à ideologia de direita ou à de esquerda, as quais polarizavam as tendências políticas na segunda metade do século XX. Essa postura fez com que o autor não fosse enquadrado meramente como um “escritor de esquerda” ou como um “escritor de direita”.

Leia também: Realismo mágico – vertente literária caracterizada pelo uso constante de símbolos e metáforas

Biografia de George Orwell

Permeada por uma criticidade aguçada, a obra de George Orwell mantém-se atual ao denunciar o autoritarismo de qualquer viés ideológico.
Permeada por uma criticidade aguçada, a obra de George Orwell mantém-se atual ao denunciar o autoritarismo de qualquer viés ideológico.

George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, nasceu em 25 de junho de 1903, na cidade de Motihari, na Índia, que vivia sob o domínio da colonização inglesa. Filho de um oficial britânico da Coroa inglesa e de uma mãe de origem francesa, em 1904, ele, quando tinha um ano de idade, e sua família mudaram-se para Shiplake, nos arredores da cidadezinha de Henley-on-Thames, no interior de Oxfordshire, entre Oxford e Londres.

Nessa localidade, ingressou em um internato preparatório onde se destacou dos demais colegas de classe por sua refinada inteligência, o que lhe garantiu uma bolsa de estudos em um importante colégio na Inglaterra, o Eton College, onde estudou de 1917 a 1921.

Nessa instituição escolar, teve o privilégio de ser aluno do escritor Aldous Huxley (1894-1963), autor do romance distópico Admirável mundo novo, publicado em 1932. Em 1922, começou a trabalhar na Polícia Imperial Indiana, em Myanmar.

Em 1927, deixou esse emprego para dedicar-se à carreira de escritor na Inglaterra. Na capital inglesa, vivenciou um cotidiano de privações econômicas em pensões humildes. Contudo, essa experiência em meio à vida pobre não foi resultado de adversidades econômicas, mas antes uma opção, já que Orwell objetivava seu amadurecimento pessoal, intelectual e artístico, o que, segundo ele, poderia ser atingido ao sair de sua zona de conforto.

Dando prosseguimento a esse projeto, em 1928, o autor foi para Paris, onde viveu e escreveu durante mais de um ano, exercendo também a função de lavar pratos em um hotel de luxo.

Orwell não chegou a graduar-se, mas trabalhou na Polícia Imperial Indiana, além de ter exercido a função de jornalista, de crítico literário e, principalmente, de romancista, tendo ganhado destaque mundial como um dos mais influentes escritores do século XX. Orwell morreu em Londres, de tuberculose, aos 46 anos de idade

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Características das obras de George Orwell

  • Narração de enredos distópicos, ou seja, nos quais as ações transcorrem em futuros distantes, em que não há espaço para o sonho, para a utopia;
  • Caracterização psicológica dos personagens;
  • Linguagem tendendo à objetividade;
  • Tom melancólico;
  • Finais trágicos, sem que haja possibilidade de resolução dos problemas vivenciados pelos protagonistas;
  • Crítica à alienação e ao autoritarismo;
  • Uso de alegorias e metáforas;
  • Traços que lembram as obras de ficção científica.

Veja também: Gabriel García Márquez – autor de enredos que mesclam o insólito e o cotidiano

Posições ideológicas de George Orwell

George Orwell, muito antenado ao contexto político e histórico que o cercava na Europa do século XX, foi crítico tanto do nazismo alemão quanto do comunismo da União Soviética, sendo, inclusive, um dos primeiros intelectuais a prever o fim desse regime. Orwell também se posicionou criticamente em relação ao movimento de não violência, liderado por Mahatma Gandhi, em prol da luta pela independência da Índia.

Segundo o autor de A revolução dos bichos, a estratégia de resistência não violenta de Gandhi poderia funcionar em países com uma imprensa livre e o direito de reunião que possibilitassem “não apenas apelar à opinião pública externa, mas atrair uma massa de pessoas para o movimento, ou mesmo para tornar suas intenções conhecidas pelo adversário”.

Como esse contexto ideal não condizia com a realidade indiana, Orwell não acreditava que as ações pacifistas de Gandhi pudessem ter sucesso, pensamento que destoava da maioria dos analistas políticos da época.

Traduzido para diversos idiomas, George Orwell foi homenageado em um selo da República Tcheca.  [1]
Traduzido para diversos idiomas, George Orwell foi homenageado em um selo da República Tcheca.  [1]

Principais obras de George Orwell

  • Na pior em Paris e Londres (1933) — memórias
  • Dias na Birmânia (1934) — romance
  • A filha do reverendo (1935) — romance
  • Mantenha o sistema (1936) — romance
  • A caminho de Wigan (1937) — memória
  • Lutando na Espanha (1938) — memórias
  • Um pouco de ar, por favor! (1939) — romance
  • A revolução dos bichos (1945) ou A fazenda dos bichos (recente tradução brasileira) — romance
  • 1984 (1949) — romance

A revolução dos bichos

O Sr. Jones, dono da Granja do Solar, fechou o galinheiro para a noite, mas estava bêbado demais para lembrar-se de fechar também as vigias. Com o facho de luz da sua lanterna balançando de um lado para o outro, atravessou cambaleante o pátio, tirou as botas na porta dos fundos, tomou um último copo de cerveja do barril da copa e foi para a cama, onde sua mulher já ressonava.

Tão logo apagou-se a luz do quarto, houve um silencioso movimento em todos os galpões da granja. Correra, durante o dia, o boato de que o velho Major, um porco que já fora premiado numa exposição, tivera um sonho muito estranho na noite anterior e desejava contá-lo aos outros animais. Haviam combinado encontrar-se no celeiro, assim que Jones se deitasse.

O velho Major (chamavam-no assim, muito embora ele houvesse concorrido na exposição com o nome de "Belo de Willingdon") gozava de tão alto conceito na granja que todos estavam dispostos a perder uma hora de sono só para ouvi-lo.

[...]

Todos os animais estavam presentes, exceto Moisés, o corvo domesticado, que dormia fora, num poleiro junto à porta dos fundos. Quando o Major os viu, bem acomodados e aguardando atentamente, limpou a garganta e começou:

— Camaradas, já ouvistes, por certo, algo a respeito do estranho sonho que tive na noite passada. Mas falarei do sonho mais tarde. Antes, tenho outras coisas a dizer. Sei, camaradas, que não estarei convosco por muito mais tempo e, antes de morrer, considero uma obrigação transmitir-vos o que aprendi sobre o mundo. Já vivi bastante e muito tenho refletido na solidão da minha pocilga. Creio poder afirmar que compreendo a natureza da vida sobre esta terra tão bem quanto qualquer outro animal vivente. É sobre o que desejo vos falar.

Então, camaradas, qual é a natureza desta nossa vida? Enfrentemos a realidade: nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo alimento necessário para continuar respirando, e os que podem trabalhar são exigidos até a última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade.

Nenhum animal, na Inglaterra, sabe o que é felicidade ou lazer, após completar um ano de vida. Nenhum animal, na Inglaterra, é livre. A vida do animal é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade, nua e crua […].

(A Revolução dos bichos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007) 

Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945, a obra narra a revolta dos animais de uma fazenda contra seus donos, como se percebe nesse trecho, momento em que o porco Major procura convencer os demais animais a rebelarem-se.

No entanto, progressivamente, a revolução, que, em seu início, objetivava o fim da opressão, torna-se mais tirânica do que a promovida pelos humanos. Esse enredo, grande alegoria do que acontecia na segunda metade do século XX, é uma forte crítica ao regime implementado na antiga União Soviética.

Acesse também: Hannah Arendt – filósofa cuja pesquisa abordou o fenômeno do totalitarismo

Frases de George Orwell

  • “A massa mantém a marca, a marca mantém a mídia, e a mídia controla a massa.”
  • “A história é escrita pelos vencedores.”
  • “Em tempos de engano universal, falar a verdade torna-se um ato revolucionário.”
  • “Quando se ama alguém, ama-se, e quando não se tem nada mais para lhe dar, ainda se lhe dá amor.”
  • “Quem controla o passado controla o futuro. Quem controla o presente controla o passado.”
  • “Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir.”
  • “A linguagem política dissimula para fazer as mentiras soarem verdadeiras e para dar aparência consistente ao puro vento.”
  • “Os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais que outros.”
  • “Ver aquilo que temos diante do nariz requer uma luta constante.”
  • Retire-se da cena o homem e a causa principal da fome e da sobrecarga de trabalho desaparecerá para sempre.

Crédito da imagem

[1] Olga Popova / Shutterstock 

Publicado por Leandro Guimarães
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